Corpo do 'Índio do Buraco' deve ser sepultado na Terra Indígena onde ele vivia isolado em Rondônia
Último sobrevivente do seu povo, o indígena foi encontrado morto pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Ele viveu sozinho e isolado por quase 30 anos na TI Tanaru, onde deve ser sepultado.
Fábio Diniz
Jaíne Quele Cruz
29/08/2022
O corpo do indígena isolado, conhecido como "Índio do Buraco", deve passar por perícia em Brasília (DF) e voltar para ser sepultado "no mesmo local onde foi encontrado", em Rondônia. A informação foi confirmada por uma fonte da Fundação Nacional do Índio (Funai) à Rede Amazônica.
Segundo as informações que a equipe de reportagem teve acesso, o corpo do indígena foi transportado de Vilhena (RO) para o Instituto Nacional de Criminalística de Brasília. Os peritos responsáveis são os mesmos que atuaram no caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
O corpo, depois de periciado, deve retornar para Rondônia e então ser sepultado no local onde foi encontrado: na Terra Indígena (TI) Tanaru, localizada na região sul do estado.
O indígena era o único sobrevivente da sua comunidade, de etnia desconhecida. Portanto, seu povo agora é considerado extinto.
A Polícia Federal informou por meio de nota que realizou na última sexta-feira (26) exames no local da morte do indígena. Esses exames se concentraram na última habitação em que o índio vivia e na área ao redor, com pequenas plantações e armadilhas para caçar animais.
"...como se estivesse esperando a morte"
A Funai informou no sábado (27) que o corpo do "Índio do Buraco" foi encontrado no último dia 23 de agosto "dentro da sua rede de dormir, em sua palhoça localizada na Terra Indígena Tanaru".
Em nota, a Fundação também informou que não havia sinais de violência, "vestígios da presença de pessoas no local, tampouco foram avistadas marcações na mata durante o percurso". Segundo os registros feitos pela Funai, era a palhoça número 53 construída pela indígena.
O "Índio do Buraco" estaria com vestes de celebração, feitas de penas, "como se estivesse esperando a morte".
TI Tanaru
Conforme dados do Instituto Socioambiental (ISA), a TI Tanaru possui cerca de 8 mil hectares e se espalha por quatro municípios de Rondônia: Chupinguaia, Corumbiara, Parecis e Pimenteiras do Oeste.
Depois que a Funai confirmou a existência de povos isolados dentro da TI, se utilizou de dispositivos legais para prolongar o tempo de demarcação da área. Assim, por meio da Portaria do Presidente da Funai no 1040, de 16 de outubro de 2015, a área demarcada de 8.070 hectares teve sua interdição prorrogada por mais 10 anos.
Quem é o "índio do buraco"?
O "índio do buraco" vivia sozinho há quase 30 anos, depois que os últimos membros de seu povo foram mortos por fazendeiros em 1995. Ele foi visto a primeira vez um ano depois, em 1996, pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé (FPE Guaporé), sediada em Alta Floresta do Oeste (RO).
Imagens do indígena são extremamente raras. Um vídeo gravado por agentes da Funai em 2018, mostra ele apenas de longe.
Os registros mais recorrentes são das suas moradias conhecidas como tapiris, geralmente construídas com cascas de madeira, palmeiras e troncos, coberta com palha do chão ao teto. Uma característica curiosa dos locais onde ele ficava é a existência de um buraco. Foi assim que surgiu o nome "índio do buraco".
O indígena morreu sem que fossem descobertas muitas informações sobre ele, como sua etnia, a língua que falava ou o motivo de fazer grandes buracos dentro de suas habitações.
https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/08/29/corpo-do-indio-do-buraco-deve-ser-sepultado-na-terra-indigena-onde-ele-vivia-isolado-em-rondonia.ghtml
PIB:Rondônia
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