Quatro cursos implantados na Uneal beneficiam 80 alunos de diversas etnias.
"Estamos numa luta em sua fase inicial. A graduação superior é apenas uma das etapas. Hoje temos índios que cursam licenciaturas normais, fora do custeio do programa em diversas instituições de ensino. Estamos criando mecanismos para a efetivação da educação indígena, em suas várias etapas, no Estado de Alagoas. Para tanto, temos que trabalhar junto aos governantes".
A declaração é do estudante Cícero Pereira dos Santos. Ela é da primeira turma do curso de licenciatura em História, voltado para professores indígenas implantado em Alagoas por meio do Programa de Licenciatura Intercultural Indígena (Prolind), uma iniciativa do Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), em âmbito nacional. No Estado, o programa é desenvolvido pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal)
Na comunidade Jiripankó, onde mora e trabalha o estudante Cícero Pereira, existe a única escola com Ensino Médio, voltada aos índios, com cerca de 540 alunos. Segundo ele, até o 5o ano, "o conselho da comunidade faz questão que todos os professores sejam indígenas. O objetivo é fortalecer a identidade e a luta dos índios", disse.
Hoje, os professores que lecionam em escolas indígenas são contratados pelo Estado como monitores de educação. O estudante de História não pretende parar após a conclusão da sua licenciatura. "Além de garantir meu sustento, quero contribuir para o meu povo de uma forma politizada. Quero continuar enxergando a minha realidade de uma forma diferente e oportunizar para que outros [índios] também a tenham", falou.
Para o estudante, o Governo do Estado, por meio da Uneal, assumiu um compromisso de mudança, responsabilidade e respeito ao implantar a educação superior indígena. "Essa licenciatura é uma construção política para abrir portas para nossas gerações futuras. O Estado brasileiro nos deve isso. Entendemos a iniciativa como deixar para trás um passado de sofrimentos e lamentações para começar a despertar o senso de uma nova realidade" concluiu.
Na Uneal, o programa foi implantado em 2010, quando 80 professores de escolas indígenas sem formação superior foram aprovados num processo seletivo. Foram abertas inscrições para as licenciaturas de Letras, História, Pedagogia e Ciências Biológicas.
As aulas acontecem sempre às sextas-feiras e aos sábados, no Campus III, em Palmeira dos Índios, cidade que possui a maior população de índios em Alagoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica (IBGE) e também da Fundação Nacional de Assistência ao Índio (Funai). Para a implantação das licenciaturas na universidade, foi necessária a criação do Prolind.
AMPLIAÇÃO
A educação superior indígena beneficia hoje professores 10 comunidades indígenas em Alagoas. A Wassu-Cocal, de Joaquim Gomes; Jiripancó, de Pariconha; Koiupanká, de Inhapi; Kariri-Xocó, de Porto Real do Colégio; Karapotó-Plak-Ô, de São Sebastião; Tingui-Botó, de Feira Grande e Xucuru-Kariri; Mata da Cafurna, Serra do Amaro e Boqueirão, Serra do Capela e Fazenda Canto, todas em Palmeira dos Índios.
Segundo o coordenador do curso de História no Campus III, em Palmeira dos Índios, Prof. José Adelson Lopes Peixoto, as poucas comunidades indígenas que não possuem escolas públicas serão beneficiadas, como as localizadas na cidade de Palmeira dos Índios, com Etnia Xucuru-Kariri, com as etnias localizadas na Cafurna de Baixo, Coité e no Riacho Fundo; Aconã, em Traipu; Katokinn e Karuazú, em Pariconha; Kalankó, em Água Branca; Karapotó Tabuado, em São Sebastião. "Assim, todas as comunidades indígenas de Alagoas serão assistidas pelo programa", explicou.
A seleção será mais abrangente na próxima etapa e envolverá a análise de currículos e entrevistas. Para o projeto em vigor, os interessados tinham que cumprir três pré-requisitos: ser professor de escola indígena, ser índio e residir na aldeia, o que incluía, por exemplo, a emissão de uma Carta de Anuência assinada pelo cacique, pajé e outros integrantes da respectiva comunidade de origem do professor indígena.
A coordenadora do curso de Letras no Campus III e também do projeto, Maria Margarete de Paiva, explica que, na nova etapa no Prolind, os recursos enviados para custeio serão ampliados pelo MEC. Ela disse ainda que o Fundo Nacional para Desenvolvimento da Educação (FNDE) repassa mensalmente R$ 380 por cada aluno, valor usado para pagamento de professores e custeio do deslocamento dos estudantes para o Campus da Uneal em Palmeira dos Índios.
De acordo com o professor José Adelson Lopes Peixoto, das vagas solicitadas pela Uneal, 117 no total, 80 foram aprovadas pelo MEC. "Para o próximo edital, trabalhamos para ampliar as vagas para 120 e também os recursos anuais para a faixa de R$ 720 mil", frisou o professor.
OUTROS PROJETOS
Hoje existem, no âmbito da Uneal, dois editais com a finalidade de beneficiar o ensino superior voltado aos índios. Um deles é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência para a Diversidade, chamado de Pibid Diversidade, com objetivo de aperfeiçoar a formação inicial de professores para o exercício da docência nas escolas indígenas e do campo.
O reitor da Uneal, professor Jairo Campos, explicou que o Pibid Diversidade concede bolsas a alunos matriculados nessas instituições, com a finalidade de desenvolverem atividades didático-pedagógicas também em escolas quilombolas, extrativistas e ribeirinhas.
Na opinião do gestor, o Pibid Diversidade vai agregar valor ao projeto como um todo. Isso porque, o Edital no 66/2013 concederá até três mil bolsas a alunos de cursos de licenciatura nas áreas Intercultural Indígena e Educação do Campo e a professores envolvidos na sua orientação e supervisão, bem como recursos de custeio para apoiar suas respectivas atividades.
O outro projeto envolvendo a formação indígena se dará por meio do edital lançado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do MEC, com a finalidade de garantir a oferta de educação escolar indígena de qualidade.
"A Uneal já está se preparando para responder ao edital. É um prazer para nós sabermos que a universidade saiu na frente quando estabeleceu esse público como um dos focos e capitanear uma formação pioneira que gera emprego e renda em nosso Estado", concluiu o gestor.
http://www.uneal.edu.br/sala-de-imprensa/noticias/formacao-superior-indigena-ganha-destaque-em-alagoas
PIB:Nordeste
Áreas Protegidas Relacionadas
- TI Kariri-Xokó
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