Indígenas de Mato Grosso participam de Encontro Estadual de Agroecologia

Funai- http://www.funai.gov.br - 14/12/2016
Cerca de 15 indígenas Paresi, Nambikwara, Bakairi, Kanela, Kayapó e Chiquitano participaram do 7o Encontro Estadual de Agroecologia e Feira de Roças e Quintais de Mato Grosso, realizado de 29/11 a 2/12, em Cuiabá (MT). A Funai apoiou a participação de oito agricultores das etnias Paresi e Nambikwara, que apresentaram seus produtos na Feira.

O cacique Benedito, da Aldeia Paraíso, que fica na Terra Indígena Paresi/MT, é conhecido na região como guardião de sementes e foi um desses participantes. O agricultor indígena e sua família têm o costume de plantar, multiplicar e trocar sementes e insumos tradicionais, tais como milho, mandioca, feijão e amendoim. Na Aldeia Paraíso, já foram realizadas três feiras de sementes e insumos tradicionais da etnia Paresi com o apoio da Coordenação Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento (CGETNO/Funai), contando com um público crescente de indígenas a cada ano. A quarta edição já está prevista para ocorrer em fevereiro de 2017.

Durante o 7o Encontro Estadual de Agroecologia e Feira de Roças e Quintais de Mato Grosso, Benedito Pareci trocou diversas sementes e insumos por outras sementes e mudas de árvores frutíferas. Benedito levou ainda para a Feira uma farinha diferenciada de mandioca branca, de granulagem média e sabor levemente adocicado, bastante elogiada.

Márcio Bakairi, da Terra Indígena Santana, que participou da mesa "Comida de Verdade no Campo e na Cidade - Experiências em Agroecologia", lembrou que a agroecologia sempre esteve presente entre os povos indígenas, mas que "agora é que a sociedade não-indígena está 'identificando' as agriculturas indígenas como agroecológicas". Para ele, é fundamental resgatar as sementes tradicionais e as plantas medicinais e substituir a comida industrializada pela alimentação mais natural. Márcio avalia que a alta incidência de doenças crônicas está associada à má alimentação predominante nas cidades.

Ao analisar a conjuntura atual da agroecologia no Brasil, os participantes apontaram como uns dos principais impactos sobre a agricultura familiar a pulverização aérea de agrotóxicos, a mineração e seus rejeitos, além de outras práticas que causam desequilíbrio ambiental dos agroecossistemas. Márcio Bakairi defendeu a territorialidade como fator importante na vivência da agroecologia entre os povos indígenas. "Não há como pensar em agroecologia entre os povos indígenas dissociada da sua relação cultural com o território", afirmou.

O indígena falou ainda sobre a importância dos saberes da mulher indígena e dos velhos na agroecologia e alertou para a destruição da biodiversidade e da riqueza vegetal do Cerrado, que tem grande potencial alimentar e medicinal. Além disso, "três grandes aquíferos no subsolo do Cerrado estão diminuindo, pois não há recarga suficiente, e também estão retirando as reservas ali formadas", complementou. A explicação é que, quando se retira a vegetação de Cerrado trocando-a por qualquer outra, a água não infiltra no solo como deveria e o nível dos aquíferos fica menor a cada ano. As plantas do Cerrado têm dois terços de sua estrutura (raízes) no subsolo, e é por essas raízes profundas que a água consegue penetrar através do solo impermeável desse bioma, para alimentar o lençol freático e os aquíferos. As raízes das plantas da agricultura e de outros biomas têm raízes extremamente superficiais, impedindo que a água chegue aos lençóis freáticos.

O 7o Encontro, organizado pelo Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (Gias), com apoio da Fundação Banco do Brasil e do BNDES, foi realizado como parte final de um projeto de apoio a pequenos agricultores familiares no estado de Mato Grosso, para estruturação de sistemas produtivos agroecológicos entre diversos públicos da agricultura familiar. Um desses projetos foi desenvolvido junto ao povo Chiquitano, por meio do Centro de Tecnologia Alternativa (CTA), e apontado pelos organizadores como referência para outras comunidades.



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