Cresce o risco de derramamento de sangue na luta pela terra em MT

24 Horas News - http://www.24horasnews.com.br/ - 06/08/2012
Novos "Eldorado dos Carajás" assombram Mato Grosso. Como na cidade do Pará, a luta pela posse da terra está colocando posseiros, ruralistas e índios - e até a própria Polícia -a beira da eclosão de dois grandes conflitos em Mato Grosso. Com grandes chances de derramamento de sangue. O primeiro, bem conhecido, envolve a Terra Indígena Marãiwatsede, de 165.241 hectares, na região do Araguaia, a leste de Cuiabá. O outro, no Noroeste do Estado, envolvendo a demarcação da Terra Indígena Menkü, vai ganhando contornos tensos.

Na luta por esse território, já houve de tudo. Inclusive bloqueio de rodovia e briga entre os próprios índios xavante - um grupo dissidente se colocou ao lado dos posseiros. Segundo a 1ª Vara da Justiça Federal em Mato Grosso, a data de início da retirada dos não índios da área ainda vai ser definida. Quando ocorrer, a ação de retirada dos não índios deverá contar com a participação da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal. É onde mora o risco.

"Aqui tem muitos que só vão sair na última bala. Eu sou um deles" - garante William Oliveira da Silva, 27, em entrevista publicada pelo jornal "Diário de Cuiabá", ocupante da terra que a Justiça entregou aos índios Xavantes. Nas palavras do posseiro, o retrato do que poderá acontecer a partir da deflagração do processo de desintrusão da área - que se arrasta em discussão há anos.

O clima também ficou muito tenso na região Noroeste de Mato Grosso depois que a Fundação Nacional do Índio (Funai) obteve autorização dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 1o Região (TRF-1), em Brasília, para dar continuidade aos estudos de demarcação de área de ocupação tradicional não incluída à Terra Indígena Menkü, do povo Myky, com procedimento demarcatório concluído antes da Constituição de 1988.

Ruralistas e madeireiros interessados na ocupação da área estão sendo denunciados a fazer ameaças e também começaram a ocorrer casos de intimidações de forma sistemática. Dois homens encapuzados e armados invadiram a Casa de Saúde Indígena do município de Brasnorte, noroeste do estado de Mato Grosso. Um indígena Enawenê-Nawê foi abordado pelos invasores, segundo o Conselho Indigenista Missionário.

Organizados na Associação dos Produtores Rurais Unidos de Brasnorte (Aprub), os latifundiários realizaram manifestação no dia 14 de julho, pelas ruas de Brasnorte, contra o que chamam de ampliação da terra indígena sob o argumento de que a região perderá emprego e renda. O ataque à Casa de Saúde ocorreu nove dias depois do ato público.

De acordo com o Conselho, o território de 186 mil hectares reivindicado passou a ser estudado por um Grupo de Trabalho (GT) da Funai, constituído em 2007 - o processo de demarcação ainda não foi finalizado. Nessa área não demarcada atuam fazendeiros e madeireiros, que também agem dentro da terra indígena com processo administrativo concluído antes de 1988.

Apesar da decisão favorável aos indígenas do TRF-1, a briga está longe do fim: os ruralistas recorreram da decisão dos desembargadores e questionaram em contraposição o agravo de instrumento interposto pela Funai.

Mais de 100 locais dentro dos 186 mil hectares são apontados pelos indígenas como de importância tradicional. Nesses locais se encontram cemitérios, áreas de reza e ritual, de caça, retirada de mel, além da aldeia antiga, de onde foram expulsos por fazendeiros invasores durante os anos de 1970. Os episódios foram relatados à época pelo missionário Thomaz de Aquino Lisboa, que inclusive foi ameaçado pelos capangas dos fazendeiros invasores que compunham a frente de expansão agropecuária, segundo relata o CIMI.

Na região não demarcada encontram-se materiais essenciais ao convívio Myky: o tucum, material que retiram para o artesanato, castanhais e a taquara, material para confecção de flechas.

Na região, estradas são constantemente abertas para a passagem de carga e 200 mil metros cúbicos de madeira são retirados por mês do território, segundo a entidade indigenista. Entre os Myky, grupos de fiscalização do território percorrem semanalmente as terras de ocupação tradicional para coibir a depredação, bem como para registrar a ação ilegal de madeireiras. Foram inúmeras denúncias.



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