Lideranças indígenas da região Serras/ Raposa Serra do Sol aprovam rodízio de projeto do gado em Assembleia regional

CIR cir.org.br - 22/02/2018
Enquanto as velhas falácias de que os povos indígenas da Raposa Serra do Sol, de Roraima, passam fome, que não produzem nada, ou que estão no lixão de Boa Vista, a realidade nas regiões é outra. Ao contrário disso, vivem em uma realidade de trabalho coletivo, sustentável, geração de renda e de fortalecimento da luta pelo viver das comunidades e povos indígenas, após reocupação dos seus territórios, historicamente, invadidos.

Um exemplo desse trabalho coletivo trata-se da Assembleia regional de aprovação do projeto de gado da região das Serras, realizada nos dias 11, 12 e 13 no Centro Campo Formoso, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Campo Formoso é uma das comunidades indígenas da região das Serras mais distantes, onde o acesso é aéreo, ou terrestre pela fronteira da Venezuela e outras comunidades indígenas da região.

Conforme contou o Tuxaua geral da região, Zedoeli Alexandre foi uma Assembleia bastante produtiva, com a participação de 150 lideranças indígenas, Tuxauas, coordenadores de centros, de projeto de gado, vaqueiros, mulheres, jovens e outras lideranças que não mediram esforços para chegar até o local e participar do momento de discussão, decisão e deliberação coletiva sobre o projeto de gado, prática cultural, que já existe há mais de 40 anos de luta e resistência dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol.

Um dos principais objetivos da Assembleia foi o repasse do projeto de gado às comunidades indígenas que, a partir da decisão coletiva, assumiram o compromisso de permanecer com o projeto por cinco anos. As comunidades atendidas pelo projeto são: Urucá, Pedra Preta, Maturuca, Prototo, Lage, Makukem, Santa Liberdade, Sol Nascente, São Gabriel, Manaparu, Salvador e Pedra Branca.

Inicialmente, segundo a ata da Assembleia, foi apresentando o levantamento do projeto de gado na região das Serras, dividido entre o projeto M* com um total de 3.839, projeto comunitário 4.371, familiar 6.366 e da Funai, 23 reses, um total de 18 mil reses somente na região das Serras, contando com as comunidades indígenas que não estiveram no local e não apresentaram o seu quantitativo.

Durante a Assembleia, as lideranças também apresentaram suas preocupações quanto alguns projetos de gado que estão entrando nas comunidades indígenas sem uma ampla discussão. Por exemplo, o projeto oriundo de emenda parlamentar do deputado Federal Édio Lopes que, segundo as lideranças indígenas, não houve consulta e nenhum esclarecimento prévio sobre as origens do projeto, muito menos a sua condição de manejo.

Como resultado da Assembleia, foram repassados 12 lotes do projeto de gado, correspondendo uma quantidade de 624 reses e um total de R$624 mil, segundo a contabilidade das lideranças indígenas.

Outra deliberação importante da Assembleia foi o repasse de gado ao povo indígena Wai Wai em 2019, conforme reivindicado pelas lideranças Wai Wai e firmado na segunda reunião Ampliada do CIR, realizada no mês de dezembro, na comunidade indígena Anauá, Terra Indígena Wai-Wai. Ainda este ano, as lideranças indígenas da região das Serras devem ir à terra indígena Wai Wai para verificar as condições de estrutura.

O Tuxaua Zedoeli avaliou que desde a década de 80 quando o projeto chegou à região houve avanço e hoje possuem 57 projetos distribuídos em várias comunidades indígenas, totalizando 18 mil reses. Além disso, cada vez mais as comunidades indígenas se fortalecem, melhorando as condições de vida e gerando renda para a própria região.

Quanto à geração de renda, o Tuxaua avaliou que corresponde a uma alternativa alta para a região e isso responde, claramente, as mentiras propagadas na mídia de que Raposa Serra do Sol não é alternativa de renda para o Estado, segundo o Tuxaua. "Também foi feito uma avaliação da geração de renda na região e concluímos que trouxe muitos benefícios às famílias, e isso corresponde uma alternativa muito alta para a região, onde é consumido não somente a carne, mas banana, farinha, arroz e outros produtos, porém, a carne é potencial da nossa região", avaliou Zedoeli.

"Dizer também do que se fala na mídia, que Raposa Serra do Sol não corresponde a uma alternativa para o Estado, isso não é verdade. A Raposa Serra do Sol tem uma autonomia própria, as comunidades indígenas criam outros animais, e a gente trabalha no coletivo. Então, o que se fala na mídia é mentira" afirmou o Tuxaua geral, que veio a sede do CIR nesta semana para divulgar a realização da Assembleia regional.



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PIB:Roraima/Lavrado

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