O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante, em Barra do Garças, a 516 km de Cuiabá, foi ocupado, na tarde desta quinta-feira (29), por indígenas da região que reivindicam a saída do coordenador distrital Joel Hipólito Goes.
Segundo as lideranças, ele estaria usando a estrutura para campanhas eleitorais durante o expediente de trabalho, além de tentar colocar os indígenas contra o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Os indígenas reivindicam a exoneração de Joel Hipólito, que ainda seria suspeito de incitar outras pessoas a votarem em candidatos (à prefeitura e vereadores) do seu interesse, alegando que aqueles que não votassem nos candidatos propostos por ele teriam desassistência de equipes de saúde em suas aldeias.
Segundo o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI), Daniel Maratedewa, a ocupação é pacífica e visa restabelecer o atendimento de saúde para os índios da região.
"Estamos aqui (na sede do DSEI) com outras 60 lideranças, indignados com a postura do gestor Joel Hipólito. Pois a saúde não é mercadoria, exigimos uma postura ética do coordenador, que apoiado por outros políticos, usa o cargo de administrador do Distrito para fins eleitoreiros, deixando de lado o atendimento dos povos indígenas da nossa região", destacou.
Uma das representantes da Associação de Mulheres Xavantes, que pediu para não se identificar temendo represálias, acusa o atual gestor de descaso e total descompromisso com ações de atenção básica nas aldeias xavantes.
"Infelizmente a situação do nosso povo só piorou, desde a entrada do Joel. Não há administração na CASAI (Casa de Apoio à Saúde Indígena), não houve nenhum tipo de ação proposta por essa gestão, para desenvolver a saúde dos nossos 'parentes'. Vivemos uma situação de calamidade na saúde, as mulheres e crianças estão morrendo. Queremos uma pessoa com sensibilidade de saúde pública e não que use da saúde para realização política eleitoreira. O nosso protesto é pacífico, só tem a intenção de pedir socorro aos nossos povos", ressaltou.
Segundo o líder xavante, um documento com as reivindicações da comunidade sobre a conduta do coordenador será encaminhada ainda nesta quinta-feira (29), para o Ministério da Saúde e SESAI.
Desassistência do DSEI
Os indígenas cobram, ainda, melhores condições e compromisso da gestão do DSEI. Segundo eles, por desassistência e desorganização desta atual gestão, 79 crianças indígenas morreram, na localidade em 2015, segundo o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o mais alto índice registrado entre os Distritos do estado do Mato Grosso.
De acordo com o órgão, as principais causas das mortes entre as crianças com até cinco anos de idade foram pneumonia, diarreia e gastroenterite. O documento aponta a falta de assistência na área da saúde como um dos principais problemas.
Na aldeia xavante de Campinápolis, a 565 km de Cuiabá, há denúncia de aumento dos casos de tuberculose e a falta de atendimento médico. De acordo com o relatório, neste ano já foram registrados 180 casos de infectados com a doença, enquanto em 2010 foram apenas cinco casos.
Os xavantes da região de General Carneiro, a 449 km da capital, relataram o desrespeito à cultura e ao modo tradicional de vida indígena. Conforme o documento, a substituição de alimentos típicos, como a batata-doce, abóbora e a mandioca pela farinha branca, causou naquela comunidade, um surto de diabetes.
Nas terras indígenas de Sangradouro e Volta Grande, a prevalência da doença chega a 28,2%. A diabetes atinge 7% da comunidade geral da etnia.
http://midianews.com.br/cotidiano/xavantes-ocupam-distrito-sanitario-e-exigem-a-saida-de-coordenador/276430
PIB:Leste do Mato Grosso
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