Um grupo de Krepym Katejê está há três dias em São Luís (MA) na porta da Secretaria Estadual de Educação tentando algo que se tornou comum aos povos indígenas do estado: uma reunião com o secretário Felipe Costa Camarão para que ele cumpra com os compromissos da Seduc com a Educação Escolar Indígena Diferenciada. "É um descaso tremendo a gente estar aqui tendo que mendigar algo que é de nosso direito. O secretário assinou compromisso com a gente, mas não tem palavra", desabafa Fábio Krepym Katejê. O indígena afirma que se Camarão não recebê-los, o grupo acampará na sede da Seduc.
Para as lideranças indígenas, o fim de um longo ciclo da família Sarney e seus aliados no Governo do Estado poderia significar, com Flavio Dino e uma coligação popular, mais atenção às questões indígenas. "Parece igual mesmo. O governo e o secretário dizem que dialogam com os povos, mas que diálogo é esse de deixar a gente com a cara na porta tendo nas mãos os compromissos por eles não atendidos?", diz o Krepym Katejê. O grupo que está em São Luís é da Terra Indígena Geralda do Toco Preto; lá existem duas aldeias: Sibirino e Toco Preto.
Existe uma escola em cada aldeia e uma média de 50 alunos e alunas entre ambas. Bilingues, os Krepym Katejê são falantes da língua Timbira - comum ao tronco linguistico Macro-Jê no Maranhão, com excessão dos Gamela. Em nenhum mês deste ano o dinheiro da Seduc para a merenda caiu na conta das escolas., conforme Fábio Krepym Katejê. No ano passado, o recurso chegou a cada três meses ou mais. "Estamos fazendo coleta na aldeia para garantir a merenda. Sem contar que a merenda quando chega vem abaixo da demanda, faltando comida", diz o indígena.
Na aldeia Sibirino, a escola tem apenas uma sala: nela amontoam-se alunos e alunas do primeiro ao quarto ano. Não há banheiro, cozinha, espaços pedagógicos ou salas de professores e direção. Na aldeia Toco Preto é um pouco melhor: tem uma sala a mais para as mesmas classes. "O secretário se comprometeu com a gente, assinando documento que escrevemos, em regularizar o envio do recurso da merenda e reformar as escolas com mais salas, espaços, enfim, com tudo que é preciso", reclama Fábio. O pagamento dos professores e professoras também estão atrasados.
Os Krepym Katejê reivindicam ainda o compromisso do governo de contratar seis professores para as classes de quinto ao nono ano, dois zeladores, duas merendeiras e toda sorte de equipamentos para as escolas: 80 carteiras escolares, bebedouros, panelas, pratos, lousas, freezers, ar-condicionado. "São pedidos para o funcionamento básico destas escolas. A demanda vem de alguns anos, não é nova. Estivemos reunidos com a Seduc, com o governo, com a Funai. Queremos que eles cumpram com o dever. Dinheiro de merenda não é carimbado? Cadê esse recurso?", enfatiza Fábio Krepym Katejê com grande indignação por aquilo que considera descaso, falta de palavra e compromisso do governo estadual com os povos indígenas.
Seduc não atendeu, MPF sim
Sem alternativa para sensibilizar Camarão, os Krepym Katejê se dirigiram ontem, dia 17, ao Ministério Público Federal (MPF) e denunciaram a postura do secretário. Argumentaram aos procuradores que no dia 10 de julho deste ano a Seduc se comprometeu com o povo a atender as demandas da Educação Escolar Indígena Diferenciada. Até o momento, porém, nada foi feito. Sobretudo no que tange o pagamento da merenda, que ainda não foi realizada conforme o calendário escolar do povo, além do pagamento dos professores e professoras.
"Acontece que decidimos que se o secretário não nos receber vamos acampar na Seduc. Não aceitamos um tratamento como pessoas de quinta categoria, que não merecem respeito, atenção, cuidados e detentoras de direitos. Ninguém nessa vida merece ser tratado assim", afirma Fábio Krepym Katejê. No MPF os indígenas aproveitaram ainda para solicitar aos procuradores ajuda para que a Secretária Especial de Saúde Indígena (Sesai) perfure um poço na aldeia - promessa também antiga - e que a Funai crie uma Coordenação Técnica Local (CTL) na Terra Indígena Geraldo do Toco Preto. "Temos uma situação lá muita invasão madeireira. Precisa de fiscalização e que a Funai nos apoie para criar uma Guarda Florestal e assim proteger as nossas matas", encerra o Krepym Katejê.
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PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins
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