Em meio a polêmica, obras de Belo Monte seguem em ritmo lento

Valor Econômico, Especial/Energia, p. F6 - 28/08/2015
Em meio a polêmica, obras de Belo Monte seguem em ritmo lento

Paulo Vasconcellos

A Usina Hidrelétrica de Belo Monte está sendo construída na bacia do Rio Xingu, próximo ao município de Altamira, no norte do Pará. Sua potência instalada será de 11.233 MW, mas, por operar com reservatório reduzido, no período de estiagem (seis meses), deverá gerar, em média, 4.428 MW. A energia de Belo Monte vai atender 10% do consumo nacional em 18 milhões de residências - uma população estimada de 60 milhões de pessoas - de 17 estados. O Estado mais beneficiado será São Paulo com 29,22% da energia comercializada pela usina. Em potência instalada, Belo Monte será a terceira maior do mundo, atrás apenas da chinesa Três Gargantas (20 300 MW) e da binacional Itaipu (14 000 MW). Será a maior usina hidrelétrica inteiramente brasileira. Os 11 mil MW são suficientes para abastecer duas cidades como São Paulo todos os dias. A primeira turbina, das 18 previstas, entrará em operação em março de 2016.
A hidrelétrica terá dois lagos: os reservatórios do Xingu e dos Canais, que vão ocupar uma área de 516 km². O custo da obra foi estimado em R$ 26 bilhões, ou seja R$ 5,7 milhões por MW efetivo. Em abril de 2014, última atualização realizada pela Norte Energia, o total do investimento para Belo Monte teria alcançado R$ 32,1 bilhões. O leilão para construção e operação da usina foi realizado em abril de 2010 e vencido pelo Consórcio Norte Energia com lance de R$ 77,00 por MWh.
O contrato de concessão foi assinado em 26 de agosto daquele ano e o de obras civis em 18 de fevereiro de 2011. Com cinco pontos de construção, a usina terá um reservatório principal, canal de derivação, vertedouro complementar e casa de força.
As obras geraram cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos.
Enquanto o governo afirma que ela é essencial para garantir o fornecimento de energia para o país, ambientalistas denunciam impactos socioambientais. Entre os argumentos estão o desmatamento da Amazônia e o deslocamento de mais de 20 mil pessoas. As análises sobre o Estudo de Impacto Ambiental de Belo Monte feitas pelo Painel de Especialistas afirmam que a construção da hidrelétrica vai implicar um caos social que seria causado pela migração de mais de 100 mil pessoas para a região.
A obra poderia inundar os igarapés Altamira e Ambé, que cortam Altamira, e parte da área rural de Vitória do Xingu. A vazão da água à jusante do barramento do rio, em Volta Grande do Xingu, seria reduzida e o transporte fluvial até o Rio Bacajá, um dos afluentes da margem direita do Xingu, interrompido. Este é o único meio de transporte para comunidades ribeirinhas e indígenas chegarem à Altamira. Com a construção da barragem principal, a calha do rio seria alargada. A partir do bloqueio, as águas serão desviadas para um canal. Com 130 metros de largura, 20 quilômetros de extensão e 27 metros de profundidade, o canal vai alterar o leito original do rio. Sua função é levar a água para a casa de força principal, onde ficam as turbinas da usina.
Os defensores da obra rebatem. Nenhuma terra indígena em toda área de influência da usina seria inundada e nenhum índio seria deslocado. O programa de compensações, previsto no Estudo de Impacto Ambiental, prevê a capacitação dos índios para atividades econômicas sustentáveis, apoio à educação formal, com a capacitação de professores indígenas, e melhorias nas habitações da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu e da área indígena Juruna. A possibilidade de a usina parar quando a vazão do rio estiver baixa também é descartada. As contrapartidas socioambientais já estariam contribuindo para reverter as carências básicas de Altamira e dos municípios do entorno. Em três anos, os casos de malária teriam sido reduzidos em 85%. Já foram construídas e equipadas 27 Unidades Básicas de Saúde.

Valor Econômico, 28/08/2015, Especial/Energia, p. F6

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