Mortes: Primeira indigenista do Acre é referência na educação

FSP, Cotidiano, p. B2 - 19/02/2024
Mortes: Primeira indigenista do Acre é referência na educação
Dedê Maia iniciou nas causas indígenas em 1978, quando foi batizada como Same Innãny pelos Huni Kui

Adriano Alves

19/02/2024

Dedê Maia dedicou a vida à luta pela educação dos povos indígenas no Acre. Durante décadas, formou professores indígenas nas aldeias e acompanhou de perto suas escolas.

"Ela tinha a concepção de que o trabalho da educação indígena diferenciada valoriza a língua indígena", afirma o amigo Terri Aquino, 77.

Dedê iniciou sua caminhada por terras indígenas acompanhando Terri, pesquisador da área. Começou dando aulas para organizar a contabilidade dos seringais e aproveitava para ensinar crianças.

Foi a primeira professora da aldeia São Vicente, na Terra Indígena Kaxinawá do rio Humaitá. Em 1978, foi batizada como Samē Innãny pelo seu povo, os Huni Kui.

Esteve entre o grupo que fundou a CPI-Acre (Comissão Pró-Indígenas do Acre). Atuou na revitalização das tradições de vários povos originários no estado e foi mentora do seu Centro de Documentação e Pesquisa Indígena.

Reunindo cartas que escreveu durante sua estadia na floresta, lançou em 2020 o livro "Viagem Pelos Rios do Interior". E, nos últimos anos, dedicou-se ao audiovisual. Por seu trabalho, recebeu o prêmio Chico Mendes de Resistência 2023.

"A Dedê sempre foi uma mulher muito forte, determinada e presente", diz a coordenadora executiva da CPI-Acre Vera Olinda, 60.

Djacira Maia de Oliveira nasceu em Rio Branco, em 1945. Era a mais velha de quatro irmãs. A família, tradicional acreana, tem raízes nordestinas e indígenas. Mas foram criadas sem essa informação. O pai havia sofrido muito preconceito e tinha vergonha da origem.

Aos 11, foi estudar em um colégio interno no Rio de Janeiro. De temperamento rebelde, perdia o direito de sair aos fins de semana e sua família teve que se mudar para acompanhá-la.

Dedê estudou piano e foi autodidata em educação popular. Adorava cozinhar e cuidar das plantas no jardim, dom que herdou da mãe.

Casou-se em 1964, em sua cidade natal, mas com o fluminense Climério Rodrigues Coube, de quem foi vizinha em Niterói (RJ). Com o economista, voltou ao sudeste e ficaram juntos até 1977. Tiveram três filhos, aos quais ela dizia: "o que a vida quer da gente é coragem".

"Minha mãe sempre foi um exemplo de luta e, sobretudo, de resiliência", diz a filha Patricia Oliveira Coube, 54.

A indigenista teve um câncer de útero em 2017, fez o tratamento e se curou. Mas ficaram sequelas graves. Nos dois últimos anos, teve problemas de circulação e ficou com dificuldade para andar, o que a impediu de voltar às aldeias.

Morreu no dia 3 de fevereiro, aos 78 anos. Deixa os filhos Maria Esther, 58, Marcelo, 57, e Patricia, 54; os netos Lucas, 36, Antônio, 21, Luiza, 21, e Francisco, 20; e o bisneto Cauê, 2.

FSP, 19/02/2024, Cotidiano, p. B2

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/02/mortes-primeira-indigenista-do-acre-e-referencia-na-educacao.shtml
PIB:Acre

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