Índios superam diferenças em Rio Preto da Eva

A Crítica (AM) - http://acritica.uol.com.br/ - 29/05/2009
Comunidade Indígena Beija Flor, localizada na zona urbana de Rio Preto da Eva, possui várias etnias que conciliam tradições com a dura realidade urbana


Na zona urbana do município de Rio Preto da Eva, no bairro Monte Castelo, em uma área de 42 hectares de mata preservada, está a Associação Etnoambiental Beija Flor. Nela vivem hoje, divididos em quatro comunidades (Beija Flor I, II, III e IV), cerca de 400 indígenas das etnias Saterê Mawé, Tukano, Dessana, Twiuca, Apurinã, Baniwa, Araras e Marubo, tentando encontrar o equilíbrio entre desenvolvimento social e preservação das tradições de seus povos.

A comunidade foi fundada há 18 anos, pelo norte-americano Richard Melnyk, com objetivo de resgatar as tradições dos indígenas de Rio Preto da Eva. Após sua morte, um de seus empregados assumiu as terras e, desde então, já sofreu várias tentativas de desalojamento. "Nossa maior conquista aconteceu em 1o de outubro de 2008, com o apoio da Prefeitura, que sancionou um Decreto Lei, dando posse a quem na terra vive", conta o tuxaua Geral da comunidade, Fausto de Andrade.

Ele explica que o fato de viverem na zona urbana do município, a apenas 80 quilômetros de Manaus, tem suas vantagens. "Isso nos possibilita tanto a reivindicação mais acessível dos nossos direitos junto aos órgãos competentes como também o escoamento dos nossos produtos artesanais", diz.


Resgate cultural

Dentre os trabalhos desenvolvidos pela Associação, de acordo com Fausto, está o de resgate cultural de povos indígenas que vivem na área urbana de Rio Preto da Eva e ao longo da AM-010. "Fazemos o reconhecimento e o mapeamento desses povos, tentando resgatar suas origens e levar a eles um pouco dos benefícios".

Vivendo como seus antepassados viviam há milhares de anos, da caça, pesca e da agricultura de subsistência, o artesanato multicultural destaca-se como a principal atividade que gera renda para os moradores da Associação Beija Flor.

"Temos um artesanato que mistura a influência de várias etnias, e que já foi exportado para lugares como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. A renda é dividida com todas as famílias que ajudam na produção. O que falta para nós agora é um local dentro da cidade para expor esse trabalho, mas isso já está sendo articulado, junto a Prefeitura do município. Um dos possíveis lugares é no complexo da Igreja do Cavaco, um belo mirante situado na entrada de Rio Preto".

Aos 59 anos de idade, dona Isabel Campos, da etnia Dessana, dedica-se hoje exclusivamente à confecção de peças artesanais feitas de sementes de árvores nativas e penas. Quando vivia junto ao seu povo, seus principais afazeres resumiam-se ao roçado da mandioca e à confecção da farinha. Em contato com outras etnias, foi aprendendo outras formas de artesanato, além daqueles fabricado por sua etnia.

"Faço peças de todos os tipos e cada vez aprendo algo novo. As peças mais procuradas são os colares e os brincos. Gosto muito de viver aqui na comunidade, apesar de estar próximo a cidade, prefiro a floresta e quase não saio daqui".


Integração com a comunidade

Um dos programas desenvolvidos dentro da Comunidade Beija Flor, em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é o "Um dia na aldeia". Nele, alunos da área de Humanas, que possuem na grade curricular disciplinas como Sociologia e Antropologia Cultural, tem a oportunidade de conhecer um pouco mais da cultura e do modo de vida desses povos.

Geralmente o dia escolhido é um final de semana, onde a turma pode passar um dia inteiro imersa nas tradições e costumes de povos indígenas de diversas etnias. Passeios guiados na floresta, com a explicação sobre o sistema de localização, bem como danças e cânticos, pinturas na pele e artesanato são algumas das atividades incluídas na programação.

Para o tuxaua Fausto, essa parceria com as universidades e outros órgãos é muito importante, pois proporciona uma troca com a comunidade e ainda os ajuda a reforçar as tradições.

"Estamos sempre abertos a parcerias boas como essa com a Ufam que já tem muitos anos. É interessante porque ao mostrar nossos costumes aos outros, nós reforçamos a nossa identidade", diz o tuxaua.



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PIB:Tapajós/Madeira

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