4 campos de futebol por dia: garimpo avança em Terras Indígenas

Greenpeace - https://www.greenpeace.org/brasil/blog - 11/03/2024
4 campos de futebol por dia: garimpo avança em Terras Indígenas

Greenpeace Brasil
11 de março de 2024

Levantamento inédito do Greenpeace mostra novas áreas invadidas pelo garimpo em 2023 nos territórios Kayapó, Munduruku e Yanomami
Overflight on Munduruku and Kayapó Territories in Pará, Brazil. © Christian Braga / Greenpeace
Garimpo ilegal na Terra Indígena Munduruku em março de 2023
© Christian Braga / Greenpeace

Crime em expansão. Em 2023, o garimpo devastou 1.410 hectares nas Terras Indígenas (TIs) dos povos Kayapó, Munduruku e Yanomami, o equivalente à abertura de quatro campos de futebol por dia, aponta levantamento exclusivo do Greenpeace Brasil divulgado nesta segunda-feira (11). São muitas as áreas afetadas e poucas as ações para interromper essa destruição.

Os dados comprovam que os esforços de combate e fiscalização estão sendo insuficientes, o que exige medidas urgentes e direcionadas. As TIs Kayapó, Munduruku e Yanomami, respectivamente, são as mais afetadas pela expansão garimpeira - de acordo com um estudo do Inpe, esses três territórios concentram 95% da mineração ilegal em TIs.

"Cada hora que passa com os garimpeiros dentro dos territórios indígenas significa mais pessoas ameaçadas, uma porção de rio destruído e mais biodiversidade perdida. Precisamos, pra já, de uma Amazônia livre de garimpo", afirma o porta-voz do Greenpeace Brasil, Jorge Eduardo Dantas.

Dados alarmantes e inéditos

Atualmente, na somatória total, o garimpo ilegal já devastou mais de 26 mil hectares dos territórios demarcadados dos povos Kayapó, Munduruku e Yanomami, uma área maior do que a cidade do Recife.

"Temos lido e ouvido bastante sobre os esforços do governo para combater o garimpo ilegal na TI Yanomami, em Roraima. Porém, precisamos lembrar que os territórios dos povos Kayapó e Munduruku, no Pará, têm sido muito prejudicados e é preciso reforçar as operações e trabalhos de fiscalização por ali também. Não basta só a vontade política", conclui Dantas.
Terras Indígenas (TIs) Áreas invadidas pelo garimpo somente em 2023 Acumulado de áreas invadidas pelo garimpo
Kayapó 1.019 ha 15.430 ha
Munduruku 152 ha 7.094 ha
Yanomami 238,9 ha 3.892 ha
Total 1.409,9 ha 26.416 ha

Importante frisar que todo garimpo em território indígena é ilegal no Brasil, já que a mineração nesses territórios é proibida por lei. No entanto, esse crime voltou a aumentar a partir de 2018 e continua avançando sobre TIs de forma organizada, com estrutura, logística e usando maquinário pesado estimado em milhões de reais.

Vidas, florestas e rios em risco

O garimpo causa graves danos ao meio ambiente e coloca em risco não só os povos originários, mas também toda a população, pois gera uma série de impactos negativos, como:

Violência contra os povos indígenas, com assassinatos, ameaças e aliciamentos;
Contaminação dos rios por mercúrio, afetando a saúde de pessoas e animais;
Desmatamento e perda de biodiversidade, dificultando combate à crise climática e proteção da Amazônia;
Degradação cultural e social das comunidades indígenas e populações tradicionais;
Abertura para que o narcotráfico adentre Terras Indígenas.

Só nos últimos dois anos, o garimpo nos rios do povo Munduruku devastou uma área superior a 580 campos de futebol (padrão FIFA), conforme mostram dados exclusivos do Greenpeace. O mais impactado é o Rio Cabitutu.

"As atividades do garimpo continuam. Esses dias vimos duas balsas no Cabitutu, e em outros rios também. É um grande desafio que nós temos", conta o líder Munduruku, Ademir Kabá.
Rios na TI Munduruku Áreas de garimpo por rio em 2022 e 2023
Rio Cabitutu 264,2 ha
Rio das Tropas 219,4 ha
Rio Marupá (bacia do Rio Crepori) 55,1 ha
Igarapé Mutum 43,6 ha
Rio Cadiriri 43,6 ha
Total 582,7 ha

Aliança contra garimpo em TIs

Em busca de soluções, as lideranças dos três povos - Kayapó, Munduruku e Yanomami - formaram a Aliança em Defesa dos Territórios, que trabalha fazendo incidência junto a autoridades.

Diante da gravidade, é crucial que o governo federal invista em mais medidas contra o garimpo nas Terras Indígenas, bem como em toda a Amazônia, que abriga mais de 90% da mineração ilegal no país.

A sociedade civil também tem responsabilidade. É nosso papel mobilizar e pressionar por ações concretas. Somente com um esforço conjunto e uma resposta firme do Estado será possível superar o garimpo ilegal.

Junte-se à causa!
Assine e divulgue a petição "Amazônia Livre de Garimpo".

Confira o levantamento:

Garimpo na Terra Indígena Kayapó

A situação é pior na TI Kayapó, onde o garimpo devastou novas áreas somando 1.019 hectares no ano passado. No acumulado até dezembro de 2023, o território tem mais de 15,4 mil hectares de garimpo. Pelas imagens de satélite, também é possível ver que a atividade ilegal está concentrada na parte Leste e Nordeste da TI e sobreposta a pelo menos quatro aldeias do povo Kayapó.

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Garimpo na Terra Indígena Munduruku

O território dos Munduruku é o segundo mais invadido - garimpos estão perto de pelo menos 15 aldeias e, até dezembro de 2023, a área total garimpada somava 7.094 hectares. A situação é alarmante inclusive nos rios que cortam o território.

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Garimpo na Terra Indígena Yanomami

Ao todo, 3.892 ha já foram devastados por garimpeiros até 2023 na TI Yanomami - é o terceiro território indígena mais invadido. Os dados mostram que, no ano passado, a abertura de novas áreas de garimpo teve um pico em janeiro, seguida por uma queda drástica em fevereiro, logo após o governo federal decretar situação de emergência nacional no território. Em março e outubro houveram novos auges de expansão garimpeira.

Recentemente, a Aliança em Defesa dos Povos publicou uma nota técnica sobre a continuidade da presença dos garimpeiros ilegais dentro da TI Yanomami mesmo após a intervenção federal na região.

https://www.greenpeace.org/brasil/blog/4-campos-de-futebol-por-dia-garimpo-avanca-em-terras-indigenas/

Garimpo:Amazônia

Related Protected Areas:

  • TI Kayapó
  • TI Mundurucu
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