Educação tradicional Manoki

Gazeta Digital (Cuiabá - MT) - http://www.gazetadigital.com.br - 20/02/2015
Os Irantxe ou como eles se autodenominam de Manoki, são falantes de uma língua isolada, que passa por um processo de abandono após a fase de contato, podendo ser conduzido lentamente ao desaparecimento de importantes práticas sociais e culturais se nenhuma política pública for destinada a esta comunidade tradicional, que vive nas proximidades dos rio Cravari, na Terra Indígena Irantxe e na Terra Indígena Manoki, localizadas no município de Brasnorte, região noroeste de Mato Grosso.

A educação tradicional consiste num mecanismo fundamental para a valorização e manutenção das tradições, pois ela é transmitida dos pais para os filhos, que ensinam os seus conhecimentos tradicionais para que ela cresça já sabendo acerca da cultura e de seus antepassados.

Na medida em que a criança cresce, os Manoki vão mostrando e ensinando os jovens a manusear os seus instrumentos sagrados que, durante uma grande festa, os anciãos escolhem os jovens que consideram estarem prontos.

Os escolhidos ou considerados aptos no momento, são levados para a roça onde começa o ensino e a aprendizagem dos elementos estruturantes da organização social e cultural deste povo. Consiste exatamente nesse momento que começam aprender o que é de mais importante acerca de sua cultura e organização social como danças, mitos, pinturas artesanatos. Aprendem também a serem responsáveis pelas suas atitudes. Após o aprendizado de vários desses conhecimentos ancestrais é que cada indivíduo está preparada para o ritual de passagem que eles hoje denominam de batizado, que consiste no momento em que os anciãos perfura o nariz dos jovens do sexo masculino, recebendo neste ato um nome na língua indígena que irá usar para sempre.

Somente após esse momento é que os jovens do sexo masculino retornam para suas casas e a partir de então estão prontos para assumirem o identidade de homem e os direitos e deveres que lhes são atribuídos.
As jovens do sexo feminino são consideradas prontas quando encerram o período de reclusão, sob cuidados de uma das tias e não da mãe, aprendendo sobre a produção e preparação de alimentos, bem como os afazeres cotidianos de uma mãe de família que consiste em tecer algodão, preparar o tucum e as diferentes sementes usadas para fazer colares, brincos, chocalhos, entre outros objetos.

Nos dias atuais, como relatam alguns indígenas entrevistados, a forma de educação Manoki passou por profundas transformações, em ambos os sexos, não sendo mais praticados muitos dos ensinamentos mencionados anteriormente, passando a pessoa da fase de jovem para adulto sem dominar os conhecimentos tradicionais do povo. A ausência de uma política pública de valorização e registro por parte dos órgãos governamentais, contribui ainda mais para que as gerações futuras não interessem pelos conhecimento e a prática do saber ancestral de seu povo.


Elias Januário é educador, antropólogo e historiador. Escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br

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