Índios mantêm cem reféns em rodovia do AM

O Globo, O País, p. 12 - 03/05/2008
Índios mantêm cem reféns em rodovia do AM
Comandante da PM diz que indígenas têm armas de fogo, prefeitura teme que bloqueio provoque desabastecimento

Hélida Tavares

Os índios da etnia apurinã que há dois dias bloqueiam a BR-317 perto de Boca do Acre, no Amazonas, estão mantendo como reféns cerca de cem motoristas, nas proximidades do quilômetro 70 da rodovia. Os índios impedem a passagem de veículos e pedestres pela rodovia, que liga Boca do Acre a Rio Branco, no Acre. Eles protestam contra a situação precária da estrada e exigem que toda a reserva indígena seja atendida pelo programa do governo federal Luz para Todos.
A Polícia Militar tem a informação de que os indígenas estão usando armas de fogo. Eles também furaram os pneus dos veículos, impedindo a saída de motoristas da área da reserva.
O comandante da PM em Boca do Acre, major Fernando Bó, classificou a atitude dos índios como cárcere privado, crime previsto pelo Código Penal.
- As pessoas estão detidas, mantidas cárcere privado e em péssimas condições. Eles estão dormindo nos carros e lá não há banheiros - disse.
Quem chegou ao local do ato, na última quarta-feira, foi impedido de seguir para Boca do Acre ou retornar a Rio Branco.
Segundo Fabiano Bó, por terem o apoio de pecuaristas da região, os índios estão bem alimentados e fornecem comida aos motoristas e pedestres.
Funai foi acionada para negociar com os índios
A chefe de gabinete do prefeito de Boca do Acre é uma das pessoas mantidas na reserva.
Moradores de Boca do Acre conseguiram escapar pela mata e relataram a situação dos demais motoristas à PM. A Funai no Acre já foi acionada e deve começar a negociação hoje.
As pessoas não tem nada a ver com o movimento dos índios - disse o comandante.
Segundo a prefeitura de Boca do Acre, o protesto provoca grandes prejuízos ao município, que diariamente recebe de Rio Branco alimentos, verduras e combustível. A prefeitura informou que, se o bloqueio não acabar em dois dias, os postos de gasolina vão ficar sem combustível e os mercados, sem alimentos. A Polícia Rodoviária Federal do Acre informou que planeja ir ao local para apurar a denúncia de cárcere privado.
De acordo com a assessoria de comunicação do Ministério dos Transportes, em Brasília, a administração da rodovia está sob a responsabilidade do Governo do Amazonas desde 2006, quando os dois órgãos firmaram um convênio. Em razão da falta de ações do governo estadual, que não fez obras na estrada, o convênio será rompido, e a BR-317 passará, novamente, a ser administrada pelo ministério.

O Globo, 03/05/2008, O País, p. 12
PIB:Juruá/Jutaí/Purus

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