PM expulsa índios de área de invasão em Manaus

Estadão Online - 11/03/2008
No confronto, a PM recebeu "flechadas" e usou bombas de gás lacrimogêneo para conter invasore

A Polícia Militar do Amazonas usou a força, nesta terça-feira, 11, pela manhã, para expulsar um grupo de 200 sem-teto de uma faixa de terra privada, de 180 mil metros quadrados, situada na comunidade Lagoa Azul, quilômetro 11 da rodovia estadual AM-010, zona rural de Manaus. Entre os sem-teto havia 105 indígenas de sete etnias que ocupavam a área havia três meses.

Há duas semanas, na mesma região, a PM já tinha cumprido mandado de reintegração de posse expedido pelo Tribunal de Justiça do Amazonas. Na ocasião, a ação se deu de forma pacífica, já que o número de invasores era bem menor. Ontem, porém, os indígenas foram previamente avisados pela própria Polícia Militar que a reintegração ocorreria.

Eles decidiram se armar com arco e flecha e enfrentaram um batalhão de 150 homens da PM, que estavam munidos com bombas de gás lacrimogêneo e ainda contavam com a ajuda de cães e cavalos da corporação.

A estratégia da PM de cercar os invasores acuou parte dos ocupantes da área. Houve correria e choro. Mães com crianças no colo gritavam em tom de desespero. Alguns indígenas chegaram a atirar flechas contra os homens da PM, mas, a essa altura, o aparato policial se mostrou muito superior à resistência dos indígenas.

Um trator foi utilizado para derrubar dezenas de barracos que tinham sido construídos na área. Ao fim da operação, que durou duas horas, 17 pessoas foram detidas, entre elas, quatro índios. Arcos, flechas, terçados e facas também foram apreendidos.

Segundo o comando da Polícia Militar do Amazonas, membros da Polícia Federal, do Ministério Público Estadual e da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram convidados para acompanhar a ação, mas na compareceram.

Excessos

O cacique Luiz Sateré, de 49 anos, que pertence à etnia seteré-mawé, prometeu denunciar o que chamou de "excessos da PM" à Câmara de Vereadores de Manaus, à Assembléia Legislativa do Estado e ao Congresso Nacional. Segundo ele, a PM agiu com truculência e não mostrou aos indígenas o mandado de reintegração de posse.

"Chutaram uma grávida como chutam uma bola", denunciou Luiz Sateré. "Deram coronhadas nos nossos guerreiros porque eles tentaram se defender", afirmou o cacique. De acordo com ele, a área apontada como de propriedade do engenheiro civil Mitishu Inoue já foi de posse dos indígenas, mas, conforme afirma, não há documentos que comprovem a afirmação.

O chefe das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam), major Wálter Cruz., um dos comandantes da operação, negou que a Polícia Militar tenha agido com truculência. "Fizemos tudo dentro da legalidade", sustentou ele.

"Há mais de dois meses estávamos avisando que a reintegração iria acontecer. Há duas semanas foi feita a primeira reintegração e eles (invasores) retornaram ao local usando pessoas que se diziam indígenas", disse o major.

Segundo ele, a PM precisou agir "com rigor" para cumprir a determinação. "Algumas pessoas tentaram nos enfrentar e usamos instrumentos não letais", comentou. Ele disse não acreditar que alguns dos invasores realmente sejam nativos. "Não posso afirmar que quem usa um cocar na cabeça e se pinta de índio seja realmente indígena".
PIB:Tapajós/Madeira

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