Índios cobram infraestrutura

A Tarde - 15/06/2009
Kiriris reivindicam melhor atendimento público nas áreas de saúde e educação. Casas ficam abandonadas

A demarcação da reserva indígena em Banzaê modificou fortemente as características do município, mas não resolveu o problema dos índios, que ainda enfrentam uma rotina de dificuldades.

Banzaê, situado a 296 km de Salvador, foi criado em 1989, com um território de apenas 213 km², e tem 60% dele destinado à tribo dos kiriris.

Quem chega no antigo distrito de Mirandela, por exemplo, onde hoje está a reserva indígena, tem a impressão de se tratar de uma vila abandonada, sem moradores.Muitas casas estão desabando e outras são inabitáveis.

Em umas, faltam paredes. Já em outras, telhados. Umfuncionário da Funai confidencia que, quando se torna impraticável viver em uma casa, os moradores usam como solução para o problema a mudança para um outro endereço, e assim o ciclo de construções em ruínas vai sendo mantido.

Antes o local era ocupado por posseiros, que acabaram expulsos pelos índios em 1995, 13 anos após a demarcação da área como reserva indígena.

INTEGRAÇÃO - Para a prefeita de Banzaê, Jailma Alves, os índios não se sentem ainda donos dos imóveis, daí a falta de conservação.

Ela reconhece que, depois de ter providenciado casas para os moradores dos povoados que foram expulsos pelo membros da aldeia, chegou a hora de recuperar as casas de uma forma que conte com a participação e aprovação dos índios.

"Temos uma dívida com eles", avalia a prefeita. Mas os kiriris estão perdendo muito mais do que imóveis. Há vários sinais da perda de seus elementos culturais, inclusive o seu idioma característico que ninguém mais fala na reserva.

O cacique Lázaro Souza, um dos líderes locais, conta que está sendo feito um esforço para recuperar o vocabulário da tribo, com ajuda dos mais velhos. Mas a missão não parece ser fácil.

"Desde o tempo dos jesuítas deixamos de usar nossa língua, nossas rezas, nossas casas, nossa comida", lamenta. O cacique também se queixa da precariedade da escola da aldeia.

A instituição oferece cursos que vão até o ensino médio, mas o cacique avalia que a qualidade deixa a desejar. Ele se mostra satisfeito por ter conseguido a terra para viver, mas cobra maior atenção do poder público, para melhorar não somente a educação, mas também a saúde. "É precária a assistência prestada pela Funai e é grande a dificuldade para conseguir remédios", diz.

Mas há divisão na aldeia também na questão da liderança. Lázaro Souza tem 69 anos e é considerado representante de uma corrente mais tradicionalista. Na aldeia comandada por ele, os habitantes usam as saias de palha tipicamente indígenas por cima das roupas comuns. Cerca de metade dos kiriris da aldeia reconhece a sua liderança.

Os demais têm como líder o cacique Manoel Cristóvão Batista, 36 anos, que é mais aberto à convivência com os nãoiacute;ndios. A preferência por um determinado líder ocorre até por questão de localização dos liderados.

Enquanto Mirandela, onde estão os índios comandados pelo cacique Lázaro, só é acessível por uma estrada de terra, os índios ligados ao cacique Manoel vivem mais perto da rodovia, bem diferente do tempo em que os índios não tinham a posse das terras. "A gente vivia espalhado pelos matos, humilhado, dependendo de um pedaço de terra dos outros para plantar", relata Manoel.

Do mesmo modo que seu colega Lázaro, ele entende que há muito ainda pelo que lutar. Eles esperam, por exemplo, receber cerca de R$ 11,7 milhões de indenização da Coelba, por conta de uma linha de transmissão de energia que passa dentro da reserva.O Ministério Público Federal entrou com a ação em outubro de 2007.

Nesta semana, quando a reportagem de A TARDE esteve em Banzaê, Manoel comemorava a conquista da instalação de uma escola com cursos da 5ª à 8ª série em sua aldeia. A educação é vista como uma forma para melhorar as questões de sobrevivência dos kiriris, inclusive para aprender a fazer negócios, já que atualmente produzem artesanato para vender na feira livre por preços baixos, como R$ 2.

Com a criação da reserva, a urbanização deu um salto, mas a população total de Banzaê diminuiu, passando de 11.489, em 1991, para 11.166, em 2008, segundo o IBGE.
PIB:Nordeste

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