Cinta-larga diz que garimpeiros foram "massacrados" em Rondônia

Folha de S. Paulo-São Paulo-SP - 26/04/2004
O gerente do garimpo da terra indígena Roosevelt, em Espigão d'Oeste (534 km de Porto Velho), o índio Pandere Cinta Larga, 30, disse que foi massacre o assassinato de 29 garimpeiros por índios guerreiros ocorridos dentro da área no último dia 7, mas negou ter participado da chacina.

Ele afirmou que outros 35 garimpeiros, tidos como desaparecidos após o massacre, permanecem dentro da terra indígena em busca de diamantes contra a vontade dos cintas-largas.

Os índios guerreiros, segundo o gerente do garimpo, ainda não descobriram o local em que os homens trabalham. Pandere não falou sobre a possibilidade de um novo massacre. "Preciso conversar com o Pio [Cinta Larga, líder da aldeia] antes de dar a nossa versão", explicou o índio.

Na versão do gerente, cerca de 200 garimpeiros, entre eles os 29 assassinados, tinham invadido a terra indígena no final de março em busca de diamantes.

"O Baiano Doido [Francisco das Chagas Alves Saraiva, 40, um dos morto pelos índios] disse que só morto sairia da área", afirmou Pandere. Saraiva teria sido o primeiro a morrer. "Ele xingou os guerreiros de vagabundos e preguiçosos", quando foi surpreendido no garimpo, disse o gerente.

Dias antes do massacre, os garimpeiros, segundo os índios, rasgaram o estofado da camionete de um líder dos cintas-largas, aumentando o clima de tensão.

A Agência Folha conversou com Pandere na tarde de domingo, após uma partida de futebol entre índios e moradores da Vila Canaã, próxima à aldeia. O campo de futebol está situado a 2 km da entrada da terra cinta-larga.

A reserva fica a 120 km de Espigão d'Oeste, cidade mais próxima. A estrada que dá acesso é cheia de atoleiros.

Com o rosto e os braços pintados, Pandere, usando chuteiras e uniforme com o símbolo da Funai (Fundação Nacional do Índio), fez um gol no empate de 2 a 2.

A pintura no rosto não seria uma estratégia para assustar os jogadores adversários. "Eu me pintei porque iria a uma reunião na aldeia do João Bravo [um dos líderes dos cintas-largas]", disse Pandere. O encontro foi adiado.

Armas

Na gerência do garimpo, Pandere compra combustível para alimentar as dragas usadas na extração de diamantes. Ele ainda coordena a venda das pedras para contrabandistas. Apesar de manter negócios com os contrabandistas, o gerente nega que os índios recebam armamento deles. "Você compra armas em qualquer cidade. Basta ter dinheiro."

Os garimpeiros foram mortos a tiros e não apenas por flechas e lanças, segundo o IML (Instituto Médico Legal) de Porto Velho que ainda não divulgou laudo onde podem constar os calibres das armas. "A nossa intenção não era matar", afirmou o gerente. Ele disse que os guerreiros tinham ido "prender" os garimpeiros e entregá-los à Funai.

Três homens foram mortos, segundo Pandere, porque o garimpeiro Baiano Doido (o primeiro a morrer) começou a xingar os guerreiros. Outros 26 tiveram o mesmo fim pois, mesmo amarrados e levados para outro local, ameaçaram os índios, afirmou o gerente.

Pandere disse ainda que os homens mortos invadiram a terra indígena.
O Sindicato dos Garimpeiros de Espigão d'Oeste afirma que o pessoal recebeu autorização dos cintas-largas para procurar uma jazida de diamante na área.
PIB:Rondônia

Áreas Protegidas Relacionadas

  • TI Roosevelt
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.