Na busca pelo maior pinheiro da reserva indígena de Mangueirinha

Jornal de Beltrão - http://www.jornaldebeltrao.com.br - 25/04/2016
No Dia Nacional do Índio - 19 de abril -, um desafio diferente foi lançado para um pequeno grupo liderado pelo cacique Milton Kokoj, da Reserva Indígena Kaingang, de Mangueirinha. Saímos para uma pequena aventura que batizamos de "Expedição Araucária Kaingang", com o objetivo de encontrar o maior pinheiro da reserva - quem sabe até do Paraná. A área é detentora da maior reserva de araucária do mundo, orgulha-se em dizer o cacique Milton. "Temos a maior reserva do mundo, e nosso compromisso com as gerações futuras é sua preservação, um desafio diário na conscientização da própria comunidade indígena e dos brancos no entorno", destaca o líder.

O pequeno grupo formado por professores, estudantes kaingangs, o engenheiro Marcos Talamini, do escritório regional do DER de Pato Branco, e equipe do Jornal de Beltrão e TV Sudoeste iniciou o deslocamento no meio da mata fechada. Um passeio cheio de surpresas, respirando um ar impregnado pelos cheiros da floresta, sons de pássaros ao fundo e barulhos indecifráveis para ouvidos mais atentos.

Segundo o cacique Milton, a proibição de sete anos de caça aos próprios índios fez com que os animais silvestres voltassem a ser avistados. "Hoje, quando o índio quer, vai para a floresta e encontra tatus, veados, tatetos e capivaras para caçar e alimentar a família", relata. Mas a caça não está mais no habito diário dos índios, que fazem incursões na mata mais para a catação de pinhão, que permite uma boa renda.

Toneladas de pinhão são comercializadas nesta época do ano, rendendo bons ganhos para as famílias. "Hoje o índio entende que o melhor para todos é preservar o pinheiro, que cortado rende uns R$ 200 e desaparece, mas em pé rende isso em pinhão facilmente, e no próximo ano vai render de novo", destaca.


Farmácia natural na floresta


Nossa caminhada segue no meio da mata, o objetivo é chegar ao maior pinheiro da reserva, que, segundo o grupo de kaingangs que nos guia, está perto, com a maior parte do percurso vencida de carro, em trilhas desafiadoras, cheias de atoleiros e troncos caídos. Uma parada determinada pelo professor de língua Kaingang, Alcides da Silva, que nasceu na reserva, saiu para estudar e hoje dá aulas na escola local, chama atenção para mais uma das riquezas da mata de araucária, as plantas medicinais. "Aqui na mata a gente encontra tudo o que precisa para tratar da saúde do índio", afirma.

O professor mostra uma planta rasteira que identificou como "sussuaia", excelente para aliviar as cólicas menstruais e utilizada por todas as índias. "Pega as folhas e faz um chá, funciona muito bem, e é utilizado pelos índios há tanto tempo que a memória já não alcança mais, num conhecimento que vem passando de geração em geração na reserva", declara.


A chegada ao pé do pinheiro, imponente no meio da mata


A chegada ao local da existência do maior pinheiro da floresta é emocionante. Segundo o cacique Milton, tem vários assim dentro da reserva, mas o que está à frente deve ser um dos maiores. "Nossos antepassados ainda crianças já contavam com este pinheiro entre eles", e arrisca dizer que o exemplar tem mais de 200 anos.

Cacique Milton conta, com tristeza, que já se "grilou" muito pinheiro da reserva, inclusive com a conivência dos próprios índios. "Aqui o madeireiro levava um pinheiro por R$ 200, hoje a gente sabe que uma única arvore dá isso em pinhão todo ano, por isso é importante a preservação para a própria sobrevivência futura do índio. Um pinheiro adulto produz todos os anos cerca de 200 quilos de pinhão, vendido hoje facilmente por R$ 5 o quilo, rendendo mil reais", compara. Nesta época do ano, chegam a ser colhidos no sistema de catação mais de duas toneladas de pinhão por dia. É sem dúvida o maior patrimônio da reserva, que também vive da agricultura com culturas como a soja e o milho.

Depois da verdadeira aula de história sobre a reserva, nossa atenção se volta para o engenheiro Marcos Talamini, que se somou ao grupo da expedição com a missão de medir a altura e o diâmetro do pinheiro. Para isso, utilizou um recurso moderno e um antigo. Uma trena a laser, que mediu com precisão a altura e o diâmetro, confirmados por um método pouco convencional. Com um estilingue e uma bolinha de chumbo amarrada a uma linha de pesca, Talamini arremessa a bolinha, que dá a volta sobre a copa do pinheiro.
Após mais de uma dezena de tentativas, dá certo. Agora o tira-teima, medindo comprimento da linha de pesca utilizada chegou-se às medidas de 37 metros de altura, 1,87 de diâmetro e 5,87 metros de circunferência. Foram necessários sete índios adultos para abraçar o tronco. Marcos Talamini disse ter se emocionado ao pé do pinheiro, árvore símbolo do Paraná. "Hoje, estar perto de uma árvore centenária como essa é um privilégio para poucos, e só possível em reservas protegidas como as áreas indígenas do Estado", afirma.

Missão cumprida, encontrado o pinheiro e comprovada sua beleza e imponência no meio da mata de araucária. Mais uma lição clara de que é preciso preservar a natureza, em sua fauna e flora, para que as gerações futuras não sejam privadas de imagens como as que testemunhamos na "Expedição Araucária Kaingang".

Agradecimentos especiais ao líder indígena Cacique Milton, pela autorização para entrada na reserva.



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