Mesmo o Terminal de ônibus do Saco dos Limões, em Florianópolis, não ser um local adequado, indígenas que estiveram lá acampados desde 21 de janeiro vão embora nesta quarta-feira (19), por coincidência no Dia do Índio, sem nada a reclamar. Para o grupo, a maioria formada por caingangues do norte gaúcho, a temporada foi bastante proveitosa pelo lado financeiro e eles inclusive planejam voltar no ano que vem.
Das cerca de 40 famílias que chegaram a ocupar o Tisac logo após a decisão da Justiça Federal que os transferiu da Rodoviária Rita Maria, restam agora 26 índios. O prazo final para eles permanecerem no local era o último dia de março, mas o juiz Marcelo Krás Borges prorrogou a data para 20 de abril.
Durante a estadia no terminal, os índios receberam diversas doações de roupas e alimentos. Três barracas da Defesa Civil com capacidade para 40 pessoas cada foram erguidas na plataforma e acabaram cheias de peças de artesanato e balaios, vendidos em média por R$ 60. Aproveitaram a cozinha e os banheiros destinados aos funcionários das empresas de ônibus, num espaço que nunca funcionou como um terminal.
Foi no Tisac que a família de Adair Inácio, de 29 anos, adotou uma cadelinha vira-latas, a Menina. Adair, a esposa, Siméia Pedroso, e o filho, David Luiz, de 3 anos, vão levar a mascote para a aldeia Votouro, em Benjamin Constant do Sul, no RS, nesta quarta-feira.
- Faz três anos que viemos para cá. Deu para tirar uma grana boa. Nós estamos lutando para conseguir um lugar melhor no ano que vem, mas aqui é bom. Tem espaço para as crianças brincarem, é tranquilo, é seguro. O único problema é que quando chove entra um pouco de água nas barracas - relata Adair.
Já a índia Vandelci de Paula, de 48 anos, diz que não vai embora antes de vender todo o material que produziu. A barraca onde ela dorme está lotada de balaios de diversos tamanhos e cores. A gaúcha gosta mesmo de Florianópolis: já é sua sétima temporada seguida na Ilha. Mas conta que não tem muito tempo para aproveitar.
- Praia, só se for carregando balaio. Agora eu preciso que o tempo melhore um pouco para vender o que falta e depois vou embora - planeja Vandelci, que veio desde a aldeia Votouro com a filha de 33 anos e mais uma irmã e um sobrinho. O marido ficou em Benjamin Constant do Sul, onde cuida da roça. Lá, as famílias plantam milho, feijão e soja durante o resto do ano.
No entanto, um impasse se vislumbra caso ela e demais parentes não deixem o local até o dia 20, prazo estipulado pela Justiça. Isso porque a Cotisa (Companhia Operadora de Terminais de Integração S/A) quer o Tisac de volta e inclusive cobra judicialmente ressarcimento do Estado em valor ainda a mensurar.
MPF promove reunião para deliberar sobre situação de indígenas
A Secretaria Municipal de Assistência Social disse à reportagem que para o ano que vem está planejando junto ao setor de turismo da prefeitura a organização de feiras de artesanato na cidade, para valorizar o trabalhos e a cultura dos índios. Sobre o local de moradia dos indígenas nesse período, a pasta informa que irá debater o assunto nesta quarta-feira com o Ministério Público.
A Procuradoria da República em Santa Catarina realiza neste 19 de abril, Dia do Índio, encontro com objetivo de discutir os problemas envolvendo o acolhimento de famílias indígenas que se vêm a Florianópolis durante a temporada de verão, para venda de artesanato. O órgão defende que seja respeitado o costume e viabilizado um local de estadia digna e segura. Foram convidados representantes da Funai, Secretaria do Patrimônio da União, e secretarias estaduais e municipais nas áreas de assistência social, trabalho e igualdade racial.
http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticia/2017/04/no-dia-do-indio-caingangues-acampados-no-tisac-voltam-pra-casa-9774855.html
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