A ferro e ouro

Veja, Ambiente, p. 84-91 - 17/05/2017
A ferro e ouro
Duas novas minas encravadas na Amazônia podem acabar com a precarização que sempre marcou o garimpo no pais. Mas isso só ocorrerá se elas não repetirem os erros do passado

JENNIFER ANN THOMAS, de Canaã dos Carajás (PA)

UM ANO ANTES do lançamento do belo filme Bye Bye Brasil (1980), um garimpeiro descobrira ouro na região de Serra Pelada, na atual cidade de Curionópolis, no interior paraense. Daquela descoberta nasceria o fenômeno chamado Serra Pelada, uma mina que recebeu 100000 garimpeiros e espantou o mundo pela sua dimensão épica - de homens, como formigas, amontoando-se em crateras gigantescas de onde tiraram, em apenas um ano. 30 toneladas de ouro. No ano seguinte. Bye Bye Brasil de Cacá Diegues, chegou às telas narrando a saga fictícia de artistas ambulantes que. a bordo da Caravana Rolidei, levavam seu espetáculo aos confins do país. incluindo a região amazônica. Quando chegam a Altamira, no interior do Pará. estão em busca da promessa de lucro rápido, dada a enormidade de pessoas que migraram para a cidade à procura de emprego, incluindo as mineradoras locais.
Agora, um novo filme poderia ser rodado na imensidão do Pará. com uma diferença crucial: as condições completamente insalubres em que trabalhava o formigueiro humano de Serra Pelada pode ter ficado no passado. Depois de quase quatro décadas, e já com o valioso minério tendo praticamente desaparecido da superfície - mas existe no subsolo, de difícil acesso -, dois novos projetos de mineração prometem modernizar a exploração das riquezas no Pará. Um temor, no entanto, permanece no horizonte: ao mesmo tempo em que podem servir de exemplo de como garantir o progresso com menor impacto ambiental e social, ambas as empreitadas correm o risco de acabar repetindo a história, reprisando tragédias combinadas com enredos de miséria que tantas vezes acompanharam a corrida do ouro nas minas do Norte.
A Vale. a principal mineradora do Brasil e a oitava maior do mundo, e a Belo Sun. empresa canadense controlada pelo grupo de investimentos Forbes & Manhattan, estão à frente dos tais projetos.

Veja, 17/05/2017, Ambiente, p. 84-91

http://veja.abril.com.br/economia/a-ferro-e-ouro/
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