No dia do Índio, Xetá pede para o homem branco ser mais humano

Ilustrado (Umuarama - PR) - www.ilustrado.com.br - 19/04/2015
Umuarama - Cansada de promessas e muito discurso eleitoreiro, uma das últimas remanescentes da etnia Xetá - grupo de Índios que povoava o Noroeste do Paraná - Maria Rosa Brasil Tiguá, de 64 anos, não tem o que comemorar hoje no Dia do Índio. Órfã não só dos pais, mas de toda sua cultura que foi mutilada pelos grandes donos de terras, a Xetá só pede uma coisa nesta data: "Para o branco ser mais humano".
Entregue ao tio depois que o pai Raicobai e a mãe Nhatie morreram, Tiguá (menina em Xetá) foi tirada da mata quando tinha seis anos, por Antônio Lustosa de Freitas, que chegou à região de Serra dos Dourados entre 1952/1953 para cuidar de uma área de florestas a pedido de seu tio, o deputado Antônio Lustosa de Oliveira, o qual tinha 2.000 alqueires de terra adquiridos por meio de permuta feita com o Governo do Estado. Pelo feito, Freitas recebeu 55 alqueires de seu tio, que mais tarde denominou-se a "Fazenda Santa Rosa", onde Tiguá passou sua infância.

Hoje mãe de duas filhas, Maria Rosa é uma dos seis Xetá que restam dos mais de 200 que viviam na região de Serra dos Dourados. Mas, a entrevistada conta que os filhos e netos de hoje também se consideram da etnia e ai este número salta para aproximadamente 100 desentendes dos Xetá espalhados pelo Brasil.

Simpática e acolhedora, Tiguá disse à reportagem que não teve estudo e para sobreviver trabalha passando roupa para outras pessoas na cidade de Douradina, aonde reside atualmente. O dinheiro serve para pagar conta de água, luz e complementar a cesta básica que recebe da prefeitura. "Trabalho para poder comprar as coisas para mim. Recebo cesta básica, mas é muito pouco, vem arroz, feijão, café, macarrão batatinha, bolacha e cebola. Para o resto preciso me virar, por isso todo dia vou passar roupa", disse.

Sem carteira assinada ao longo da vida, Maria não conseguiu se aposentar, mas espera que agora, quando completar 65 anos a aposentadoria venha. "Não tenho aposentadoria, já me enrolaram muito com esse negócio, muitas pessoas prometeram, mas nada até hoje. Dizem que agora vai, uma vez que em setembro faço 65 anos", explicou.

Além do sonho de conseguir sua aposentadoria, neste Dia do Índio, Tiguá da um recado e pede para o homem branco ser mais humano. "Esse negócio de entregar a terra para o índio, uns dizem que temos direito, outros diz que não. Isso deixa a gente confuso. Mas o índio quando perde um causa, nunca mata ninguém temos respeito, mas o branco mata ou manda matar. Por isso penso que o branco precisa ter um coração mais bom, não ser tão cruel. Dizem que somos selvagens, mas não somos ignorantes" desabafou.


Memórias


Maria Rosa Brasil Tiguá conta que era muito pequena quando foi tirada da mata e nem teve tempo de aprender a cultura do seu povo. O pouco que sobrou com sigo foi a língua e por essa comunicação seus primos, que já morreram, contavam histórias da tribo. "Algo que esquecia eles me lembravam. Sei que gostávamos muito de caçar, pegar fruta. Os Xetá não gostavam muito de pescar. Eramos donos de tudo aqui e hoje não sobrou nada para gente", falou.


Demarcação de terra


No mês de junho de 2014, a presidenta da Funai, Guta Assirati, aprovou a demarcação da Terra Indígena Herarekã Xetá, com quase 3 mi hectares no município de Ivaté, A aprovação do relatório circunstanciado foi publicada no Diário Oficial do União da, 30 de junho. A situação vem gerando grande polémica entre políticos, produtores rurais e índios há vários anos. Porém, até o momento nenhum novo capítulo desta história se escreveu nos últimos meses e os índios continuam sem uma definição a mais de 65 anos.

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PIB:Sul

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