Prêmio Culturas Indígenas - 4ª Edição Raoni Metuktire

Racismo Ambiental - https://acervo.racismoambiental.net.br/ - 10/01/2013
Prêmio Culturas Indígenas - 4ª Edição Raoni Metuktire

10/01/2013

O Prêmio Culturas Indígenas foi criado pelo Ministério da Cultura em 2006, a partir de indicação do Grupo de Trabalho para as Culturas Indígenas, hoje Colegiado Setorial das Culturas Indígenas. A cada edição o Prêmio é realizado por uma organização indígena em parceria com o MinC. Neste ano, a organização indígena proponente é a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul - ARPINSUL.

O Prêmio é concedido a comunidades indígenas que estão realizando ações e trabalhos de fortalecimento de suas expressões culturais, e/ou que divulguem seus modos e concepções de vida para outros segmentos da sociedade brasileira.

Desde a sua primeira edição, em 2006, foram premiadas 256 iniciativas de valorização cultural e até a sua terceira edição o total do recurso repassado em prêmios foi de R$ 5.518.000,00. Somando-se este valor ao recurso previsto para a presente edição, teremos o total de R$ 7.168.000,00 repassados diretamente para as comunidades indígenas em todo o Brasil.

O edital do Prêmio Culturas Indígenas busca desburocratizar e facilitar de várias formas a participação efetiva dos povos indígenas nas políticas públicas. Uma destas maneiras é a valorização e o reconhecimento da oralidade como forma de expressão indígena. Assim, o Formulário de Inscrição pode ser respondido oralmente, com a gravação das respostas em áudio ou vídeo. Além disso, são realizadas oficinas regionais para elaboração de projetos e divulgação do Prêmio Culturas Indígenas, com o objetivo de facilitar o acesso à informação de maneira qualitativa.

Este ano a liderança homenageada pelo Prêmio Culturas Indígenas é Raoni Metuktire.

O líder indígena Raoni Metyktire* é conhecido, no cenário nacional e internacional, como um importante defensor dos direitos indígenas e da proteção das florestas. Os Mebengokre (Kayapó), povo do qual este líder faz parte, estão situados em aldeias espalhadas pelos estados do Mato Grosso e do Pará e encontram-se divididos em subgrupos, sendo que Raoni pertence ao subgrupo Metyktire.

Raoni teve um papel fundamental em diversos episódios da história indígena e sua luta persiste até os dias atuais, destacando-se a sua mobilização contrária à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte - a qual afetará negativamente o modo de vida de vários povos indígenas e de ribeirinhos, causando diversos problemas socioambientais, - e pela demarcação da Terra Indígena Kapôt Nhinore (PA), território ancestral que há mais de 30 anos é reivindicado pelo povo de Raoni.

Em 1953, os Villas Boas fizeram seus primeiros contatos com os Metyktire. Raoni foi o primeiro Metyktire a aprender falar português, sendo nomeado "capitão" pelos irmãos Villas Boas na aldeia de Porori, no Parque do Xingu. Raoni foi o principal intermediário com esses administradores no Parque até a aposentadoria deles.

No ano de 1971, Raoni e os Metyktire destacaram-se na mídia em razão da sua resistência à construção da estrada BR-080, que amputou a porção setentrional do Parque Indígena do Xingu, onde moravam.

Em 1984, Raoni encabeçou a reivindicação pela demarcação de parte do território Mebengokre à margem direita do rio Xingu. Tal demarcação correspondia a uma promessa não cumprida do governo federal. Os Metyktire exigiam também a demarcação do cerrado (que corresponde a seu território ancestral denominado kapoto). Raoni e os Metyktire bloquearam por mais de um mês a estrada BR-080, no norte do Mato Grosso. Depois de tal episódio, Raoni foi a Brasília e no gabinete do então Ministro do Interior, Mario Andreazza, selou um acordo relativo às suas reivindicações (o governo concordou em expropriar uma parte da área exigida pelos Metyktire, na beira leste do rio, e o kapoto foi decretado área de ocupação indígena, tendo sido homologada, posteriormente, em janeiro de 1991). Nesse momento, Raoni deu um puxão de orelha em Andreazza e lhe presenteou com uma borduna, configurando uma imagem registrada pela imprensa e que se tornou emblemática da luta de Raoni pelas causas de seu povo. Raoni disse ainda a Andreazza: "aceito ser seu amigo, mas você tem que ouvir o índio!". Cabe enfatizar que a recuperação do kapoto representou uma grande conquista, sendo que o reconhecimento legal da área encerrou anos de conflitos com o governo.

