Num universo de 558 índios Karajá, quase metade da população, cerca de 214 (homens), dizem consumir bebidas alcoólicas, o que corresponde 38,40% da populaçaõ. Destes, 77% dizem ficar embriagados. A pesquisa realizada em 2004 pela Fundação Nacional de Saúde - Funasa, através do Distrito de Saúde Especial Indígena ( Dsei Araguaia), apontou números há seis anos já eram motivos de preocupação para o poder público. Porém, só hoje as cinco aldeias pesquisadas - Nova Tytemã, JK, Wataú, Santa Isabel, São Domingos e Fontoura - todas localizadas nas proximidades com o Rio ArNum universo de 558 índios Karajás, quase metade da população, cerca de 214 (homens), dizem consumir bebidas alcoólicas, o que corresponde 38,40% da população. Destes, 77% dizem ficar embriagados.
A pesquisa realizada em 2004 pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), através do Distrito de Saúde Especial Indígena (DSEI Araguaia), apontou estes números que há seis anos já eram motivos de preocupação para o poder público. Porém, só hoje as cinco aldeias pesquisadas - Nova Tytemã, JK, Wataú, Santa Isabel, São Domingos e Fontoura - todas localizadas nas proximidades com o Rio Araguaia, na região da Ilha do Bananal, que faz a divisa dos Estados do Tocantins e Mato Grosso, serão alvo de seminários que abordarão o alcoolismo nas aldeias. A ação é do Ministério Público Federal (MPF), em parceria com a Funasa, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Governo do Estado.
Na última semana, uma reunião realizada no MPF em Palmas, com os órgãos competentes, presidida pelo procurador da República Álvaro Manzano, determinou os dias e o local onde acontecerão os seminários. Em Santa Terezinha, o evento que terá caráter de diálogo e encaminhamentos sobre o alcoolismo na população indígena, acontecerá nos dias 21 e 22 de setembro. Nestes dias, devem ser ouvidos índios das aldeias Macaúba, Ibutuna, São João e Koriwi. Já nos dias 19 e 20 de outubro, a caravana realizará em São Félix do Araguaia o mesmo debate, com a participação das aldeias Santa Isabel, Fontoura, JK, Wataú e Aximi. Ambas as cidades ficam localizadas no Mato Grosso.
Segundo Manzano, a intervenção das autoridades será o ponto de partida para uma ação continuada nas aldeias. "Não será um evento isolado. Será o início de políticas públicas junto com os indígenas para sanar o problema", disse o procurador, que esteve na região no final do mês de junho, quando constatou que o problema de alcoolismo ganhava status de epidemia. "No dia em que estivemos lá um índio foi esfaqueado e segundo eles, esta era a sétima morte envolvendo embriaguez. É deprimente andar nas ruas e ver a quantidade de índios alcoolizados", conta o procurador. Ele lembra que da mesma forma que os não-índios, é preciso que haja o empenho do dependente para que qualquer programa atinja o resultado desejado.
De acordo com o DSEI, 58,02% karajás afirmaram querer se livrar do álcool contra 23,66% que manifestaram o desejo de continuar com o vício. Durante a reunião, também ficou acordado que o evento terá como umas de suas principais missões, a valorização do conhecimento das pessoas da comunidade, ou seja, o empoderamento de anciões e pajés. "Por mais desagregadas que possam estar as comunidades, estas pessoas ainda guardam conhecimento e autoridade", lembrou o antropólogo do MPF, Márcio Santos.
Sem trabalho
O consumo de álcool é um fenômeno preocupante e crescente entre as populações indígenas do país, e as autoridades afirmam que o problema é de difícil solução. Além da embriaguez, o consumo favorece a ocorrência de drogas, suicídio e prostituição em áreas indígenas.
"A proximidade com as áreas urbanas e a falta de expectativa aceleram esse distúrbio. O índio não está preparado para este sistema capitalista, e ele acaba sendo pressionado. Muitos não conseguem se alimentar com o que a natureza oferece e se veem obrigados a mudar o estilo de vida, mas não são acolhidos", explica Gilberto Xerente, líder do Movimento Indígena do Tocantins.
Gilberto afirma ainda, que os índios hoje vivem "preocupados com o fim de seus modos tradicionais de vida", o que, aliado à falta de políticas públicas, é um dos responsáveis pelo aumento do consumo do álcool. "Não é o fato de levar cursos, palestras e oficinas. Tem que oportunizar a vida dos indígenas, entende?", questiona o xerente.
Entre os karajá, a incidência de álcool eleva-se à medida que aumenta a faixa etária, decaindo nos 30 anos: 17,2% dos índios que ingerem bebidas alcoólicas tem de 15 a 19 anos; 30,9%, de 20 a 29 anos e 19,8% de 30 a 39 anos.
Meio urbano
O choque de culturas do índio com a do não-índio é sem dúvida um fator agravante nestes casos. A mesma pesquisa revelou que 21,3% dos índios karajás declarados alcoolistas são tidos como "sem ocupação". O maior índice de consumo de álcool se dá, segundo o estudo, entre os pescadores: 31,6%. "Eles não têm trabalho, vão para a cidade e não voltam mais. Muitas mulheres se prostituem por troca de cachaça", conta Eliete da Silva Xerente, presidente da Organização das Mulheres Indígenas do Tocantins.
Coordenador do levantamento do DSEI, o médico e antropólogo da Funasa, João Moreira Júnior, explica que os dados coletados darão subsídios para estudo antropológico ainda em fase de conclusão. Sobre o quesito "sem ocupação", ele explica que configura os casos de índios que não possuem nenhuma atividade dentro das categorias regulares como: artesão, pescador ou assalariado. "Isto não significaria ociosidade, pois estas pessoas geralmente desempenham várias atividades dentro da comunidade, não de forma regular e categorizada, mas esporádicas".
Para ele, a realização dos seminários será o início de ações que se somarão a outras, tanto no que tange às instituições, quanto à mobilização social. "É óbvio que estas ações devem ser pensadas e formatadas junto à comunidade. Não se pode pensar em ações como estas sob só um prisma, mas juntos pensar - se em ações e condutas", e completa: "Acredito não haver no mundo uma formula mágica tanto para indígenas, quanto para não indígenas; portanto o caminho a ser percorrido tem que ser trilhado por todos interessados. Desta forma, todas a ideias e propostas de consenso serão bem-vindas".
Saiba mais
Vale lembrar que o alcoolismo entre povos indígenas não se restringe somente aos Karajá, mas que é uma problemática presente em praticamente todas as etnias. Existe no Tocantins uma população aproximada de 10 mil indígenas, segundo informações do governo do Estado. Ao todo, são sete etnias: Karajá, Xambioá, Javaé (que formam o povo Iny) e os Xerente, Krahô Canela, Apinajé e Pankararu. Eles se distribuem em mais de 82 aldeias, em municípios de todas as regiões do Estado.
http://www.ogirassol.com.br/pagina.php?editoria=Geral&idnoticia=17872
PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins
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