A Ditadura e a destruição da Familia

Blog do Humberto/Agência Dinheiro Vivo - www.advivo.com.br - 19/11/2012
Nassif, leitores, (as)



Começa um movimento muito bonito de todo final de ano de reencontros de familiares. È muito emocionante ver filhos, maes, pais, avos, irmaos, etc se encontrarem, é uma festa, só sorrisos e alegria.

Nesta época de troca de presentes interfamiliar, muitos dos que sobreviveram à Ditadura recebem a dor.

No meu pedido de anistia nomeei a ruptura familiar como o fato mais impactante da minha vida. Perseguições, ameaças, torturas, exilio, vem depois.

Tudo começou exatamente em 1964.

Meu pai, funcionário do então governo destituído morreu instantaneamente. Com 15 anos, relacionei sua morte, com a tomada das ruas da cidade pelos tanques e tropas exército, que só conhecia em desfile de 7 setembro, com a Ditadura. A causa (acidente de carro) nunca me convenceu.

Oito anos depois resolvi constituir minha propria familia. Casei, fui pai.

Minha primeira familia desmoronou rápido. Fui pra amazonia lutar pelo meu sangue indigena, herança paterna. Abandonei tudo, emprego, esposa, filho de 2 anos. Estavámos no período mais repressivo da Ditadura. Brasilia era a porta principal para o exilio.

Fugindo da repressão mortal da aldeia onde morava, no local conhecida como região do araguaia, conheci minha segunda mulher em S.Paulo. Me deu o segundo filho. Fomos tentar viver juntos na Paraíba, no territorio indigena Potiguara, local dos meus ancestrais.



Fui pego pelos agentes do estado. Entre a vida e a morte, escolhi a vida.

De novo, outra ruptura, meu segundo filho tinha 4 anos. Desta vez para um exílio solitário em terras onde os indios viviam em casa construídas com pedra de gelos.

Protegido por leis internacionais, tudo indicava que poderia reconstituir minha familia. A esperança veio com um novo casamento e o terceiro filho.

Inicio 2010, "Brasil de todos", " Ame-o e Volte" dizia a presidenta eleita, também marcada por rupturas familiares.

Voltei. Minha luta seria me tornar o primeiro indio a receber Anistia e consequentemente abrir as portas para que o Governo atual incluisse na pauta da tal justiça de transição a questão dos Indios e a Ditadura.

Novamente, sem familia, meu filho de 15 anos e minha atual companheira esperam no Canada, o momento de reencontro, que nunca imaginávamos tão longos.

Meu processo na Comissão da Anistia pode ainda se arrastar por anos ( sem reconhecimento nao posso oferecer as minimas condições para reunir minha nova familia aqui no Brasil); a questão indigena e a Ditadura torna-se uma pedra no sapato do atual Governo que promete averiguar, mas está longe de agir.

Com quase 64 anos, vejo que a Ditadura me condenou a nao ter familia e que um novo feliz ano velho está no ar, 48 depois.

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PIB:Nordeste

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