Um imenso rastro de água barrenta afetou as aldeias Bateria, Pomkuru, Tamyuru e Mapuera. Fenômeno pode ser natural, devido desmoronamento de uma serra próximo acima da aldeia Bateria.
Por Sílvia Vieira, g1 Santarém e Região - PA
30/05/2022 10h08 Atualizado há um ano
Cerca de 2 mil indígenas de aldeias localizadas na região do Rio Mapuera, em Oriximiná, oeste do Pará, estão sem água e alimentos devido à suspeita de contaminação do rio que foi invadido por água de coloração barrenta. A mudança na cor do rio foi percebida na tarde do último sábado (28), e na manhã de domingo, os indígenas encontraram peixes mortos nas margens do Mapuera que é afluente do Rio Trombetas.
Para minimizar os impactos nos territórios indígenas Trombetas-Mapuera, Nhamundá-Mapuera e Kaxuyana-Tunayana, assim como nas comunidades ribeirinhas daquela região, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Oriximiná organizou uma força tarefa para levar ajuda humanitária (água e cestas de alimentos) nesta segunda (30). A área afetada fica distante da sede do município cerca de 1h30 de helicópetero, e de 6 a 7 horas de barco.
De acordo com secretário de Meio Ambiente, Rubson Rodrigues, a Semma de Oriximiná já solicitou apoio ao ICMBio, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal e Polícia Federal para adoção de providências urgentes para evitar maiores danos às aldeias indígenas, e para investigar a origem da poluição.
"Nós recebemos a notícia dessa situação no Rio Mapuera, de que foi encontrada uma coloração diferente, praticamente uma água barrenta. As informações que nós temos é de que já passou por quatro aldeias, e não sabemos qual a origem, nem mesmo os indígenas sabem. Já pedimos a ajuda do ICMBio, Ministério Público estadual, Federal e Polícia Federal para que providências sejam tomadas. Estamos verificando um helicóptero para ir até o local. Precisamos saber onde começou, se tem relação com garimpagem", disse Rubson Rodrigues.
Os garimpos mais próximos da nascente do Rio Mapuera estão localizados no estado de Roraima, região norte do Brasil, e no Suriname.
A mudança na coloração do rio começou a ser percebida por indígenas por volta das 13h de sábado na Aldeia Bateria. Na madrugada de domingo (29), por volta das 04h, foi avistada também na aldeia Pomkuru; por volta das 06h, na aldeia Tamyuru e às 07h, alcançou a Aldeia mãe Mapuera. O rio de água claras foi tomado por coloração barrenta.
O aparecimento de peixes mortos e a coloração barrenta da água deixaram os indígenas assustados nas aldeias Bateria, Pomkuru, Tamyuru e Mapuera. Há recomendação das lideranças indígenas para que os povos não usem a água do rio nem para se banhar, como relata a liderança Marachia Wai Wai. (veja vídeo abaixo: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/video/indigena-relata-mudanca-nas-aguas-do-rio-mapuera-no-pa-10620479.ghtml)
"O rio está muito sujo de lama. Não sei o que está acontecendo no rio. Talvez seja os garimpeiros jogando bombeiro, por isso estamos viajando para ver onde tem movimento de garimpeiros. (...) Estamos muito preocupados, pedimos até para o povo não tomar banho na aldeia Mapuera", disse Maracha Wai Wai.
Há possibilidade de que a mudança na coloração do rio seja resultado de um fenômeno natural. O grupo de indígenas que subiu o rio na manhã de hoje, a partir da aldeia Mapuera encontrou um área acima da aldeia Bateria, onde houve o desmoronamento de uma serra. Vídeos e áudios foram enviados do local ao secretário por volta das 12h15 desta segunda, informando sobre o desmoronamento. (vídeo abaixo: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/video/area-onde-houve-desmoronamento-de-serra-que-atingiu-rio-mapuera-10621436.ghtml)
"Foi um fenômeno natural, provavelmente, assim como acontece nas partes altas do Estado do Rio de Janeiro. Encharcou e e deslizou para o Rio Mapuera. Mas de qualquer forma estaremos indo com o Prefeito Delegado Fonseca, assim que o helicóptero chegue em Oriximiná", informou Rubens Rodrigues.
Providências
Em ofício com data do dia 28/05, enviados à Procuradoria do Ministério Público Federal e Procuradoria de Justiça do Ministério Público Estadual de Santarém, Coordenação Regional da Funai - Manaus, Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema (Funai), Ibama e ICMBio (Santarém) e DSEI Guatoc-Tocantis, as associações Apim e Aikatuk pedem intervenção de forma urgente para que sejam apuradas as reais causas da poluição das águas do rio Mapuera, e para que tomem as devidas providências para fiscalização e verificação da situação, assim como medidas emergenciais para garantir a saúde da população.
A secretaria de Meio Ambiente de Oriximiná, ICMBio e Polícia Federal devem fazer sobrevoo nesta segunda para tentar identificar a origem da água barrenta, ajuda humanitária será levada às aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas da área afetada, uma vez que é do rio que eles retiram a água para beber e para os afazeres do dia a dia, assim como o alimento (peixe). (https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/video/indigenas-encontram-peixes-mortos-em-rio-10620685.ghtml)
"É preciso ver a real situação, analisar a água, porque já tem relatos de peixes mortos. Mas a prioridade é ajuda humanitária aos indígenas e populações ribeirinhas também", ressaltou o secretário de Meio Ambiente, Rubson Rodrigues.
Também nesta segunda, uma equipe da Associação dos Povos Indígenas do Mapuera (Apim) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) acompanhará um técnico para coleta de água em vários pontos do rio, para análise em laboratório.
https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2022/05/30/video-por-suspeita-de-poluicao-do-rio-mapuera-no-pa-cerca-de-2-mil-indigenas-ficam-sem-agua-e-alimento.ghtml
PIB:Amapá/Norte do Pará
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