Petrobrás pode ter sócio coreano em refinaria

OESP, Economia, p. B10 - 22/10/2012
Petrobrás pode ter sócio coreano em refinaria
Avançam negociações com o grupo GC Caltex para construir a unidade de refino Premium 2, cujas obras estão atrasadas

SERGIO TORRES/ RIO

Emissários da empresa sul-coreana GC Caltex, vistoriaram no último dia 3 o terreno abandonado em que o governo federal planeja construir a refinaria Premium 2, nos municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, região metropolitana de Fortaleza.
A possibilidade de uma parceria com a companhia da Coreia do Sul - detentora de 30% do mercado de refino do país asiático - está sendo estudada pelo corpo técnico da Petrobrás, em atendimento a orientação da presidente da companhia, Maria das Graças Foster.
O projeto da Premium 2 empacou. A parceria tecnológica e financeira com uma empresa internacional detentora de experiência comprovada no setor de refino é uma das saídas em estudo pela Petrobrás para levar o projeto adiante.
O atraso no início da construção da refinaria já é de três anos. Em agosto de 2008, os governos federal e cearense definiram que no ano seguinte o terreno, de quase 2.000 hectares, começaria a ser desmatado e terraplanado.
Nada disso aconteceu, embora em dezembro de 2010 o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha visitado a área, em solenidade para o lançamento da pedra fundamental. Passados 22 meses, nem sequer cercado o terreno está. Foi na condição de mega terreno baldio que os sul-coreanos verificaram o espaço destinado à refinaria.
Aproximação. O início de entendimentos entre a GC Caltex e a Petrobrás foi proposto pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), preocupado com as notícias de que as refinarias nordestinas (Premium 2 e Premium 1, no Maranhão) podem não ser construídas em razão do ajuste orçamentário feito pela petroleira.
A Petrobrás nega a intenção de abandonar os projetos de refino, apesar da crise inédita. No segundo trimestre deste ano, a empresa registrou um prejuízo de R$ 1,34 bilhão.
O temor de que a Premium 2 não saia do papel levou Gomes a procurar a presidente da Petrobrás. Em 11 de julho, Graça Foster assegurou a ele que o projeto da refinaria do Ceará está mantido, mas autorizou-o a tentar encontrar um parceiro para o empreendimento.
"Falei com a presidente Graça. A Petrobrás me autorizou a procurar um parceiro. A Petrobrás nunca fez refinaria. A última que fez tem 34 anos e o projeto era todo importado. Procurei a Coreia do Sul, foi a primeira coisa que fiz", disse o governador, em entrevista ao Estado.
A última refinaria feita pela Petrobrás foi a Revap, inaugurada em 1980 em São José dos Campos, interior de São Paulo.
Gomes afirmou, em agosto, ter saído da reunião na Petrobrás, "convencido" da necessidade de conseguir um parceiro para a refinaria.
"A Petrobrás vive um período de grandes investimentos. Ninguém tem todo o capital do mundo. Há a necessidade de um parceiro para capital, tecnologia e engenharia de refino", disse o governador.
Viagens. Em setembro, Gomes foi à Coreia do Sul. No dia 10, reuniu-se com a diretoria e, em seguida, visitou a refinaria da GC Caltex nos arredores da capital Seul. A empresa importa petróleo cru da Rússia e do Oriente Médio. Sua capacidade de produção é de 775 mil barris por dia.
O projeto da refinaria do Ceará prevê a produção de 300 mil barris diários, a partir de 2018.
No início do mês, foi a vez dos sul-coreanos visitarem o Brasil. O vice-presidente de Refino, Taio Kim, e o gerente de Refino, Ryan Nam, chegaram a Fortaleza no dia 1o.
No dia seguinte, houve uma primeira reunião deles com a Petrobrás. A convite de Cid Gomes, o encontro aconteceu no Palácio da Abolição, sede do governo cearense.
O governador não participou das discussões, mantidas a porta fechadas pelos emissários das duas companhias. Representaram a Petrobrás a gerente executiva da área tributária da Diretoria Financeira, Maria Alice Deschamps Cavalcanti; o gerente executivo de Abastecimento Corporativo, Luiz Alberto Gaspar Domingues; e o gerente-geral de Planejamento Corporativo da Diretoria de Abastecimento, Arlindo Moreira Filho.
Naquela noite, o governador jantou com os executivos sul-coreanos no restaurante Vojnilô, especializado em frutos do mar. Ao amanhecer do dia 2, Kim e Nam foram levados por funcionários estaduais à área próxima ao porto de Pecém onde deverá ser instalada a refinaria.
O secretário estadual de Infraestrutura, Adail Fontenele, disse ao Estado que o governo cearense ainda não recebeu informações sobre os resultados dos entendimentos entre a Petrobras e a GC Caltex.
"O governador agilizou os contatos, botou as empresas em contato. Agora é um entendimento empresarial", afirmou. /COLABOROU SABRINA VALLE


