"ìndio não desmata", diz cacique líder de invasão em Iranduba

Em Tempo - http://www.emtempo.com.br - 18/09/2013
"Venham aqui, senhores doutores. Venham aqui, senhores do governo. Venham aqui ver quem está derrubando a floresta, se são os índios ou se são os brancos. Nós não estamos aqui para pagar o preço de ninguém". O convite foi feito ontem (17) pelo cacique Sabá Kokama, 51, o líder da invasão do KM 6 da rodovia Manoel Urbano (AM-070), no município de Iranduba.

Na impossibilidade de entrevistar o cacique no terreno da invasão, devido à forma hostil como os índios recebem jornalistas na área, fomos encontrar Sabá Kokama na 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, que está sendo realizada pela Pastoral Indígena, da Arquidiocese de Manaus.

Ao avistar a equipe do EM TEMPO, o cacique ergue os braços e acena, como se fôssemos velhos conhecidos. "Olha só, eu vou falar, mas sei que a imprensa só tem falado coisa ruim de nós", adverte o cacique, meio desconfiado. De cocar com penas de arara, Sabá explica que nasceu na terra indígena denominada Sapotal, em Tabatinga-AM, habitada somente por índios da etnia kokama.

- Até hoje nossa aldeia é formada por índios exclusivamente kokamas, não havendo interferências de não índios -, faz questão de registrar.

Sabá não abre mão do gravador, quer que a entrevista seja gravada para ser publicado somente aquilo que ele falar. Por um momento lembra o cacique Mário Juruna, que, nos anos 1970-80, gravava todas as promessas, "porque homem branco mente muito", dizia. A entrevista começa. Na primeira pergunta, Sabá Kokama se irrita.

- O que o senhor pretende com a invasão, que já vai completar dois meses e o que se vê é uma gigantesca área desmatada no meio da floresta e uma terra totalmente degradada?

- Isso não é verdade. Índio não devasta floresta. A terra ocupada pelos índios já estava devastada. E a que está sendo devastada agora não é a terra onde os índios estão assentados. Quem está destruindo hoje a floresta é o homem branco, que invadiu a terra ocupada pelos índios e estão desmatando, queimando -, reage o cacique.

Inteligente e ágil no pensamento, o cacique observa que tem uma foto na edição de domingo passado do EM TEMPO que mostra um homem com uma motosserra e "esse homem não é índio".

- Índio não tem motosserra. Mas aí a autoridade tem que ver direito para não acusar índio. Eu aprendi uma coisa: Eu só falo o que eu vejo, me sinto discriminado quando jogam essas informações contra a gente. É acusação de prostituição, tráfico de drogas, derrubada de árvores. Como podem nos acusar de tudo se é isso tudo que acontece no Brasil? Gostaria de perguntar para a autoridade onde está esse direito se Sabá Kokama garante que hoje existem 7 mil índios dentro da invasão do KM 6 da AM-070. Segundo ele, são índios de etnias miranha, kokama, apurinã, saterê-mauê, tukano, dessana e baré.

Diante da incredulidade do repórter em relação ao número, Sabá o desafia a chamar a Funai (Fundação Nacional do Índio) para conferir. - Todos os índios que estão comigo são cadastrados na Funai. Se o senhor não acreditar chame a Funai que ela tem o cadastro de todos.

O repórter insiste na pergunta, lembrando que no meio dos invasores também tem branco pintando a cara, pegando em arco e flecha, fazendo se passar por índio. Mais uma vez Sabá Kokama se irrita e por muito pouco não interrompe a entrevista:

- Não sei desses aí. Respondo pelo meu povo. Digo que tem 7 mil índios e estou convidando vocês para ir conferir. Quem está falando aqui é cacique de palavra. Não é cacique que foi criado na cidade, não. Eu sou cacique de aldeia e só falo a verdade.

Nas contas do cacique, contando com os brancos que pegaram "carona" na invasão, as terras de Iranduba já estão sendo ocupadas por 18 mil pessoas. "Mas acredito que vai chegar aos 22 mil", diz o cacique.

- Tem muita gente que precisa de moradia. Eu estou lá, mas não estou precisando de nenhum pedaço de terra porque você sabe que eu tenho uma tapera no parque Riachuelo. Então não estou lutando por mim, estou lutando pela causa do meu povo. Hoje estou reunindo aqui na conferência de saúde. Hoje sou aplaudido porque sou o primeiro cacique que ajuntou aos índios dentro de Manaus para buscar saúde dada pelo poder público -, diz, envaidecido, o líder indígena.



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PIB:Tapajós/Madeira

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