Foram mais de oito meses de investigação que levaram à identificação de cinco grupos criminosos que atuam para manter o garimpo ilegal na reserva indígena, sendo formados por aviadores, empresários ligados ao ramo de joalheria e proprietários de balsas e motores para a extração de ouro.
"É uma operação que pela sua estatura e forma que foi desenvolvida é inédita no Brasil. Pela primeira vez nós logramos alcançar o motor econômico da atividade garimpeira em Roraima", informou o superintendente da PF, delegado Alexandre Saraiva.
A Justiça Federal expediu 33 mandados de prisão temporária a serem cumpridos em Roraima, no Amazonas e no Mato Grosso do Sul. Até o final da manhã de ontem 25 pessoas haviam sido presas. Uma ordem judicial cassou a licença de oito pilotos presos durante a operação e de um mecânico.
Um dos aviões apreendidos: pilotos usavam pistas clandestinas em fazendas
Conforme o coordenador da Operação Xawara, o delegado Ricardo Duarte, durante a operação de inteligência, foi apontado o envolvimento de três empresas que receptavam o ouro, oito pilotos e um mecânico de aeronave que auxiliavam na lavra ilegal do ouro levando insumos para o garimpo e ainda de seis empresários proprietários de balsas e motores para a extração do ouro.
Além dos mandados de prisões, 44 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em empresas de aviação, joalherias e outros. Documentos, anotações, maquinário, ouro e pedras e metais preciosos foram recolhidos. Com um dos garimpeiros presos foram encontrados 6 kg de ouro, com valor estimado de R$ 613 mil, além de dinheiro em espécie.
Também foram concedidas onze autorizações para apreender aviões utilizados para a manutenção do garimpo ilegal. Até ontem, cinco haviam sido encontrados em fazendas ou pistas de pouso clandestinas. Autorização para apreender ainda 12 veículos utilizados pelo grupo foi concedida pela Justiça.
O delegado Ricardo Duarte informou que existiu durante a investigação um longo período de interceptação telefônica autorizada pela Justiça. Os policiais conseguiram fotografar, filmar e presenciar o cometimento de vários crimes pelo grupo identificado.
"A Polícia Federal tem a certeza que o dever institucional foi cumprido porque nós fizemos cessar, se não definitiva, mas por um longo período, a extração do ouro que é de propriedade de todo o povo brasileiro", ressaltou o coordenador da Operação Xawara.
O procurador da República Rodrigo Timóteo, durante coletiva à imprensa, lembrou que a resolução para a atividade garimpeira ilegal é reivindicação antiga dos indígenas, principalmente dos Yanomami. "Estamos batendo no ponto econômico da quadrilha e esperamos que sem o órgão financiador, os indígenas possam ver banida essa atividade ilegal dentro da sua terra", destacou.
A operação Xawara continua até que todos os mandados de busca e apreensão e os de prisão expedidos pela Justiça sejam cumpridos. Além dos agentes da Superintendência da Polícia Federal em Roraima, efetivo policial de outras superintendências do país está no Estado e dão apoio durante a ação policial.
XAWARA - É o termo utilizado genericamente pelos índios com o fim de designar a palavra epidemia e para definir as doenças causadas pela fumaça que emana do processo de precipitação do ouro através da queima do mercúrio. (Leia mais na página 11A)
Xawara em números
33 mandados de prisão
44 mandados de busca e apreensão
25 pessoas presas
12 aviões a serem apreendidos
12 veículos a serem apreendidos
6 quilos de ouro retidos
Comparsa do traficante internacional Leonardo Mendonça é um dos presos
O piloto Amarildo Berigó é investigado por outros crimes
Dentre os investigados pela Polícia Federal durante a Operação Xawara, estão pessoas condenadas e investigadas pela prática dos crimes de tráfico de drogas, genocídio, homicídio, contrabando, garimpo ilegal, formação de quadrilha e corrupção passiva e ativa.
O piloto Amarildo Berigó, uma das 33 pessoas com mandado de prisão temporária expedidos pela Justiça Federal, é apontado como comparsa do traficante Leonardo Mendonça, acusado por associação para o tráfico internacional e ainda de comandar uma quadrilha de dentro do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO).
De acordo com investigações, o traficante Leonardo Mendonça e outros envolvidos formaram organização criminosa especializada no tráfico internacional de cocaína colombiana e boliviana, com atuação no Suriname, Venezuela, Guiana, e nos estados de Goiás, Tocantins, Pará, Mato Grosso e também em Roraima.
Ainda entre os presos durante a Operação Xawara está o dono de balsa Pedro Emiliano Garcia, condenado pelo genocídio de índios no caso conhecido por "Massacre de Haximú", ocorrido em 1993 quando vários índios morreram após confronto com garimpeiros, na reserva Yanomami.
"Não estamos investigando pessoas comuns que participam no garimpo. São criminosos que tem o crime como forma e modo de viver", ressaltou o delegado Ricardo Duarte, coordenador da Operação Xawara.
Confira o nome dos presos que deram entrada no Sistema Penitenciário:
1. Amarildo Oliveira Berigó - piloto de aviação
2. Jose Joaquim Ortiz - comerciante
3. Ernande Nascimento Anísio - motorista
4. José Aires de Oliveira - autônomo
5. Jorge Nonato Rocha - comerciante
6. Joaquim Oliveira Goularte - aviador
7. José Donizete do Amaral - piloto de aviação
8. Merandolino José Ferreira de Macedo - piloto
9. Nívea Silva de Araújo - vendedora
10. Valdir José do Nascimento - empresário
11. Wanderley Correia da Silva - garimpeiro
12. Raulino Maciel - desempregado
13. Jadir Rodrigues Costa
14. Ivanilde Carvalho Silva
15. Drielly Maria de Castro
16. Maria de Nazaré de Castro
17. Ronisson Gonçalves Lima
18. Rogério Souza da Silva - motorista
http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=132653
PIB:Roraima/Mata
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