Uma audiência pública, realizada na Assembleia Legislativa, irá marcar o Dia do Índio, comemorado nesta segunda-feira. Mas para os cerca de 42 mil que vivem em Pernambuco, constituindo a terceira maior população indígena do País, pouco se tem a festejar este ano. Em 28 de dezembro de 2009, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que previa a reestruturação da Fundação Nacional do Índio (Funai), a unidade gestora localizada no Recife deixou de oferecer assistência às 11 etnias que vivem no Estado, gerando um clima de descrença e insatisfação. No ano em que se completa 100 anos da fundação do primeiro órgão indigenista no Estado, o destino da unidade da capital pernambucana ainda é incerto.
"Pior do que estava não pode ficar", desabafa o coordenador da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Ari Pereira Bastos. Para ele, que é integrante da tribo Pancararu, os índios vinham sendo tratados com descaso pela unidade regional da fundação. "Ela já estava engessada há muito tempo e essa reestruturação fez com que as coisas parassem de vez."
Antes responsável pelo trabalho de atenção às necessidades dos índios pernambucanos, a unidade recifense deveria funcionar como uma coordenação técnica. Mas ela está atuando apenas na organização de documentos e envio de relatórios às administrações de Maceió (AL) e Paulo Afonso (BA), onde serão resolvidas as demandas dos povos do Estado. "Não poderemos oferecer assistência, pois nada foi colocado no papel. Eles desmontaram a máquina e não estão sabendo montar novamente. Havia a expectativa de que o regimento interno saísse no dia 19 (hoje). Mas informações extra-oficiais já falam em um adiamento de 120 dias. Isso é um problema porque muitas comunidades indígenas tiravam o sustento das ações que nós promovíamos", comentou a ex-administradora da Fundação do Índio do Recife, Estela Parnes.
Os Xucuru que vivem na cidade de Pesqueira, no Agreste, segundo a ex-gestora, são um exemplo disso. Expulsos das terras que ocupavam, na Serra de Ororubá e Vila de Cimbres, após um conflito étnico, eles passaram a morar em casas alugadas pagas pela Fundação no Centro do município. Além de moradia, eles recebiam cestas básicas. Mas, desde janeiro deste ano, eles estão sem os benefícios. "Alguns de nossos companheiros estão vegetando, vivendo da ajuda de familiares. Mas não é só para nós que a situação está difícil, outras etnias estão vivenciando o mesmo. Até a venda de artesanatos, que era uma das nossas fontes de renda, foi prejudicada", contou Junior Xucuru, 27 anos.
De acordo com o coordenador da Fundação do Índio de Maceió, Frederico Gueira Campos, que após as mudanças ficou responsável pelas demandas de parte dos índios de Pernambuco, o auxílio só será retomado após a análise dos processos. "A gente não pode sair pagando, temos de analisar. E eu não não vou admitir pressão, como aconteceu na unidade Recife. Tudo será feito, a partir de agora, dentro da legalidade. Eu não posso fazer nada se eles estão com fome, porque antes de comprar qualquer coisa eu tenho de licitar", disse.
http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/pernambuco/noticia/2010/04/19/indios-cobram-estruturacao-da-funai-219585.php
PIB:Nordeste
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