O nome dele é difícil de pronunciar, mas tem um belo significado. Tserenhinhowa Tsiruipi Auwe, 25 anos, é da etnia xavante e conta que seu nome que dizer "homem sincero".
Técnico de enfermagem por formação, ele agora sonha cursar medicina para continuar ajudando seu povo a ter melhores condições de saúde. A seguir, leia o relato desse indígena que vive na aldeia Darcy Bethania, no coração do Mato Grosso.
"Nós, indígenas, dependemos do rio para sobreviver. Não podemos morar longe de rio. Chamamos o rio de mãe, porque ele nos dá a vida. O rio aqui da nossa aldeia Darcy Bethania (MT) chega a uns 10 metros de profundidade, mas tem épocas do ano em que fica baixo, bem raso.
As crianças vão em grupo para o rio todos os dias. Não tem hora, vão quando querem. Elas brincam, pulam, gritam. As menores aprendem com as maiores, não tem adulto por perto. Elas conhecem a profundidade e sabem que não podem se jogar onde é perigoso.
Até pouco tempo, a gente bebia a água do rio. Mas conseguimos que o governo construísse um poço há sete meses. Agora só usamos o rio para tomar banho e lavar roupa.
A infância aqui na aldeia é comum. As crianças brincam de esconde-esconde, nadam no rio, sobem em árvore, brincam com os animais...
Quando os meninos fazem 12 anos, eles saem da casa dos pais e passam a viver em uma casa com outros rapazes, até os 15 anos, dentro da própria aldeia. É uma tradição dos xavantes. Durante esse período, não pode ter contato com as meninas. Eles ficam quase que o tempo todo dentro da casa. É um ritual de passagem para a vida adulta, para se tornarem homens.
Cada menino tem um padrinho que já é mais velho e ensina o que eles precisam aprender, como fazer artesanatos, construir casa, caçar... Quando o adolescente completa 15 anos, acontece o ritual de furar as orelhas com um pedacinho de madeira. Depois disso, ele está livre para voltar a viver com o restante da comunidade.
As meninas adolescentes não precisam sair de casa como os meninos. Aos 12 anos, elas começam a ajudar as mães com as tarefas em casa e aprendem a cozinhar e a fazer artesanatos.
Aqui, na nossa aldeia, o principal alimento é a mandioca. Depois que colhe, ela é ralada para tirar o líquido. E alguns bebem esse líquido. Depois tem que deixar a mandioca secar, para fazer a farinha, que vira tapioca. Frutas temos apenas mamão, abacaxi e banana, que plantamos na roça.
Eu me formei técnico em enfermagem para ajudar a pessoas da minha comunidade. Há um mês, passei num concurso público e agora trabalho como técnico de enfermagem no único posto de saúde indígena que existe próximo da minha aldeia. Lá tem um ambulatório, que é onde eu fico; tem a sala de dentista, toda equipada - só que o dentista não gostou do trabalho e largou o emprego faz um tempo -; tem também a sala do médico e uma sala onde guardamos os remédios. Tem xarope para tosse, diarreia, antibiótico, pomada para micose...
A equipe tem enfermeiro, técnicos como eu e um médico cubano. Nosso esquema de trabalho é 20 dias na aldeia e 10 dias livre. Durante esses 20 dias, a equipe visita as comunidades, vacina as crianças e fica de plantão no posto de saúde, para quem precisar. De noite, dorme em um alojamento ao lado do posto. Em média, por dia, fazemos uns 20 atendimentos.
Há pouco tempo, de madrugada, socorremos um menino de 6 anos, que estava sentindo fortes dores no peito. O pai dele levou ele no posto, achando que era algum problema de coração. Mas, na verdade, eram vermes que estavam causando aquela dor. Nós medicamos e demos antivermífugo.
Agora, estou estudando para passar no vestibular de medicina. Depois que eu me formar médico, quero voltar para a minha aldeia, para ajudar o meu povo."
Tserenhinhowa Tsiruipi Auwe recebeu gentilmente a repórter e o fotógrafo em sua aldeia e concedeu essa entrevista enquanto mostrava seu trabalho na região
http://revistacrescer.globo.com/A-mortalidade-das-criancas-indigenas/noticia/2015/11/infancia-aqui-e-comum-criancas-brincam-de-esconde-esconde-nadam-no-rio.html
PIB:Leste do Mato Grosso
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