Garimpo na reserva Roosevelt rende R$ 1,5 bilhão por ano, diz governo

O Globo, O Pais, p.16 - 25/04/2004
Garimpo na reserva Roosevelt rende R$ 1,5 bilhão por ano, diz governo

A GUERRA DOS DIAMANTES: ‘NÃO CHEGAMOS À JAZIDA CERTA. O TRABALHO NEM COMEÇOU’
Pedras são de boa qualidade e podem ser vendidas a preços elevados

PORTO VELHO. Mesmo com o massacre de 29 garimpeiros no início do mês e o cerco do Exército, aventureiros permanecem nas imediações da reserva Roosevelt esperando um dia voltarem ao garimpo com ou sem a permissão dos cintas-largas. O risco de vida tem um preço: o potencial das minas de diamantes da reserva é de um milhão de quilates por ano, o equivalente a US$ 500 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão), segundo cálculos extra-oficiais de técnicos do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Ministério das Minas e Energia. — Os diamantes da reserva de Roosevelt são de boa qualidade, estão acima da média. Podem ser vendidos por preços elevados — afirma Deolindo de Carvalho, chefe do 19o Distrito do DNPM, em Rondônia. Segundo o Sindicato dos Garimpeiros de Rondônia, já foram extraídos aproximadamente US$ 8 bilhões em diamantes em cinco anos de garimpo na reserva e até agora as sete supostas grandes minas da área estão intocadas. Só em 2001, numa das três grandes operações de obstrução do garimpo, a Polícia Federal, com a ajuda do Exército, tirou cerca de cinco mil garimpeiros que faziam a extração de forma individual ou em grupos com máquinas pesadas. — Ainda não chegamos à jazida certa. Lá tem sete grandes minas e não acertamos nenhuma delas ainda. O garimpo nem começou — disse Eugênio Ribeiro Cavalcante, o Maguila, de 59 anos, um dos diretores do sindicato dos garimpeiros.

‘É IMPOSSÍVEL IMPEDIR O GARIMPO CLANDESTINO’

Diretor do sindicato diz que ‘o governo vai regularizar tudo’ PORTO VELHO. O maranhense Eugênio Cavalcante, o Maguila, está há quatro anos em Espigão do Oeste, base dos garimpeiros que exploravam o garimpo na reserva Roosevelt. Diretor do sindicato que tem nove mil filiados, Maguila sustenta que a legião de garimpeiros que está em Espigão, Cacoal, Pimenta Bueno e outras cidades vizinhas à reserva vai permanecer ali até que o governo libere o garimpo dentro das áreas indígenas. O massacre dos 29 garimpeiros e o cerco montado em torno da reserva por mais de 250 homens do Exército e da Polícia Federal não esmorecem os garimpeiros. Eles sabem que o general Jorge Félix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional do governo federal, esteve na reserva e prometeu regularizar a exploração do garimpo em áreas restritas. — Vamos ficar aqui. Estamos organizados e temos direito ao garimpo. O ministro esteve aqui e é impossível impedir o garimpo clandestino. Por isso, o governo vai regularizar tudo. Gostamos muito do que ele falou — disse Maguila. Governo deve permitir lavra fora da reserva em 2 meses O Ministério das Minas e Energia também já concluiu que é impossível conter a pressão dos garimpeiros. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) deve permitir, no prazo de dois meses, a extração de garimpo em áreas fora da reserva Roosevelt. No último dia 13, o ministério editou portaria com as regras prévias para a autorização da lavra. Embora não tenham estudos conclusivos sobre o assunto, os técnicos do ministério sustentam que as minas de diamante não estão circunscritas às reservas indígenas. — Há condições geológicas favoráveis à lavra de diamantes na região, não só na reserva — diz Walter Arcoverde, diretor de Fiscalização do DNPM. Com esta sugestão, o governo espera manter os garimpeiros longe da reserva até estabelecer regras de exploração de minério em áreas indígenas. Os garimpeiros foram expulsos da área, mas os índios continuam extraindo diamantes na reserva. A PF também afirma que é inviável impedir o garimpo em Roosevelt. — O problema persistirá enquanto a exploração de minério em terras indígenas não for regulamentada — afirma o superintendente da PF em Rondônia, Marco Moura. Para Márcio Santilli, ex-presidente da Funai e diretor do Instituto Socioambiental (ISA), a regulamentação não basta: é preciso desmantelar o esquema de garimpo ilegal nas terras dos índios: — É fundamental regulamentar, mas o governo tem de controlar, senão o Estado continuará alimentando o contrabando. Tem de desvendar a máfia que explora esses miseráveis, índios e garimpeiros, que brigam por migalhas. (J.C.)


O Globo, 25/04/2004, p. 16 (País)
Mineração em Terras Indígenas

Áreas Protegidas Relacionadas

  • TI Roosevelt
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.