Trabalho escravo na fronteira do Peru

Página 20-Rio Branco-AC - 20/10/2004
Ibama irá denunciar condições subumanas a que são submetidos os trabalhadores das madeireiras peruanas na fronteira

Forneck informará à ONU
situação dos trabalhadores



O Ibama encaminhará aos organismos que cuidam das relações internacionais do Brasil relatório denunciando a utilização de mão-de-obra humana em condições análogas à escravidão na extração de madeira nobre na reserva Ashaninka, na fronteira entre Acre e Peru. A Organização das Nações Unidas (ONU) deve tomar conhecimento do problema do crime ambiental e invasão do território nacional promovidos pelos peruanos durante a extração ilegal de madeira.

A maioria dos peruanos presos semana passada são trabalhadores pobres e estavam feridos por causa do trabalho duro na mata. Apenas um foi identificado como cunhado do dono de uma madeireira do departamento de Yuacaiali, demonstrando melhor condição social que os demais.

De acordo com o superintendente do Ibama, Anselmo Forneck, os operários carregam pranchas de 80 quilos nas costas por cerca de cinco quilômetros até o local de transporte para a serraria. O serviço pesado provocou ferimentos que foram curados pelo médico que acompanha a equipe brasileira na operação de desmonte da presença de madeireiras estrangeiras na terra dos Ashaninka. Integram a equipe homens do Ibama, Exército, Polícia Federal e Funai.

Este ano, pelo menos quatro acampamentos já foram identificados e oito pessoas presas pela extração ilegal de mogno e cedro vermelho, abundantes na região e de alto valor comercial no mercado americano e europeu. A Polícia Federal rastreia a madeira para saber quem compra e onde é vendida. "O Greenpeace acredita que a grande parte vai para os Estados Unidos", diz Forneck. A idéia é promover um desmonte em toda a cadeia de extração e comércio para se evitar novas invasões no futuro. Numa apuração inicial, já se descobriu três empresas peruanas e multinacionais atuando na região - mas o número pode se muito maior.

Na primeira etapa desse processo, o Ibama destrói a madeira extraída pelos peruanos, serrando-a várias vezes de maneira que fique inútil ao comércio. A medida vem sendo tomada por falta de opção: "não há como transportar essa madeira pelo lado brasileiro e se ela ficar lá, rapidinho vai parar no Peru. Eles têm de levar pelo menos esse prejuízo comercial", disse.

ENCONTRO - O Ibama realizou recente encontro com líderes Ashaninka para definir as ações de proteção da área. O órgão implantará um posto de fiscalização em Marechal Thaumaturgo, onde Exército e PF já estão presentes, e realizará sobrevôos regulares na região de fronteira, além de agilizar o avivamento dos marcos que delimitam Brasil e Peru. Índios e fiscais serão equipados com aparelhos de localização via satélite de última geração, de maneira que novos pontos de extração possam ser mapeados e mais rapidamente localizados pelo patrulhamento aéreo.

Loteamento de Fujimori gerou invasão ao Acre

O governo Fujimori promoveu, há anos, um loteamento de extensas áreas para extração madeireira no Peru, na região próxima da fronteira do Brasil. Empresas peruanas e de capital internacional fizeram contratos de compra e venda, mas as reservas nobres do Peru começaram a diminuir.

A redução do potencial madeireiro se acelerou nos dois últimos anos e as empresas não tiveram dúvidas: instalaram acampamentos até dez quilômetros dentro do território brasileiro, serrando madeira com mão-de-obra barata para conseguir cumprir os acordos firmados com os compradores do exterior.

Essas invasões, no entanto, não são recentes. Segundo Anselmo Forneck, remontam aos tempos em que o sistema ambiental era gerido pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), há cerca de 20 anos. Mesmo localizando os acampamentos dos madeireiros, pouco era feito pelos responsáveis pela fiscalização. "Hoje, não. Os homens descem de rapel do helicóptero, passam três dias no local e fazem o trabalho necessário", explicou Forneck.
PIB:Acre

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