A saúde de Sísifo em território yanomami
Mortes causadas por malária caem, mas casos da doença sobem; reprimir garimpo não basta para acabar com crise sanitária
09/03/2025
São bem-vindos os avanços na situação de saúde entre os yanomami nos últimos dois anos, como a redução no número de mortes.
Contudo os espectros da malária e da desnutrição permanecem, a demonstrar que a eficácia de políticas públicas não depende apenas de boas intenções. É preciso, ademais, ampliar a transparência dos dados.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reverteu medidas desumanas de Jair Bolsonaro (PL), que alinhava-se a interesses de garimpeiros ilegais. Milhares deles invadiram o território yanomami levando destruição ambiental, vetores de doenças e caos social.
Com o estopim da crise sanitária em 2023, a gestão federal expulsou invasores e reconstruiu a atenção básica à saúde na remota e extensa terra indígena.
Segundo o Planalto, entre 2023 e 2024, as mortes causadas por malária recuaram 35%, e as por desnutrição, 68%. O governo atribui o êxito ao aumento de 155% no contingente de profissionais do setor e à ampliação do atendimento em 268%.
Entretanto os casos registrados da doença subiram de 14 mil para 18 mil. O salto pode ser explicado em parte pelo acréscimo de 73% no número de testes. Mesmo assim, trata-se de incidência escandalosa, dado que a população local soma 32 mil pessoas.
Há explosão de infecção respiratória aguda, com alta de 272%. Foram 11.484 casos notificados no primeiro semestre de 2024, ante 3.133 no mesmo período de 2023.
O déficit nutricional entre crianças menores de cinco anos de idade se estabilizou, mas continua a representar um fator de risco para aquelas acometidas por infecções das vias aéreas.
Com tal cenário epidemiológico, portanto, uma situação de emergência sanitária persiste.
Apesar da menor presença de forasteiros para infectar indígenas, a perturbação do ambiente ocasionada pelo garimpo multiplicou criadouros de mosquitos transmissores de patógenos. O plasmódio da malária, por exemplo, parece estar circulando de modo sustentado entre os próprios indígenas.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) reivindica que o governo federal produza informações mais detalhadas e frequentes sobre a saúde yanomami. Elas são decisivas para reorientar o enfrentamento do problema, que não pode mais se limitar a prevenir casos graves e demandaria impedir também os leves, para interromper a circulação de patógenos.
Expulsar 90% dos garimpeiros ilegais do território, já se vê, foi somente o primeiro passo.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/03/a-saude-de-sisifo-em-territorio-yanomami.shtml
PIB:Roraima/Mata
Related Protected Areas:
- TI Yanomami
As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.