Documentário mostra indígenas isolados Awá em risco na Amazônia
por Karla Mendes en 7 Outubro 2019 | Translated by Juliana Cambiucci
Documentário lançado recentemente revela cenas de um grupo de indígenas isolados da etnia Awá Guajá, caçadores-coletores descritos pela ONG Survival International como o grupo indígena mais ameaçado do planeta. Os Awá Guajá vivem na floresta amazônica, no estado do Maranhão.
As cenas foram capturadas por acaso pelo cinegrafista Flay Guajajara, membro da Mídia Índia (plataforma de produção de conteúdo indígena por indígenas de várias etnias), durante uma expedição de caça com outros indígenas Guajajara na terra indígena Araribóia, uma das mais ameaçadas do país.
Os Awá compartilham a reserva Araribóia com seus parentes Guajajara. No final de 2012, os Guajajara formaram um grupo conhecido como "Guardiões da Floresta" e arriscam suas vidas combatendo a exploração de madeira ilegal para proteger a floresta e a vida dos Awá.
Em agosto de 2018, em áreas remotas da floresta amazônica no Maranhão, uma expedição de indígenas Guajajara foi surpreendida repentinamente por um assovio inesperado. O som veio dos indígenas isolados Awá Guajá, caçadores-coletores descritos pela ONG Survival International como os indígenas mais ameaçado do planeta.
Os Awá Guajá, que não viram os Guajajara, foram filmados pelo cinegrafista Flay Guajajara, membro da Mídia Índia - plataforma de produção de conteúdo indígena por indígenas de várias etnias. As cenas fazem parte de um documentário de 13 minutos lançado em 23 de julho em São Paulo. Uma sequência mostra o acampamento dos Awá Guajá vazio, com redes e ferramentas de caça, enquanto outra cena mostra um dos integrantes do grupo isolado cheirando um facão deixado na área por forasteiros, sem saber que estava sendo filmado.
O documentário "Ka'a Zar Ukyze Wà - Os donos da floresta em perigo", revela a vulnerabilidade dos Awá Guajá na terra indígena Araribóia, uma das mais ameaçadas do país. Os Awá compartilham a reserva Araribóia com seus parentes Guajajara, que criaram os "Guardiões da Floresta," um grupo que arrisca suas vidas para lutar contra a exploração de madeira ilegal na terra indígena.
Esse documentário mostra "a nossa história, as nossas vidas, a nossa sobrevivência... mostra a invasão dos madeireiros na Araribóia... [e] nossas atividades para proteger o pulmão do mundo e os Awá", disse à Mongabay o cacique Olímpio Iwyramu Guajajara, líder dos cerca de 120 "Guardiões".
"Muitas pessoas duvidaram [da existência] dos Awá isolados... Agora existe prova... [Mas] essas imagens foram capturadas por acaso - [Os Guajajara] foram caçar e não sabiam que iam encontrá-los... Respeitamos o direito deles de não querer contato", explicou o cacique, destacando a importância do documentário como meio de resistência contra o governo de extrema direita do Presidente Jair Bolsonaro, a quem ele chama de "anti-indígena e antifloresta".
Captura de tela do documentário "Ka'a Zar Ukyze Wà - Os donos da floresta em perigo" mostra um integrante do grupo dos indígenas isolados Awá Guajá cheirando um facão deixado por forasteiros, sem saber que estava sendo filmado.
Captura de tela do documentário "Ka'a Zar Ukyze Wà - Os donos da floresta em perigo" mostra um integrante do grupo dos indígenas isolados Awá Guajá cheirando um facão deixado por forasteiros, sem saber que estava sendo filmado.
Desde que Bolsonaro assumiu a presidência, ele anunciou medidas polêmicas, como planos de abrir territórios indígenas para a mineração e o agronegócio em larga escala, bem como propostas para enfraquecer leis e órgãos ambientais. Embora a maioria dessas medidas ainda precise ser implementada, alguns opositores dizem que a eleição de Bolsonaro incentivou madeireiros ilegais e grileiros a invadir terras indígenas e desmatar a Amazônia, fatos para os quais há fortes evidências.
Dados oficiais de desmatamento para o ano de 2019 serão liberadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) somente no final do ano mas os sistemas de alerta do INPE detectaram uma área desmatada de 5.048 km2 para os 12 meses anteriores a 30 de junho de 2019, um aumento de cerca de 12,5% sobre o ano anterior na Amazônia Legal, uma denominação federal que inclui a área total ou parcial de nove estados brasileiros.
Nos últimos 10 meses, uma média mensal de 517 alertas de desmatamento e mais de 1,2 mil km de trilhas de desmatamento ilegal foram detectados na Araribóia pelo sistema de monitoramento de alertas do Instituto Socioambiental (ISA).
"A situação na Araribóia piorou durante este governo. Este ano, os Guardiões realizaram cerca de 10 operações contra madeireiros ... colocamos fogo em todos os acampamentos de madeireiros que encontramos", disse Olímpio. Ele ponderou, porém, que os madeireiros fugiram e nunca houve conflito durante as operações dos Guardiões.
O grupo dos Guardiões foi criado no final de 2012 e já destruiu cerca de 200 acampamentos de madeireiros ilegais, segundo Olímpio. Ele disse ter esperança de que o novo documentário sensibilize a população mundial sobre a situação precária dos Awá e que possa ajudar os Guardiões a obter suporte financeiro para criar uma ONG e um site para receber doações para ajudar os Guardiões a proteger o território Araribóia.
"Essas pessoas que estão aí, que agora foi capturado muito de perto a sua imagem, eles se assustaram com essa aproximação. Isso mostra o tamanho da ameaça e da vulnerabilidade que eles estão passando. Como é que tem gente que tem coragem de dizer que os indígenas hoje estão preparados pra viver sem a sua casa, sem o seu território?", disse Sônia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em um depoimento no documentário.
Enquanto Flay Guajajara terminava sua filmagem do grupo isolado, ele permitiu que o Awá o visse rapidamente para que ambos guardassem "a imagem um do outro".
"Será que a gente vai se ver novamente?" ele pergunta no documentário, deixando a pergunta sem resposta. Analistas temem que o avanço rápido do "Arco de desmatamento" destrua as terras ancestrais dos últimos povos isolados da Amazônia.
O documentário termina com uma canção Guajajara sobre os Awá: "No meio da floresta, eles estão lá... os Wazayzar hehe... Eles são da floresta, eles são da floresta. No meio da floresta, eles estão lá."
O filme foi dirigido por Flay em parceria com Erisvan Bone Guajajara e Edivan dos Santos Guajajara, também da Mídia Índia. O documentário, que foi lançado no Youtube em 24 de julho com legendas em inglês, espanhol, e indonésio, foi produzido pela Mídia Índia, ISA e Instituto Catitu.
Legenda da imagem do banner: Captura de tela do documentário "Ka'a Zar Ukyze Wà - Os donos da floresta em perigo" mostra um integrante do grupo isolado Awá Guajá.
Artigo original: https://news.mongabay.com/2019/08/new-film-reveals-at-risk-uncontacted-awa-tribe-in-brazilian-amazon/
Artículo publicado por Maria Salazar
https://pt.mongabay.com/2019/10/documentario-mostra-indigenas-isolados-awa-em-risco-na-amazonia/
PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins
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