Após atentado contra índios Guajajaras, BR-226 é bloqueada no Maranhão

G1 - https://g1.globo.com - 08/12/2019
Rodovia foi interditada após o atentado que matou dois caciques e feriu outros dois indígenas nesse sábado (7), no município de Jenipapo dos Vieiras.

O trecho da BR-226 na altura das aldeias indígenas Boa Vista e El Betel, localizado entre os municípios de Barra do Corda e Grajaú, foi bloqueado de acordo com a Polícia Rodoviária Federal do Maranhão (PRF-MA). A via foi bloqueada por índios da etnia Guajajara após o atentado que matou dois caciques e feriu outros dois indígenas no sábado (7), no município de Jenipapo dos Vieiras.

Com galhos e pedaços de madeira, os indígenas bloquearam três pontos da rodovia. Motoristas que precisam passar pelo trecho da BR-226 foram orientados a desviar suas rotas pela BR-010, BR-222 ou pela BR-135, que vai de São Luís até o município de Paraibano, no Maranhão.

Por conta do bloqueio, foi registrado um congestionamento de veículos de mais de 1,5 quilômetro. Policiais rodoviários acompanharam a manifestação e trabalharam para tentar desobstruir a rodovia que foi interditada por volta das 13h30 desse sábado (7). A Polícia Militar do Maranhão também esteve na área para evitar novos conflitos.

A PRF informou que as cargas de dois caminhões chegaram a ser saqueadas. No início da manifestação, os índios chegaram a atacar com pedras um ônibus que trafegava pela região. As janelas do veículo foram quebradas e a ação causou pânico e medo nos passageiros.

Atentado a indígenas no Maranhão

Um atentado foi registrado a índios da etnia Guajajara nesse sábado (7) na BR-226, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, no município de Jenipapo dos Vieiras, localizado a 506 km de São Luís. A ação criminosa terminou com a morte dos caciques Firmino Silvino Guajajara e Raimundo Bernice Guajajara. Outros dois índios ficaram feridos, entre eles Nelsi Guajajara.

Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), os índios foram atacados logo depois de saírem da aldeia Coquinho, onde lideranças de várias aldeias da região participavam de uma reunião com representantes da Eletronorte, para tratar da compensação aos índios pela passagem do linhão de energia elétrica dentro das terras indígenas.

De acordo com o coordenador da Fundação Nacional do Índio em Imperatriz (Funai), Guaraci Mendes, o atentado pode ter relação com os constantes assaltos que acontecem no trecho da rodovia federal que compreende as aldeias indígenas.

Os dois índios feridos estão internados na Unidade de Pronto Atendimento de Jenipapo dos Vieiras (UPA) sob proteção policial. Segundo o último boletim emitido pela Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão (Sedihop) um dos indígenas estava com hemorragia interna e aguardava ser transferido para o hospital em Presidente Dutra. Já o outro índio foi ferido em uma das pernas e tinha previsão de alta para este domingo (8).

Após o atentado, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, lamentou o ocorrido e informou que a Polícia Federal enviou uma equipe para o local e que o caso será investigado. Moro ainda disse que vai analisar a viabilidade do deslocamento da Força Nacional para a região. As polícias Civil e Militar e a Funai também acompanham o caso. Até o momento, nenhum suspeito do crime foi preso.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB no Maranhão, Rafael Silva, informou que o órgão está preocupado com o novo ataque indígena que aconteceu um mês após o assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara, no Maranhão.

Entidades e lideranças reagem

Em um vídeo enviado ao G1, a líder indígena Sônia Guajajara se manifestou sobre o caso e solidarizou com os familiares das vítimas.

"É com profundo pesar e indignação que externo meus mais sinceros e profundos sentimentos aos familiares de Firmino Silvino Prexede Guajajara e Raimundo Guajajara que, neste momento, sentem a dor e a tristeza de perderem pessoas queridas por tamanha brutalidade que hoje fez novas vítimas dentre o Povo Guajajara", disse Sônia.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), se manifestou por meio de uma rede social e disse que as forças estaduais vão auxiliar as autoridades federais no caso.

"Minha solidariedade às vítimas de violência contra povos indígenas. As equipes estaduais de segurança estão colaborando com as autoridades federais competentes para questões indígenas. Policiais civis já em atuação", escreveu o governador.

Crimes contra índios

Há um mês, o líder indígena Paulo Paulino Guajajara foi morto durante uma emboscada na Terra Indígena Araribóia, na região de Bom Jesus das Selvas no Maranhão. O conflito também causou a morte do madeireiro Márcio Greykue Moreira Pereira e deixou ferido o primo de Paulo Guajajara, Laércio Guajajara.

Paulo Paulino Guajajara era membro dos 'Guardiões da Floresta', um grupo de índios que vigia, protege e denuncia madeireiros com o intuito de proteger a natureza. Os conflitos entre madeireiros e indígenas já haviam sido denunciados às autoridades, e as ameaças aumentaram após a apreensão de veículos utilizados na extração ilegal de madeiras em terras indígenas no Maranhão.

O índio Paulo Paulino Guajajara estava incluído no Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos (PPDDH). Após o crime, outros três guardiões também estavam incluídos no programa, foram retirados das aldeias e levados para lugares sigilosos. O retorno deles para as aldeias depende do fim das ameças.

De acordo com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), de 2016 a 2019, 13 indígenas foram mortos em decorrência do conflito com madeireiros no Maranhão. O assessor jurídico e membro da SMDH, Antônio Pedrosa, afirmou que nenhuma das pessoas envolvidas nos casos foi identificado ou levado a julgamento.




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PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins

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