Funcionários que atuam em área indígena estão com medo de embarcar em aeronaves

Folha Web folhabc.com.br - 06/07/2017
Com o registro de dois acidentes aéreos em menos de 15 dias com uma empresa aérea que faz voos para as áreas indígenas, os técnicos da área da saúde que atuam nas comunidades e prestam serviços para o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) relatam que estão receosos de embarcar para novas viagens.

Os funcionários se reuniram com os coordenadores dos Distritos Yanomami e Leste, além de outros representantes, para tratar sobre o assunto. "O distrito informou a todos que as aeronaves estão em dia, mostraram documentos e laudos das manutenções e fiscalização da Agência Nacional de Aviação Civil [Anac]", disse um funcionário que pediu para não ser identificado.

"Questionamos sobre os acidentes que estão acontecendo. O coordenador vai pedir a documentação que é emitida pela Anac. O sindicato vai solicitar dos órgãos fiscalizadores competentes que seja solicitado agilidade e transparência nas perícias", complementou outro funcionário.

Conforme uma das funcionárias do Distrito, que também pediu para não ser identificada, a maioria das viagens é realizada pelo Distrito Yanomami, porém, o Distrito Leste também realiza esporadicamente alguns deslocamentos. "Eles alegam que está tudo em dia. A verdade é que tem aviões novos, sim, mas a grande maioria oferece risco. Nós cansamos de viajar com gasolina e botija de gás junto com a tripulação", disse. "Na época do período chuvoso, também voamos com tempestade, com os colegas achando que o avião iria rachar ao meio. É um medo muito grande, mas a gente tem que ir", acrescentou.

A funcionária salientou que os trabalhadores têm medo de represália. "A verdade é que a gente pode se negar a entrar em um avião, mas a situação é que a gente está indo para uma área indígena distante. São muitas horas de voo. Você acaba arriscando também em prol do benefício das outras pessoas", afirmou se referindo à saúde dos indígenas que dependem de seus trabalhos.

"Como todo emprego, você acaba ficando com aquele medo de represália. A grande maioria não relata exatamente por isso, com medo ou até por comodidade. Todo mundo faz isso e acaba deixando acontecer", complementou.

DISTRITOS - A Folha tentou contato com os Distritos Sanitários no local e por telefone, porém, não obteve sucesso. O Dsei-Yanomami informou que somente o coordenador poderia atender a equipe de reportagem e, após um tempo de espera, o jornal não foi atendido.

No Dsei-Leste, o coordenador não quis atender e informou, através de uma secretária, que "o Distrito estava aguardando informações da empresa responsável pelo táxi-aéreo e "que não foram comunicados sobre a suposta insatisfação dos funcionários".

CASOS - O medo dos profissionais aumentou depois que um monomotor CESSNA caiu em uma área de mata fechada no município do Cantá, região centro-leste de Roraima, próximo ao fim da pista da empresa de táxi-aéreo Paramazônia, por volta das 11h de segunda-feira, 03. O avião havia sido alugado pelo Exército para transporte de pessoal em uma área onde está sendo realizada a Operação Curare VIII, que atua no combate a crimes em área de fronteira.

Cinco pessoas estavam a bordo do avião no momento do acidente. Morreram no local o piloto da empresa Paramazônia, Marcos Costa Jardim e os funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), Sebastião Lima Ferreira Júnior, Olavo Perim Galvão e Alexandre Rochinski. O único resgatado com vida foi Lazlo Macedo de Carvalho, também servidor da instituição.

O outro acidente com o avião da mesma empresa ocorreu no dia 14 de junho, quando o piloto Elcides Rodrigues Pereira, "Peninha", e o técnico em enfermagem Ednilson Cardoso saíram para realizar um atendimento aos indígenas. O piloto teve que realizar um pouso de emergência na área quando uma das hélices da aeronave quebrou depois de uma hora de viagem. Eles conseguiram sair do avião e chegar à margem do rio, esperando pelo resgate.

A empresa enviou um helicóptero para auxiliar as vítimas do acidente. A equipe jogou uma corda para resgatar os dois, mas o piloto perdeu as forças e não conseguiu se segurar na corda, quando foi levado pela correnteza. O técnico chegou a pular de novo no rio atrás dele, porém, não conseguiu encontrá-lo. (P.C.)

Anac diz que empresa está legalizada

Com relação ao acidente aéreo, que vitimou o piloto da empresa Paramazônia Táxi Aéreo e quatro servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), além de ter deixado outro em estado grave, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que todas as informações referentes ao caso estão sendo coletadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, que é o órgão responsável por investigar as causas e direcionar as recomendações aos demais órgãos envolvidos para a adoção das medidas cabíveis, caso sejam necessárias.

"Após o acidente, a Agência verificou os certificados e licenças da empresa, aeronave e piloto, que estavam todos válidos. A adoção de outras medidas só são tomadas se houver indícios de irregularidades", frisou.

Exército afirma que contrato para transporte aéreo atendeu às exigências

O Exército se posicionou sobre os contratos firmados com a empresa área Paramazônia Táxi Aéreo para envio de equipes com o objetivo de atuar na Operação Curare VIII, que visa o combate a crimes ambientais e de garimpo nas fronteiras.

Segundo informações repassadas pela 1ª Brigada de Infantaria de Selva, os contratos foram firmados no valor de R$ 29.988, para fins de transporte de pessoal e material, por meio de pregão eletrônico do Governo Federal.

Questionados se o Exército acreditava que ainda iria permanecer com o contrato, a 1ª Brigada ressaltou que não faz nenhum juízo de valor em relação à empresa. "A empresa foi contratada dentro do processo licitatório legal e apresentou todas as condicionantes para a contratação no ato de apresentação da documentação", informou por meio de nota.

EMPRESA - A Folha tentou contato com a empresa Paramazônia por telefone e na sua sede, localizada no município do Cantá, a centro-leste do Estado, mas foi informada por um funcionário que os diretores estavam em horário de almoço e que não poderiam atender a equipe de reportagem. (P.C.)




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PIB:Roraima/Mata

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