Raoni teve uma atuação bastante significativa durante o processo da Assembleia Constituinte entre os anos de 1987 e 1988, participando de várias mobilizações por garantia de direitos na Constituição de 1988. Após muitos debates e ações que contaram com a participação ativa do movimento indígena, foram garantidos, com essa Constituição, os direitos fundamentais dos povos indígenas, em particular com respeito às suas terras.

Em fevereiro de 1989, Raoni e outras lideranças indígenas realizaram o Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA). Neste evento, protestou-se contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Xingu (que incluía a usina Kararaô, hoje chamada de Belo Monte), contando com a presença de centenas de índios de diversos povos, da mídia nacional e internacional, de ambientalistas, de lideranças como Ailton Krenak e Marcos Terena, de autoridades como o então diretor da Eletronorte (Antonio Muniz Lopes) e, ainda, do cantor inglês Sting, de quem Raoni obteve apoio contra a obra. O evento teve repercussão mundial e foi encerrado com a exigência de revisão dos projetos de desenvolvimento para a região do Xingu, através da Campanha Nacional em Defesa dos Povos e da Floresta Amazônica e com o lançamento da Declaração Indígena de Altamira. A obra foi então temporariamente paralisada, porém retomada no ano de 2010.

Ainda no final da década de 1980, Raoni e Sting empreenderam uma viagem por vários países, em uma campanha em prol da demarcação dos territórios indígenas e em oposição à construção de Belo Monte. Como resultado do auxílio internacional angariado por Raoni, foram criadas organizações não governamentais com vistas a proteger as florestas e os Mebengokre, como a Rainforest Foundation e a Fundação Mata Virgem, sua filial no Brasil. Em 1992, a Fundação Mata Virgem financia a demarcação, liderada por Raoni, da Terra Indígena Mekragnoti (PA).

Recentemente, Raoni obteve também o apoio de outras celebridades contra a construção de Belo Monte, a exemplo do cineasta canadense James Cameron, que visitou Altamira (PA) em 2010 e em 2011, e do ex-presidente da França Jacques Chirac, o qual o líder indígena conheceu em viagem à França, com o objetivo de divulgar sua causa, em 2010. Raoni tem também participado de vários protestos contra a obra, tendo, por exemplo, liderado um grupo de indígenas, durante a Rio+20, a cerca de um quilômetro da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável.

Assim, a trajetória de luta desse líder faz dele um ícone, mundialmente reconhecido, da reivindicação pelos direitos indígenas e da resistência contra a violação de tais direitos.

Fontes:

- Site do Instituto Socioambiental: www.socioambiental.org.br

- LEA, Vanessa. 2012. Riquezas Intangíveis de pessoas partíveis: Os Mebengokre (Kayapó) do Brasil Central. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp.

Texto: Roberta Neves (graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Atualmente cursa o mestrado em Antropologia Social nessa mesma instituição, pesquisando a trajetória e a repercussão do líder indígena Raoni Metyktire, sob orientação da professora Vanessa Lea).

Revisora técnica: Vanessa Lea (antropóloga, professora da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Trabalha com o povo de Raoni desde 1978).

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Compartilhada por Andrei Danilo Guarani Kayowá.

http://www.premioculturasindigenas.org.br/

https://acervo.racismoambiental.net.br/2013/01/10/premio-culturas-indigenas-4a-edicao-raoni-metuktire/
Índios:Política Indígena

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