Unicentro tem 30 indígenas matriculados em seus cursos de graduação
Eles frequentam os cursos de Administração, Arte, Enfermagem, História, Medicina, Pedagogia e Psicologia
07/07/2023
"A valorização da nossa identidade, dos povos tradicionais, de estarem em uma universidade é fruto da luta de nós, indígenas, de estar nas universidades". A avaliação sobre a importância da ocupação do ensino superior por integrantes dos povos tradicionais é da Jociele Luiz. Ela é da etnia Kaingang, moradora da terra indígena de Mangueirinha e acadêmica do curso de Pedagogia, no câmpus avançado de Chopinzinho da Unicentro. A estudante ingressou no ensino superior por meio do Vestibular para os Povos Indígenas no Paraná e é, hoje, um exemplo do crescimento da representatividade dos povos indígenas no ambiente acadêmico, atuando inclusive como representante dos discentes indígenas na universidade.
A formação da Jociele começou ainda dentro da aldeia, com os primeiros anos escolares sendo orientados por professores indígenas. O contato com o estudo fora da comunidade veio cedo - a partir da quinta série do ensino fundamental. Período em que os desafios já se apresentavam na forma de exclusão, preconceito, na falta de acolhimento e na dificuldade com a língua escrita e falada fora da comunidade de origem. Obstáculos que, aos poucos e com o apoio da família, foram transpostos e não tiraram de Jociele a vontade de perseguir um diploma universitário. Hoje, venceu os desafios e ocupa com orgulho seu espaço nas salas de aula da Unicentro.
"Acredito que, ao longo desses anos, a gente conseguiu construir e desconstruir algumas coisas da nossa vivência como estudante de Pedagogia, como pessoa, como indígenas. Todos os dias, a gente precisa lutar para que esses espaços sejam ocupados por nós - não só no curso de Pedagogia, mas em todos os espaços. Vamos estar ali sempre. Para nós é uma conquista enorme", reforça.
O Paraná é pioneiro na implantação de ações afirmativas educacionais voltadas aos povos tradicionais. São essas políticas públicas que contribuem para ampliar a presença da população indígena nas universidades. De acordo com dados da Comissão Universidade para os Índios do Paraná (Cuia), até o final de 2022, o estado contava com um total de 240 acadêmicos declarados indígenas, distribuídos entre as instituições de ensino superior paranaenses.
Na Unicentro, atualmente, são 30 estudantes indígenas matriculados, representando, principalmente, as etnias Kaingang e Guarani. Entre os cursos mais procurados estão Pedagogia, com 12 estudantes; e Administração, com nove. Além desses, há quatro acadêmicos matriculados no curso de História; duas cursando Medicina; uma fazendo Enfermagem; um matriculado em Arte; e mais uma cursando Psicologia.
Potestino Gabriel, Kaingang da terra indígena de Chapecozinho, cursa Administração no polo da Unicentro em Mangueirinha. Semelhante à maioria dos estudantes indígenas, cursou os primeiros anos escolares dentro da aldeia de origem. Depois de crescido, o incentivo para ultrapassar os muros da comunidade e ingressar em um curso superior veio do exemplo familiar - da mãe, formada em Pedagogia; do pai, formado em Direito; e dos tios, que também exibem com orgulho um diploma de graduação. Para ele, a formação superior é uma conquista coletiva. "Isso mostra cada vez mais o que podemos, os lugares que podemos ocupar e até onde podemos chegar. A universidade, para mim, representa um lugar de transformação, de poder mudar não só a minha realidade, mas a realidade de toda uma comunidade a qual eu estou representando. Eu vejo a universidade como uma porta que se abriu para que a gente possa mudar a nossa realidade e também dar visibilidade para as nossas causas", diz Potestino.
Entre os fatores que facilitam a inserção e a permanência desses alunos na instituição, pontua a presidente da Comissão Universidade para os Índios, a Cuia, na Unicentro, professora Sandra Mara Mattos, estão o vestibular e um curso de Pedagogia voltados exclusivamente para os indígenas.Ela também destaca o suporte dos professores durante o tempo de curso e o auxílio financeiro que cada estudante recebe. "O professor que está no dia a dia. Então, ele sabe quais são as dificuldades, o que acontece no curso, tem um melhor trânsito para conversar com seus pares no departamento e levar as questões. Uma política de permanência extremamente importante é essa. Também a bolsa que eles recebem, que facilita com que eles continuem na universidade", detalha.
O aumento do número de indígenas na academia está alicerçado no suporte dado pela universidade e pelas políticas públicas, mas também no esforço individual de cada estudante. Se, por um lado, o acesso foi facilitado, por outro, a permanência desses acadêmicos nos cursos ainda é um desafio. Afinal, para cursar o ensino superior, os indígenas enfrentam uma série de obstáculos diários - preconceito, adaptação cultural, deslocamento, saudade da família e dificuldades financeiras são alguns exemplos. Adversidade que, avalia a acadêmica de Psicologia, Danieli Finhgre Felix, muitas vezes, desestimulam a continuidade da formação. "Você acredita que aquele ambiente não é para você. Se fosse para você, teriam mais indígenas. Uma das principais dificuldades, para mim, foi na Psicologia em si, porque a psicologia ainda é muito pautada no eurocentrismo branco e em teorias que só estudam pessoas não-indígenas. Então, você estudar algo que exclui totalmente a sua existência acaba te desestimulando. Então, eu fui criando estratégias para lidar com isso", recorda.
https://www3.unicentro.br/noticias/2023/04/19/unicentro-tem-30-estudantes-indigenas-matriculados-em-seus-cursos-de-graduacao/
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