Dia do Índio: cacique luta para manter tradições indígenas

Revide - http://www.revide.com.br - 19/04/2016
"Lugar de índio é na aldeia. Boi em terra alheia vira vaca". As afirmações são do Cacique Guaru, 56 anos, que lidera a aldeia pataxó Pé do Monte, a 200 quilômetros de Porto Seguro, Sul da Bahia. Fora da aldeia, Guaru se transforma em Ozil Santana Ferreira, seu nome em português, língua que ele fala com desenvoltura. Mantém, claro, o idioma nativo, o Pachorran.

Na véspera do Dia do Índio, na segunda-feira, 18, Guaru foi um dos atendidos pelo serviço de Odontologia da Organização Voluntários do Sertão, que reúne cerca de 400 voluntários em atendimento médico e odontológico em Santa Cruz Cabrália, a 23 quilômetros de Porto Seguro. Para buscar o atendimento, ele conta ter saído da aldeia por volta de 4h da manhã.

Enquanto aguardava atendimento, Cacique Guaru contou um pouco da vida na sua aldeia, que é habitada por 36 famílias, incluindo o seu pai, de 94 anos, que é o pajé da tribo. Nas proximidades de onde mora, há outras aldeias, como Corumbalzinho, Aldeia Nova, Alegria Nova, no município de Prado.

As comunidades, no entanto, já mais urbanizadas, estão longe de representar aquele povo de olhar sonolento que vivia da caça e da pesca. O próprio Guaru é tratorista e diz que há índios que também têm carteira de motorista. CPF, RG e Carteira de Trabalho é comum entre os nativos. A sobrevivência vem da produção de cacau, cupuaçu e pimenta do reino.

Nos 516 anos de convivência com o chamado homem branco, ou "Macau cak", em pachorran, as ações foram se misturando, assim como as culturas passaram a conviver, não tão harmonicamente, mas sobreviveram. Muitas tradições ainda são mantidas, mas outras se modificaram ou enfraqueceram.


Casamento e religião


A união de homens e mulheres é um desafio. "Há casamento de índio com não índio, mas preferíamos que não existisse, porque senão daqui a pouco não haverá mais tradições. Até aceitamos, mas sempre orientamos aos índios a se casarem dentro da aldeia. Mas se ocorrer, queremos que seja com respeito. Que o homem cuide bem da mulher", disse o cacique.

Segundo ele, na aldeia, quando um índio gosta de uma índia, apenas a leva para a casa de seus pais. Guaru mesmo tem quatro filhos já casados. Outros três ainda moram com ele.

Na religião também há "intromissões". Algumas igrejas, notadamente as de orientação evangélica têm realizado ações em aldeias. O cacique diz que não participa dos cultos. "Quem quiser participar, não proibimos, mas queremos que respeitam também os nossos rituais, que não zombem das nossas celebrações, que são realizadas pela união de todos", disse.



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