O local integrante do território tradicional dos Akroá-Gamella, foi arrendado e ocupado anteriormente como lixão municipal
Nos dias 16 e 17 de outubro, cerca de 50 pessoas estiveram reunidas na Aldeia Cajueiro Piraí, localizada no Território Taquaritiua, para discutir o andamento do projeto "Garantindo Direitos Territoriais dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira". O encontro contou com a presença de Marcilene Guajajara, coordenadora-geral da COAPIMA (Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão), e, de Toya Manchineri, coordenador-geral da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), sendo a primeira vez que um representante desta organização visita o território do povo Akroá-Gamella.
A Coiab e o Podáali, com o apoio da The Tenure Facility, estão a frente do Projeto Garantindo os Direitos Territoriais dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira, que visa apoiar o fortalecimento das organizações de cinco TIs da amazônia brasileira: TI Kaxuyana-Tunayana (PA), TI Kapyra-Kanakury (AM), TI Riozinho do Iaco (AC), TI Ituna-Itatá (PA) e TI Taquaritiua (MA), para avançar na garantia dos seus direitos constitucionais. Nesse contexto, a COAPIMA exerce o papel de executora ao lado do conselho Akroá-Gamella. Durante o encontro, estiveram presentes, pela COAPIMA, as assessorias jurídica, técnica e de comunicação, enquanto pela COIAB participaram a gestão do Centro Amazônico de Formação Indígena (CAFI) e a técnica responsável pelo projeto.
O coordenador da Coiab, Toya Manchineri, destacou a relevância de conhecer os territórios e estreitar as relações nas regionais. "É muito importante essa conversa entre a coordenação da COIAB e as nossas lideranças e nosso povo que está nos territórios. E dizer, gente, tem outros povos que estão na mesma situação, que nós precisamos juntar esforços para que a gente possa, em conjunto, garantir nossos direitos. Porque vocês mesmo conhecem o que se passa no Congresso. Vários projetos de lei que vão contra os direitos constitucionais dos povos indígenas, como o Marco Temporal. Para nós, é muito importante estar presente, conhecer a realidade do povo, para que a gente possa, no futuro, na apresentação de projetos, falar, não, nós temos uma área que necessita desse tipo de projeto, então vamos levar esse projeto para lá", afirmou.
O povo Akroá-Gamella, que está em retomada de seu território desde 2017, vive sob constante ameaça de invasores não indígenas da região. Ao longo dos anos, as comunidades Akroá-Gamella sofreram ataques violentos com graves consequências, e recentemente relatam que as ameaças têm se intensificado. Nos últimos meses, tiros foram disparados contra as aldeias à noite, e as ameaças se estendem até durante festividades religiosas, aumentando o clima de tensão na região.
A coordenadora da Coapima, Marcilene Guajajara, ressaltou a importância de avançar com o processo de demarcação, garantindo os direitos constitucionais. "É necessário que o Estado respeite esse povo, quanto indígena. Porque é importante ter o nosso território demarcado para a futura geração das crianças, dos povos que vivem ali, e que são resistentes também, que vivem ameaçados constantemente porque não têm o seu território próprio ainda. Com a demarcação do território, vai facilitar o acesso às políticas públicas para este povo. Hoje, não existe acesso à saúde, educação e muito menos a proteção. Justamente porque não tem um território demarcado para eles. É necessário que esse território seja demarcado, seja reconhecido."
As lideranças Akroá-Gamella destacaram a importância da visita do coordenador-geral da COIAB, Toya Manchineri, ao território, que ainda se encontra em processo de demarcação. O evento também foi uma oportunidade para apresentar os integrantes do Conselho Akroá-Gamella à COIAB, fortalecendo a articulação entre as organizações indígenas e as lideranças locais.
Além das questões territoriais, a saúde indígena foi um dos principais temas discutidos no dia 16. Durante a manhã, as lideranças Akroá-Gamella apresentaram as dificuldades no acesso aos serviços de saúde na região. O coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Maranhão, Lúcio Guajajara, esteve presente e ouviu as demandas da comunidade.
A liderança e coordenador local do projeto, Caw Cre Akroá-Gamella, aponta as principais atividades já realizadas e os objetivos do projeto na TI. "Estamos realizando as atividades com as mulheres, atividades com apoio da segurança, da autoproteção, também voltada à questão do meio ambiente. Isso a gente tem fortalecido com esse projeto, a questão da retomada pelo nosso território, pelo bem viver, pela questão também da educação, da saúde, e também dado o apoio aqui para novas retomadas. Inclusive a gente está aqui numa retomada agora, neste momento, que é uma retomada aqui da aldeia Tabarelzinho, que estamos aqui há cerca de dois meses", informou.
Outro ponto relevante da visita foi a ida das coordenações da COAPIMA e COIAB à retomada que faz parte da Aldeia Tabarelzinho. O local, integrante do território tradicional dos Akroá-Gamella, foi arrendado e ocupado anteriormente como lixão municipal. As famílias ocupam o espaço em regime de vigilância, e relatam as preocupações com a saúde, as águas, as plantas e animais dessa área, que atualmente está com grandes volumes de lixo, fumaça de queimadas de detritos e poças de esgoto. Mesmo diante de ameaças e violências, as famílias seguem resistindo na luta pela recuperação de seu território tradicional.
https://coiab.org.br/povo-akroa-gamella-recebe-coiab-e-coapima-para-discutir-desafios-territoriais/
PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins
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