Líderes Ashaninka Moisés e Benki denunciam que invasão de terras indígenas brasileiras causa conflitos entre etnias
Insatisfeitas em devastarem o seu quinhão na floresta amazônica sul-americana, as madeireiras do Peru avançam agora sem piedade por sobre as matas da Amazônia brasileira, principalmente no vizinho Estado do Acre, na fronteira com aquele país.
Lutando há quase cinco anos contra as madeireiras peruanas que fazem incursões temporárias em seu território, os índios Ashaninka, habitantes do município de Marechal Thaumaturgo, no extremo oeste da selva acreana, denunciaram novamente a grande ameaça que vem do outro lado da fronteira brasileira.
Após denúncias anteriores dos índios sobre o mesmo problema, o governo peruano praticamente nada fez para impedir as ações das madeireiras de seu país e o governo brasileiro fez apenas alguns sobrevôos e incursões do Ibama e de policiais federais nas regiões da fronteira acreana onde costumam ocorrer os desmates ilegais patrocinados por empresas peruanas.
Em entrevista ao portal da Globo Amazônia durante encontro da Rede Povos da Floresta, ocorrido no Rio de Janeiro, os líderes indígenas e irmãos Benki Pianco e Moisés Pianco, disseram que a ação de madeireiras peruanas em local próximo à fronteira do Brasil tem colocado em risco comunidades de índios brasileiros.
Segundo informou Benki Pianco, que vive na aldeia ashaninka Apiwtxa, o avanço da indústria madeireira no Peru tem feito com que comunidades isoladas, que viviam pacificamente na região, invadam terras indígenas de outras etnias, provocando conflitos. "Eles estão numa situação de vida ou morte. Ou brigam com outros povos, ou entram em confronto com as madeireiras", informa.
Bebida e prostituição
O líder ashaninka também denunciou que grande parte da madeira explorada naquela região do Peru provém de terras indígenas. "Eles oferecem dinheiro pela madeira e as comunidades ficam dependentes disso. É causado um impacto social que destrói a cultura, tira o equilíbrio das comunidades. Aí entra a bebida, a prostituição", destacou Pianco.
Os dois líderes ashaninka disse que, para defender suas terras da destruição, a comunidade Apiwtxa tem lançado mão da arma tecnológica que é a comunicação via internet. Um computador movido a energia solar e uma antena para conexão permitem que a aldeia ashaninka, que fica em uma região de difícil acesso, possa denunciar os problemas da região.
"Queremos que as pessoas possam fiscalizar o seu próprio território", disse Moisés Pianco, irmão de Benki, ao explicar que a internet já permitiu que fosse criado um grupo de trabalho transfronteiriço para discutir os problemas daquela região de fronteira.
Segundo o portal Globo Amazônia, a idéia de utilizar a Internet para conectar e defender comunidades isoladas é o que move a Rede de Povos da Floresta, formada por índios, afro-descendentes, populações ribeirinhas e seringueiros. Com o apoio do ONG Comitê para Democratização da Informática (CDI), o grupo já instalou cinco postos de comunicação como o dos Ashaninka.
Nesta quinta-feira (9), no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Os idealizadores da rede se reuniram com estudiosos e ambientalistas na semana passada no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, para encontrarem formas de aumentar o alcance de suas ações.
O líder indígena Ailton Krenak disse ao portal que estava muito feliz pelo fato de hoje os índios poderem fazer na Amazônia um "empate" virtual, utilizando a tecnologia da Internet para proteger seus territórios. Os "empates" foram protestos realizados nas décadas de 1970 e 1980 por seringueiros liderados por Chico Mendes, em que grupos de pessoas impediam pacificamente a ação de madeireiras nos seringais.
PIB:Acre
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