Com seu território tradicional completamente invadido por madeireiros, fazendeiros e grileiros, indígenas do povo Tapirapé, autodenominado Apyãwa, da Terra Indígena (TI) Urubu Branco, estiveram em Brasília, de 10 a 14 de junho, para cobrar a desintrusão do território. Além dos constantes conflitos fundiários, os Tapirapé vivem em situação de extrema vulnerabilidade por conta das queimadas e do avanço do agronegócio e a pulverização de agrotóxicos em aviões na região.
A delegação, composta por cerca de quinze lideranças, entre eles jovens e anciões, tiveram audiências com representantes de diversos órgãos de Estado que atuam juntos aos povos indígenas. Em todas as reuniões cobraram a retirada imediata dos invasores do interior da Terra Indígena.
"Não estamos aqui simplesmente para conhecer Brasília, de passeio. Estamos aqui simplesmente para dizer: apoiem a gente"
"Não estamos aqui simplesmente para conhecer Brasília, de passeio. Estamos aqui solicitando uma coisa séria, seríssima. Estamos aqui simplesmente para dizer: apoiem a gente", explica Genivaldo Tapirapé.
As lideranças apontam que há muito tempo buscavam se reunir com representantes dos ministérios dos Povos Indígenas e da Justiça, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão (6ª CCR) do Ministério Público Federal (MPF). "Peço que vocês ouçam com toda atenção a nossa reivindicação, as nossas preocupações, porque o que está em jogo hoje é a vida", apela Genivaldo.
"Peço que vocês ouçam com toda atenção a nossa reivindicação, as nossas preocupações, porque o que está em jogo hoje é a vida"
A proteção da TI, como prevê a Constituição nos Artigos 231 e 232, esteve presente na fala de cada uma das lideranças Tapirapé em tons de denúncia e cobrança.
A ausência do Estado brasileiro leva à situação de extrema vulnerabilidade dos Tapirapé, como mostra o relatório "Cumplicidade na Destruição III - Como Corporações Globais Contribuem Para Violações de Direitos dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira", publicado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e pela Amazon Watch, em 2020. O documento revelou a conexão de grandes fundos financeiros com empresas associadas a conflitos em territórios indígenas e violações de direitos.
"A ausência do Estado brasileiro leva à situação de extrema vulnerabilidade dos Tapirapé, como mostra o relatório"
Segundo o estudo, seis instituições financeiras estadunidenses lideram os aportes a estas empresas e somaram, juntas, investimentos de mais de US$ 18 bilhões, entre 2017 e 2020. São elas BlackRock, que sozinha investiu US$ 8,2 bilhões, Citigroup, J.P. Morgan Chase, Vanguard, Bank of America e Dimensional Fund Advisors. Três setores estratégicos para a economia brasileira - mineração, agronegócio e energia - geraram conflitos com povos indígenas da Amazônia nos últimos anos, consta o estudo.
Um dos anciões da TI falou na sua língua, e foi traduzida por Genivaldo: "todos os recursos naturais que a gente utiliza para realizarmos o nosso dia a dia, os rituais, as práticas culturais que são importantes para a comunidade, estão acabando, nós vamos morrer". A preocupação para com os filhos e netos também esteve presente nas falas, bem como a preocupação quanto aos invasores.
"Todos os recursos naturais que a gente utiliza para realizarmos o nosso dia a dia, os rituais, as práticas culturais, estão acabando, nós vamos morrer"
"Nós estamos cansamos de esperar, de ser tolerantes. Vamos convocar nossos guerreiros para a guerra, estamos aqui apenas para comunicar, se o Estado não fizer a desintrusão", alerta o ancião já com expressões de cansaço ao final do dia de mobilização na capital federal.
A preocupação dos Tapirapé está fundamentada na vivencia diária no território invadido por não-indígenas. A Terra Indígena Urubu Branco está entre as mais afetadas por incêndios e devastação. Registros de focos de incêndio e alertas de desmatamento e degradação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) corroboram as denúncias das lideranças. Os dados do centro de pesquisas apontam que em 2019, especialmente a partir do mês de setembro, aproximadamente 17,5% da TI Urubu Branco foi atingida por queimadas.
"Vamos convocar nossos guerreiros para a guerra, estamos aqui apenas para comunicar, se o Estado não fizer a desintrusão"
"Antes, eram os pequenos que estavam lá, na época era levantamento fundiário. Hoje são os grandes que estão de má-fé, o agronegócio, contaminando a nossa terra. O resultado é muita destruição, porque o nosso alimento está sendo contaminado. Não dá mais para esperar o papel de vocês", reforça Reginaldo Tapirapé. "Este é só um comunicado", completou aos representantes dos órgãos de Estado, presentes na audiência.
"Hoje são os grandes que estão de má-fé, o agronegócio, contaminando a nossa terra. O resultado é muita destruição"
https://cimi.org.br/2024/06/indigenas-cobram-desintrusao-ti-urubu-branco/
PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins
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- TI Urubu Branco
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