Operação prende mais sete madeireiros peruanos

A Tribuna-Rio Branco-AC - 14/10/2004
Sete peruanos, que não tiveram os nomes divulgados, foram presos extraindo madeiras irregularmente, nesta terça-feira, 12, numa operação do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento, em terras dos índios axanincas.

Os invasores, flagrados por tropas federais, já haviam retirado ao menos 150 metros cúbicos de madeira da espécie aguano, numa faixa de terra entre o Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) e a reserva indígena.

A região está próxima ao marco fronteiriço 14, a 800 quilômetros de Rio Branco e a pouco mais de mil metros da fronteira com o Peru, no Vale do Juruá. Foi quase nesta mesma localidade que há duas semanas cinco peruanos também tinham sido presos retirando mogno.

Na operação desta terça-feira, um helicóptero do Exército brasileiro fez vôos pairados sobre pontos estratégicos da mata, em cerco aos peruanos. Nesses pontos, foram distribuídos militares, que desceram por meio de rapel, a técnica que utiliza cordas para o desembarque de tropas. Infiltrados na selva, eles encurralaram os invasores.

Nenhum dos presos tinha documento. Foram levados para Cruzeiro do Sul (640 quilômetros de Rio Branco) e indiciados por contrabando de madeira e porte ilegal de arma.

O governo brasileiro comunicou as prisões à Embaixada do Peru em Brasília e existe a possibilidade de que os presos sejam removidos para uma penitenciária no Distrito Federal.

No Vale do Juruá, o Ibama informou ter detectado ao menos oito pontos considerados críticos, onde o índice da devastação realizada por madeireiros peruanos é altíssimo.

O gerente-executivo do Ibama no Acre, Anselmo Forneck, disse que o Plano de Combate ao Desmatamento, a princípio, não contemplaria o Juruá, porque a região não está no arco do desflorestamento, "mas os constantes conflitos entre índios axanincas e invasores peruanos, ocorridos em detrimento à exploração florestal, nos obrigaram a mudar de estratégia". No próximo domingo, uma equipe do Ibama se deslocará para as terras dos axanincas para discutir com a comunidade local um planejamento estratégico para a região.

Prejuízo é milionário na região

Em apenas duas semanas, a extração de pouco mais de 1,3 mil metros cúbicos de madeira na região do PNSD e dos axanincas fez a União sofrer perda de R$ 5 milhões. O prejuízo é dez vezes maior, se contabilizados os contrabandos que deram certo, pelos madeireiros invasores.

Segundo o Ibama, é impossível transportar a madeira derrubada apreendida para cidades acreanas, por conta da mata densa, da ausência de rodovias e da inviabilidade via fluvial.

O mesmo, no entanto, não acontece no lado peruano, onde uma rodovia pavimentada na divisa do Peru com o Brasil facilita o escoamento para a cidade de Pucalpa, de onde posteriormente pode ser exportada para os mercados asiático e europeu pelo porto de Lima.

"É muito dinheiro, mas também é uma forma de descapitalizar os empresários invasores", afirma Forneck. A madeira apreendida é implodida no local pelas Forças Armadas, que utiliza bananas de dinamite instaladas nas toras.

Com esse procedimento, o Brasil tenta mostrar aos peruanos que a invasão a suas terras não é um "bom negócio". O País está gastando R$ 18 milhões com o Plano de Combate ao Desmatamento, cuja verba foi liberada no início deste ano.

Brasil irá propor "zona tampão"

Para Anselmo Forneck, falta interesse do governo peruano de combater o problema. Segundo ele, há uma semana, a própria imprensa peruana havia levantado o problema à opinião pública.

Um dos principais periódicos de Lima, o Jornal do Comércio, destacou em primeira página a lentidão das autoridades peruanas para estabelecer políticas de controle sobre suas fronteiras, principalmente, nos limites com o Acre.

Há pelo menos 70 anos, os marcos fronteiriços não estão reabertos e, para completar, o governo do Peru resolveu lotear as florestas, do seu lado, para madeireiras peruanas. São elas que invadem o Brasil.

Alguns acampamentos chegam a ser instalados dentro de território peruano enquanto que as explorações ocorrem a uma distância de três ou quatro quilômetros já em terras brasileiras.

A solução poderá vir numa proposta que o governo brasileiro fará ao Peru, quanto à criação de uma "zona tampão" em seu do lado, que funcionará como área de preservação ambiental, semelhante às reservas que já existem na Amazônia do Brasil.

"Isso inviabilizaria a invasão, mas o Peru deverá estar disposto a indenizar aqueles que já estão assentados ou remanejá-los para outra região", ressalta o gerente do Ibama no Acre.
PIB:Acre

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