Brancos "invadem" reserva indígena

Correio do Estado-Campo Grande-MS - 04/05/2003
Polícia Federal investiga vários casamentos formalizados com índias com o único objetivo de se utilizarem as terras pertencentes às aldeias


A presença de brancos nas aldeias de Dourados já está preocupando a comunidade indígena e as próprias autoridades. São casamentos feitos entre o homem branco e a mulher índia apenas por interesse nas terras das aldeias. O marido vai morar na reserva, utiliza a área da família da mulher para plantar soja e não paga o dono da terra.
Além disso, um outro fato que também está preocupando as autoridades é o agrotóxico utilizado na lavoura de soja cultivada pelo homem branco. Já foram diagnosticados casos de problemas de pele em consequência do veneno. A providência deverá ser a expulsão daqueles que são considerados intrusos e aproveitadores entre os índios.
Durante a visita do presidente da Funai, Eduardo Aguiar de Almeida, a Dourados, um grupo de índios denunciou a "invasão" dos brancos e pediu apoio do órgão. O chefe da Funai em Dourados, Jonas Rosa, disse que já foram feitas algumas reuniões a respeito da questão, principalmente pelo fato de que esse tipo de relacionamento não é permitido, ou seja, pela cultura indígena o homem branco que casar com uma índia tem que tirá-la da aldeia. Quando a mulher é branca e o homem é índio, existe permissão para morarem na reserva.
O delegado da Polícia Federal Lásaro Moreira da Silva informou que já existem diversas reclamações formalizadas nesse sentido e agora, com uma determinação da Funai, foi pedido com urgência ao chefe de posto da reserva um levantamento sobre o número de brancos nas duas aldeias locais. O delegado disse que, a partir da identificação, eles serão intimados e, com base no Estatuto do Índio, serão "convidados" a deixar a área indígena.
Um dos que denunciaram o problema ao presidente da Funai disse ontem na redação da sucursal do Correio do Estado que já está recebendo ameaças dentro da aldeia. Ele iria procurar o Ministério Público Federal para informar sobre os fatos e pedir segurança, já que entende que existem muitos interesses em jogo. Esse índio comentou que a comunidade está ficando sem suas terras em função dessa "invasão" e disse que muitas famílias estão deixando as aldeias de Dourados justamente por falta de área para plantar.

Arrendamentos
O delegado Lásaro Moreira lembrou que no ano passado foi iniciado um trabalho visando coibir o arrendamento de terras dentro da reserva. Houve resistência por parte dos arrendatários, pelo fato de que a soja já havia sido plantada. Um acordo foi feito para que a partir da colheita essa cultura não fosse mais realizada. Nos próximos dias a Polícia Federal deverá se reunir com os líderes das duas aldeias para reafirmar que não será permitido mais o plantio.
Lásaro contou que além de o arrendatário utilizar as terras indígenas e pagar uma quantia irrisória pelo arrendamento (quando paga), há a preocupação com a questão da saúde. A soja necessita de agrotóxico e por isso não pode ser cultivada próximo a residências, o que seria o caso de todas as lavouras dentro da reserva. O delegado revelou ainda que a Fundação Nacional de Saúde em Dourados já registrou casos de problemas de pele provocados pelo veneno aplicado na soja.
PIB:Mato Grosso do Sul

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