Depois de 25 dias de ocupação, os índios deixaram a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Londrina na noite da segunda-feira (8). Os indígenas, aproximadamente 200, se deslocaram para a Reserva Barão de Antonina, em São Jerônimo da Serra, Norte do estado. A invasão foi uma forma dos índios protestarem contra o decreto 7.056/09, assinado pelo presidente Lula em 28 de dezembro, que prevê a reestruturação da fundação e a extinção das administrações regionais do órgão no Paraná, assim como de todos os Postos Indígenas.
Na manhã desta terça-feira (9), apenas 15 índios permaneciam no local. Eles deixam o local no final da tarde. No entanto, o índio Eloi Jaci, que participou da ocupação, afirmou que se não houver um avanço nas negociações os indígenas podem voltar a ocupar o prédio. "Temos motivos para realizar esses protestos. O decreto desrespeita os povos indígenas que não foram consultados. A questão não é o corte de alguns direitos, mas a dificuldade que essa determinação vai causar no atendimento dos nossos interesses. O movimento indígena não tem dia nem hora para acabar. Se o governo não iniciar um diálogo podemos voltar", afirmou.
Com o objetivo de abrir um canal de diálogo, representantes das comunidades indígenas do Paraná e integrantes dos Ministérios Públicos Estadual e Federal e da Funai terão uma reunião na sede da Funasa, em Curitiba. O encontro ocorrerá na tarde desta terça-feira (9) e discutirá como fica a nova estrutura da Fundação do Índio no estado. "Nossa expectativa para esse encontro é boa. Pelo menos esperamos que o governo federal inicie um diálogo com as nossas comunidades", disse Jaci.
Um dos argumentos dos índios contra o fechamento dos escritórios da Funai no Paraná e, consequentemente, a transferência da administração para Santa Catarina, é o grande número de indígenas no estado. "Hoje somos mais de 25 mil. Em Santa Catarina esse número fica em torno de 8 a 9 mil. Percebemos mais o interesse político neste decreto do que a preocupação com os povos indígenas", explicou Jaci.
Durante os 25 dias de ocupação, o índio relatou que os invasores passaram várias necessidades, desde a falta de colchões para dormir até alimentos para as refeições. Segundo Jaci, em pelo menos cinco dias os índios não tiveram nada para comer. "Dormíamos espalhados pelo chão, alguns sentados. A comida era trazida das próprias aldeias e era basicamente arroz e feijão. Alguns dias não tinha nada para comer, também faltava leite para as crianças [aproximadamente 30 crianças estavam no prédio]", disse.
Polícia tenta identificar agressores
A delegacia de Homicídios começou a analisar, nesta terça, as imagens de câmeras de segurança de uma empresa localizada próxima a sede da Funai, na Avenida Celso Garcia Cid, para tentar identificar os índios que jogaram pedras contra o carro no qual estava a estudante de administração Érica Pedrão Brito, 34 anos.
Segundo o delegado Paulo Henrique Costa, o objetivo é facilitar o trabalho de identificação dos agressores pelas vítimas. "Também vamos usar as imagens para tentar identificar os supostos homens que atiraram contra um adolescente indígena de 14 anos. Ainda não conseguimos falar com os familiares deste rapaz, pois os índios estão um pouco receosos de falar sobre o caso", disse.
De acordo com o índio Eloi Jaci, o adolescente está se recuperando do ferimento e está acampado com a família dele em uma praça no Conjunto Maria Cecília, zona norte. Já o estado de saúde de Érica Brito ainda é grave. Segundo a assessoria de imprensa do Hospital Evangélico, ela apresentou um pouco de febre durante a madrugada, mas o quadro se mantém estável. Érica corre risco de morrer.
A agressão
Érica e o marido estavam voltando de um churrasco na casa de amigos na madrugada de sábado (6), quando eles trafegavam pela Avenida Celso Garcia Cid, próximo a sede da Funai, o carro, um Fusca, foi atacado pelos índios. Segundo a assessoria da família, os dois não teriam visto as barreiras colocadas pelos indígenas na rua e perceberam do ataque quando os índios começaram a arremessar as pedras. Assustado, o marido de Érica acelerou o veículo para fugir dos índios, mas um bloco de concreto, semelhante a um pedaço de meio-fio, atingiu o capô do Fusca, quebrou o para-brisa e acertou a cabeça de Érica que ainda tentou se proteger.
Já o índio Eloi Jaci, disse que os indígenas não estão usando pedras em seus ataques. Ele afirmou que são utilizados apenas pedaços de madeira, conhecidos como bordunas e que seriam acessórios de caracterização dos índios. Jaci afirmou que o ataque ao carro no qual estava Érica ocorreu depois que ele ultrapassou a barreira em alta velocidade.
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