Documentário leva voz de indígenas de Peruíbe à ONU

A Tribuna - https://www.atribuna.com.br - 20/11/2024
Mundos Cruzados está em festival das Nações Unidas, em Portugal

Às vezes, a voz não nasce na garganta, mas de um filme nas telas. No fim deste mês, uma dessas vozes voará da Terra Indígena Piaçaguera, em Peruíbe, direto para Cascais, em Portugal. O minidocumentário Mundos Cruzados, um apelo da indígena Suri Lavine, ou Jerá Reté Mirim, seu nome guarani, foi selecionado no Festival de Vídeo para a Juventude Plural +, iniciativa da Organização Internacional da Migração (OIM). O festival será dia 25 de novembro, como parte da 10a edição do Fórum Global da Aliança das Civilizações das Nações Unidas (do inglês, Unaoc), que ocorre de 25 a 27 deste mês.
"A gente quer dar visibilidade ao povo indígena e a outros povos que sofrem com desigualdade", resume Suri, que tem apenas 15 anos, o objetivo do filme. Segundo o diretor Daniel Abrahão (ou Karaí Jekupé, em guarani), a ideia do minidocumentário, que tem quatro minutos, surgiu durante as filmagens de um documentário mais amplo sobre a terra indígena e seus habitantes, Ninguém Respeita a Areia.

"No meio das gravações, senti uma ansiedade dela sobre o dia a dia na escola, a interação entre os mundos", explica. Essa ansiedade era fruto de perguntas dos outros alunos do tipo 'você come pessoas?'. Ou tachá-la de 'suja' por chegar à escola às vezes ainda pintada de jenipapo ou urucum, após rituais na aldeia. "Ela era o alvo, por ser indígena, diferente. E bullying entre nações é xenofobia. Por isso, o nome Mundos Cruzados: são dois mundos que não andam juntos".


A reverência à natureza
Entre um e outro mundo, um abismo, especialmente de compreensão. Como Suri explica, a terra é sagrada aos indígenas. "O respeito pela natureza é o mais importante: é de onde vem a vida, o alimento".

Já o ser humano ocidental enxerga a natureza como algo à parte, quase como um oponente que deve ser subjugado. Essa diferença de visão explica muitos problemas enfrentados hoje pela humanidade. Ao contrário, além do respeito, os indígenas integram ser humano e natureza. "Quando morremos, alimentamos a terra, para dela outros seres se alimentarem", resume Suri.

O ser humano e o sagrado
Aliás, essa simbiose com a natureza ultrapassa as necessidades do corpo para estimular e preservar a dimensão transcendente, a vivência do sagrado, também tão necessária ao ser humano. A começar por seu próprio nome, que deve conferir proteção e força espiritual. É escolhido de acordo com a necessidade de quem será batizado, em um ritual no final do ano ou início de novo ano, em momento definido pelo Xe'ramõi, o mais velho e mais sábio na cultura guarani.
Aos 42 anos, formado em design e arquitetura, morando na cidade, mas com ascendência indígena, a partir da realização dos documentários, Daniel voltou a abraçar suas origens e se tornou Karaí Tekupé, que no seu caso quer dizer Guardião Próximo aos Deuses. "Foram 20 horas de ritual, nunca participei de algo tão difícil, mas tão bonito".

Uma beleza que deve ser reconhecida e respeitada, como todas as culturas, tradições, saberes do mundo. Suri resume seu maior sonho, que também é um apelo. "Quero que os genocídios acabem. Muitas pessoas morrem, enquanto outras pensam em dinheiro. Quero cuidar da minha família, para um futuro em que tantos povos não precisem sofrer".

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