A audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa no município de Barra do Bugres, nesta segunda-feira (6), fortaleceu a população indígena no estado de Mato Grosso, principalmente com a criação da Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso, que elegeu como presidente Bemoro Metukiri, neto do cacique Raoni, da etnia Caiapó. Realizado na aldeia Umutina, por requerimento do deputado Wilson Santos (PSDB), o evento teve como tema de discussão o processo de demarcação e ampliação de reservas indígenas em território mato-grossense.
Paralelamente a essa discussão, também foram debatidas questões relativas à educação, saúde, desenvolvimento sustentável e meio ambiente dos povos indígenas, aliás, as maiores reivindicações apresentadas ao parlamentar durante a audiência pública.
"Debatemos nesta audiência todas as reivindicações indígenas que serão levadas até o governador Pedro Taques, com o propósito de buscar alternativas para melhorar as condições de vida dessas etnias, por meio de saúde, educação e infraestrutura", afirmou Wilson Santos.
Para o deputado, a audiência foi um encontro histórico, com a unificação de todas as etnias, que se deu com a criação da Federação dos Povos Indígenas. "Atualmente, esses povos têm mais pontos convergentes do que soluções. Essa federação vai colaborar diretamente para melhorias toda a infraestrutura de que necessitam", disse.
Contando com representantes das 43 etnias mato-grossenses, a Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso tem como presidente o neto do cacique Raoni, Bemoro Metukiri, eleito para um mandato de três anos.
"Estaremos discutindo os problemas das nossas tribos para levarmos até o governador, com o objetivo de melhorar nossas condições de vida, como, por exemplo, a demarcação definitiva de nossas terras", disse Metukiri.
O cacique da etnia Umutina, Lucimar Kalomizoré, lembrou que as etnias precisam de mais recursos nas áreas de saúde e, principalmente, educação. "Ainda sofremos muito com a falta de profissionais na educação e na área de atendimento médico. Temos poucos professores universitários que falam as línguas indígena e portuguesa. A cultura indígena necessita de mais espaços", apontou.
Ele destacou as lutas contra os bandeirantes e contra as epidemias. "Temos que aproveitar essa inédita oportunidade de receber todas as etnias mato-grossenses para levar nossas reivindicações, por intermédio do deputado Wilson Santos, para o governador", relatou o cacique.
Já o cacique da aldeia Wazare, da etnia Pareci, Roni Pareci, afirmou que a audiência chegou num momento oportuno para discutir os problemas indígenas. "Precisamos criar mecanismos para direcionar o povo indígena na sociedade, com mais geração de renda", destacou.
Para o coordenador do evento, Felisberto de Souza Cupudunepá, a iniciativa da ALMT é um marco histórico para a população Umutina. "É a primeira vez que a Assembleia realiza um evento desse porte, propondo ouvir os povos indígenas de todas as partes. Faltam políticas públicas voltadas para os índios", declarou.
Reivindicações índígenas
A aldeia Umutina conta com cerca de 650 índios que residem no local e vivem de pesca e caça. Na área, existe a escola estadual de educação indígena "Julá Paré", com 250 alunos matriculados no ensino fundamental e médio. Conta ainda com um posto de atendimento médico e uma unidade da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Totalizando 64 escolas indígenas em Mato Grosso, os representantes dessas unidades encaminharam documento de reivindicação para o deputado Wilson Santos buscando melhorias na saúde, educação e segurança.
"Ainda falta muita coisa, mas vamos buscar recursos junto ao governo estadual para aumentar o número de professores indígenas, pela Unemat, campus de Barra do Bugres", garantiu Santos.
Também foi prometida a construção de uma ponte de madeira sobre o rio Paraguai, até a aldeia Umutina, evitando a travessia por balsa e canoas manuais.
"É uma antiga reivindicação dessa etnia e vamos batalhar para efetivar esse sonho, tornando mais rápido o acesso até a MT-246, com emendas parlamentares", afirmou o parlamentar.
Na oportunidade, o representante da etnia Xingu, Makupá Caiabi, falou que os índios enfrentam dificuldades diferentes e criticou a classe política, dizendo que os políticos brasileiros não entendem os problemas.
"Temo pelo futuro dos povos indígenas. Não precisam matar um ao outro por causa de um relógio ou de um simples sapato. Não temos o devido direito de usar a nossa própria terra, queremos, sim, ter o respeito de todos", apontou Caiabi, que ainda cobrou a construção de mais poços artesianos nas aldeias.
http://ns1.folhamax.com.br/cidades/audiencia-publica-debate-questoes-indigenas-em-barra-do-bugres/88279
PIB:Oeste do Mato Grosso
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