Índios voltam a acampar

A Crítica - http://www.acritica.com/ - 23/08/2010
Famílias indígenas retiradas de invasão na Torquato Tapajós somaram às da Lagoa Azul e montaram barracos no conjunto Cidadão 12

Indígenas que vivem em Manaus voltam a acampar em protesto contra a demora em receber o benefício do programa de habitação do governo do Estado. Desta vez, "quartos" de lona foram armados pelas famílias em frente das casas do conjunto Cidadão 12, no conjunto Nova Cidade, bairro Monte das Oliveiras, Zona Norte, onde já vivem outras 12 famílias - três delas receberam casas na semana passada, as outras nove, em julho.

O novo acampamento é composto por oito famílias. Três são provenientes de um acampamento anterior, na Praça Dom Pedro II, e cinco do bairro Lagoa Azul, Zona Norte. Estas cinco são remanescentes da invasão ocorrida em 2008, desarticulada por uma operação de reintegração de posse.

As três famílias (das etnias apurinã, cocama e mundurucu) que estavam na Praça Dom Pedro são as únicas que ainda não foram beneficiadas pelo programa da Superintendência de Habitação do Amazonas (Suhab) após a reintegração de posse ocorrida em março, em um terreno da comunidade Parque São Pedro, no bairro Tarumã, Zona Oeste, apesar de já portarem o Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani).

Rozimar dos Santos, de nome indígena Xytara, é natural da aldeia Jatuarana, em Manacapuru. Mesmo com o Rani, ela ainda aguarda receber uma das casas do Cidadão 12. Outras duas famílias são as lideradas pela mundurucu Maísa Silva Rebelo e pelo cocama Jackson Luís Santiago. "Lá na Suhab nos disseram que era preciso apresentar o Rani. Já levamos, estamos cadastrados, mas ninguém liberou as casas. Não nos explicam o motivo", disse Rozimar.

Promessas
O indígena Jair Miranha, que foi um dos beneficiados com o programa, conta que o cadastro de todas as famílias que estavam na Praça Dom Pedro foi entregue à Suhab e que o restante ainda aguarda algum posicionamento do órgão.

Já as cinco famílias, todas da etnia cocama, provenientes de uma antiga invasão da Lagoa Azul, na Zona Norte, afirmam que aguardam por uma resposta da Suhab há dois anos. A indígena cocama Raimunda Ribeiro conta que a indenização recebida pelas famílias serviu para pagar despesas com os danos sofridos durante a reintegração e com o sustento temporário após a perda das casas.

"Ninguém nos disse que era para comprar casa.Só os 10 mil que eu recebi foi para pagar a madeira, o telhado, os móveis que a gente perdeu. O seu Sidney, presidente da Suhab, nos prometeu uma casa em novembro de 2009, mas até agora nada", disse ela, mostrando à reportagem um documento onde, de fato, Sidney de Paula se comprometia em doar residência aos indígenas da Lagoa Azul.

Suhab acena para resolver o problema
A reportagem tentou falar ontem com o presidente da Suhab, Sidney de Paula, mas ele não atendeu às ligações feitas ao seu celular. A assessoria de imprensa, contudo, atendeu à ligação. Segundo a assessoria, apenas 12 famílias acampadas na Praça Dom Pedro II estavam cadastradas na Suhab e que todas já foram beneficiadas. Sobre as três restantes, a assessoria disse que não deveriam estar no cadastro.

"Três famílias estavam devendo a documentação. Depois que apresentaram, elas receberam", informou a assessoria. Sobre as famílias da Lagoa Azul, a assessoria disse que elas não estão cadastradas, mas que está sendo "ensaiada" uma conversa entre a Suhab e a Secretaria Estadual dos Povos Indígenas (Seind). A assessoria informou que, na Suhab, estão inscritas 14 mil famílias para serem beneficiadas com o programa de habitação. Somente no Cidadão 12, estão previstas 800 casas.

http://www.acritica.com/noticias/Indios-voltam-acampar_0_322167788.html
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