Obra não pode começar por causa de litígio com índios
Comprada pelo governo do Ceará, o terreno destinado à refinaria é reivindicado por lideranças dos Anacé

Além das dificuldades financeiras e da falta de conhecimento técnico e experiência, um dos grandes problemas que afeta o projeto da refinaria Premium 2, no Ceará, é que o terreno está sob litígio. Índios da tribo Anacé reivindicam a área. Sem autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai), a Petrobrás não pode começar a trabalhar.

Sem saber da pretensão indígena, a administração Cid Gomes adquiriu por R$ 126 milhões a área de 1.940 hectares, na periferia do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, a cerca de 80 km de Fortaleza.

Embora nenhuma família indígena more na área, os Anacés argumentam que a região apresenta resquícios de tradições seculares, tendo, portanto, relevância histórica. Sem o aval da Funai, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente não pode liberar a licença de instalação para a Premium 2, o que impossibilita a Petrobrás de avançar na obra. Os Anacés reivindicam uma terra próxima para instalar uma reserva. Pelo menos dois terrenos já lhes foram oferecidos, mas ainda não houve respostas.

O impasse já empurra o início da obra para, no mínimo, o ano que vem, isso no caso de a Funai rever a decisão de não conceder o licenciamento. Não há mais tempo para a terraplanagem começar até dezembro deste ano.

A Petrobrás informou que não se manifestará oficialmente sobre a refinaria. Graça Foster disse na terça-feira passada que o projeto da Premium 2 continua valendo. O Estado apurou que a petroleira poderá rever os projetos das quatro refinarias (além das Premium, o Comperj, no Riode Janeiro, e a Abreu e Lima, em Pernambuco) caso não haja reajuste do preço dos combustíveis até o início do próximo ano.

"Existem movimentos nos Estados e, agora, da Petrobrás, no sentido de trazer parceiros. Não exatamente por contas dos investimentos, mas trazer parceiros que conheçam muito bem projetos de refinaria, como empresas chinesas, coreanas. São aprendizados que serão bastante úteis para nós, importantes. Se houver um parceiro relevante que tenha recursos e interesse no País, em se associar à Petrobrás, por quê não?", perguntou a presidente.

A respeito da possibilidade de aliança com os sul-coreanos na Premium 2, Graça afirmou que existe um "deadline": "a urgência da Petrobrás, que precisa das refinarias".

"A última refinaria data de 1980 e não era um projeto da Petrobrás. Se chegam parceiros que, além dos recursos, conhecem, sabem e fizeram 200, por que não?" / S.R.

OESP, 22/10/2012, Economia, p. B10

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,petrobras-pode-ter-socio-coreano-em-refinaria-,948968,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,obra-nao-pode-comecar-por-causa-de-litigio-com-indios-,948972,0.htm
Energia:Petróleo

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