OESP, Metrópole, p. A29 - 08/09/2013
160 mil indígenas esperam por atendimento
Cacique afirma que, em algumas regiões, não há médico há dois anos; dificuldade de acesso é um dos problemas
RENATA MAGNENTI
ESPECIAL PARA O ESTADO
MANAUS
As tribos que moram no Amazonas esperam pelos profissionais selecionados pelo programa Mais Médicos. Há 160 mil indígenas nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) do Estado, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, além de lidar com a falta de infraestrutura, os profissionais destacados podem se deparar com outro problema: a dificuldade de acesso às aldeias, segundo as lideranças locais.
No sul do Estado, por exemplo, há pelo menos 40 pessoas com malária, segundo o cacique e coordenador da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus, José Bajaga Apurinã. Ele garante que a região, que reúne cerca de 8 mil indígenas, não recebe médicos há dois anos.
"Eles não têm como ir para a cidade e os médicos que estão nas zonas urbanas não chegam às localidades, pois não há barco, combustível, materiais", diz o cacique. Segundo ele, as comunidades são atendidas apenas por agentes de saúde e, rara vezes, por técnicos e enfermeiros.
Apurinã conta que há dois médicos e quatro dentistas para atender os indígenas, mas eles se recusam a entrar na mata sem infraestrutura. Segundo ele, dois profissionais do programa federal virão à região do Médio Purus (oeste do Estado). "Mas sem estrutura, continuaremos do mesmo jeito", diz.
A situação também é crítica no Vale do Javari, perto da divisa com o Peru. Presidente da Organização Geral Mayoruna, Raimundo Mean diz que, ali, os indígenas são diagnosticados por agentes de saúde. "Eles não são médicos, não fazem exames. Com base em sintomas similares em vários indígenas, o diagnóstico é feito por identificação. Perto de onde moro, nunca chegou médico", reclama.
Dezesseis Dseis foram selecionados por médicos participantes do programa federal - 38 com formação do Brasil e 42 diplomados no exterior. O governo não divulgou a quantidade de médicos em cada Dsei no Amazonas. Ao todo, 1.096 profissionais confirmaram a participação no programa e ocuparão vagas em 454 municípios e 16 distritos de saúde indígena.
Demanda pede mais 200 médicos
Segundo o Ministério da Saúde, 256 médicos atendem a população indígena em todas as aldeias brasileiras. Para a demanda atual, porém, seriam necessários mais 200 profissionais, afirma o secretário especial de Saúde Indígena, Antônio Alves.
O governo diz ainda que as equipes multidisciplinares de saúde indígena têm suporte de transporte. Quanto ao fornecimento de remédios, a estratégia estaria sendo aprimorada, com a implementação do sistema de monitoramento da compra e distribuição.
Aumento da cobertura vacinal e controle de vetores também são iniciativas listadas pela pasta.
OESP, 08/09/2013, Metrópole, p. A29
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,160-mil-indigenas-esperam-por-atendimento-,1072469,0.htm
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