OESP, Nacional, p. A10 - 20/04/2007
Lula homologa 6 reservas, mas admite falta de atenção a aldeias
Em mea-culpa, presidente promete melhorar qualidade de vida das populações indígenas
Leonencio Nossa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem, Dia do Índio, durante solenidade no Palácio do Planalto, a homologação das reservas indígenas Apyterewa (PA), Entre Serras e Pankararu (PE), Itixi-Mitari (AM), Palmas (PR e SC) e Wassu Cocal (AL) - uma área total de 978 mil hectares.
Lula também aproveitou a data para fazer um mea-culpa por não ter melhorado, em seu primeiro mandato, a qualidade de vida dos 700 mil índios do País. À frente do cacique txucarramãe Raoni, o presidente, porém, calou-se sobre temas polêmicos, como a insistência de produtores de arroz em permanecer na área da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima.
Nos últimos meses, Lula não economizou críticas a movimentos indígenas e ambientais, acusando-os pelos atrasos nas licenças para construção de hidrelétricas e estradas na Amazônia. Ontem, entretanto, o presidente reconheceu o descaso do governo nas aldeias. "Tudo o que não aconteceu de 2003 a 2006 a gente fará acontecer até 2010", afirmou no discurso. "Neste novo mandato, vamos fazer as coisas que não fizemos."
Animado pelo som de chocalhos, Lula chegou a reclamar da falta de "civilidade" da sociedade em relação aos nativos. "Temos de tornar a relação entre brancos e índios mais democrática e civilizada. O índio é um cidadão brasileiro, tem o direito de entrar no palácio do governo e ser atendido." Não faltaram promessas, ainda que genéricas. "Vocês terão no segundo mandato muito mais atenção do governo", discursou. "Não queremos transformar vocês em brancos, mas transformar a sociedade."
No final da solenidade, o presidente evitou responder a uma pergunta sobre a desnutrição infantil que assola a região de Dourados (MS).
A gestão Lula é uma das mais controversas na área dos direitos indígenas, de acordo com entidades do setor. Durante o primeiro mandato, a Fundação Nacional do Índio (Funai) foi comandada pelo antropólogo Mércio Pereira Gomes, substituído no mês passado pelo também antropólogo Márcio Meira. Mércio entrou para a história da instituição ao dizer que índio no Brasil tem muita terra. Instalada a polêmica, alegou ter sido mal interpretado.
Um dos desafios de Meira é conseguir resolver a questão da Reserva Raposa Serra do Sol, cobiçada por fazendeiros e garimpeiros. As 250 famílias de não-índios com propriedade na região, cadastradas pelo governo, ainda não receberam indenização e lá permanecem.
OESP, 20/04/2007, Nacional, p. A10
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