Aldeia de guaranis Itakupe revitaliza lagos no Pico do Jaraguá, em SP

Revista Galileu https://revistagalileu.globo.com - 15/04/2019
Para os guarani, a água tem importância vital para a sobrevivência. Na Aldeia Itakupe, também conhecida como Sol Nascente, no Pico do Jaraguá, na zona norte da capital paulista, essa visão ganha força com a presença de 15 famílias que vivem na região e que dependem da água para realizar todas as atividades do cotidiano.

Nos últimos 4 anos, com a ajuda do ambientalista paulistano Adriano Sampaio, 47 anos, foi iniciada a revitalização das nascentes da região do Jaraguá, ponto mais alto da cidade de São Paulo, cujo pico tem 1.135 metros. Mais recentemente, Sampaio organizou uma vaquinha virtual para comprar peixes e materiais para os lagos da Aldeia Itakupe. A meta de R$4.520 foi batida antes do fim do prazo.


Na publicação da vaquinha, o cacique Matheus Wera explica que "a ideia é continuarmos a fazer lagos até que todas as famílias das seis aldeias da Terra Indígena Jaraguá, cerca de 800 pessoas, tirem seu sustento destes lagos".

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Segundo Sampaio, o dinheiro será usado para comprar 7 espécies de peixes, como lambaris, tambaquis, tilápias e pacus, além de plantas aquáticas e ferramentas. De um ano pra cá, diversos mutirões foram feitos para limpar e revitalizar os lagos. Ao todo, são seis aldeias da Terra Indígena Jaraguá.

Até o momento, existe o planejamento de revitalizar três lagos localizados na Aldeia Itakupe. O ambientalista Sampaio conta que a revitalização começou a ser feita aos poucos, encorajado pelos conselhos do cacique Ari, há 5 anos atrás.

"Aqui, o rio foi assoreado por causa do desmatamento. O cacique Ari, o primeiro da aldeia, me mostrou que dava para recuperar os lagos com conhecimento ancestral", explica Sampaio à GALILEU.

O conhecimento ancestral que Sampaio aprendeu o ajudou a entender como a revitalização do lago poderia ser feita. "O processo do tempo deles [os guarani] é diferente do tempo que passa em nosso calendário", conta. Respeitando o tempo dos guarani, que leva em conta as estações do ano e a espiritualidade da natureza, a aldeia já conseguiu revitalizar o lago principal, que será usado para pesca.

Sampaio é conhecido por ter participado de outros projetos relacionados à revitalização de nascentes e rios, como o Existe Água em SP.

A importância da preservação
O líder espiritual da aldeia Itakupe, Pedro Macena, 53 anos, conta que veio com 9 anos da Argentina para morar em uma aldeia em Parelheiros. "Fiquei lá 38 anos, conheci o Jaraguá na década de 80 e me mudei para a região em 2000", explica.

A força espiritual conduz boa parte dos costumes dos guarani da região do Jaraguá. "Para nós, a água é um ser vivo. Moramos a 1 quilômetro da nascente para protegê-la", conta Macena, que acredita que a água da cidade paulistana está morta e contaminada. "A água para nós não é um produto, mas sim algo sagrado que Nhanderu deixou para nós", diz.

Além da importância da água, Macena explica que a espiritualidade é algo presente em tudo e todos. "É algo que não é possível ver, apenas sentir, como os espíritos das aves, das plantas e animais. Os cães aqui são os guardiões da aldeia", conta. Na religiosidade guarani, Nhanderu é considerado o Deus responsável pela criação.

Histórico de resistência
O cacique Ari Karai foi um dos primeiros indígenas a adentrar novamente a região do Pico do Jaraguá. "Foram anos complicados, entre 2004 e 2006 os índios aqui sofreram reintegração de posse. Foi só em 2013, quando o Ari apresentou o estudo da Funai que falava sobre a demarcação das terras indígenas que as coisas mudaram", conta Sampaio.

Em 2015, uma portaria foi assinada reconhecendo parte das terras onde os guarani vivem no Pico do Jaraguá como sendo deles. Porém, para ser finalmente oficializado, o documento precisa da homologação do presidente da República, Jair Bolsonaro.

"Temos contado com o Ministério Público, as ONGs e a própria ONU. Além, claro, da força do nosso movimento", conta o líder espiritual da aldeia Itakupe.

A falta de apoio dos órgãos do governo continua incerta. Em janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro aprovou uma medida provisória retirando a decisão de identificar e demarcar as terras indígenas do país das mãos da Fundação Nacional do Índio (Funai). Com a decisão, o Ministério da Agricultura, com Tereza Cristina da Costa (DEM), passou a chefiar a pasta.Como conhecer a aldeia
Os guarani que vivem na região do Pico do Jaraguá vivem do artesanato e de festivais organizados pela aldeia. Além da iniciativa de revitalização dos rios, existem outros projetos, como a criação de uma horta, com plantação de mandioca e batata doce. Como conta o líder espiritual Macena, a aldeia pode ser visitada por estudantes, escolas e a população em geral a partir de agendamento por telefone.

Aldeia Itakupe
Av. Chica Luiza, 1041
Jaraguá
São Paulo - SP
CEP: 05183-270
Agendar visitas com o líder Pedro Macena: (11) 96391-4229



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