Exposição no Recife revela cotidiano da tribo indígena isolada 'Zo'é'

G1- http://g1.globo.com - 05/05/2014
O Capibaribe Centro de Imagem (CCI) recebe, de 8 de maio a 2 de junho, a exposição "Zo'é", do fotógrafo paraense Rogério Assis. A mostra traz imagens de duas visitas do autor à tribo indígena isolada da Amazônia que tem esse nome. Os registros foram separados por 20 anos - o primeiro contato dele com os índios foi em 1989, e o segundo em 2009 - e ocorridos em situações bem diversas. "A primeira aconteceu por acaso e foi o primeiro registro oficial da etnia", conta Assis. A segunda já vislumbrava o livro, que é lançado com a exposição e também leva o nome da tribo, que significa "nós", em uma língua derivada do tupi.

O fotógrafo conheceu o povo quando trabalhava para a Funai na região e a fundação recebeu um chamado urgente, porque uma gripe forte assolava a tribo, após contato com missionários. "Foram 20 óbitos em menos de duas semanas. A missão pediu socorro da Funai e saímos correndo. Eram 146 indígenas naquela época", lembra. "Eu trabalhava numa produtora no Pará que tinha a Funai como cliente, mas nunca tinha trabalhado com tribos isoladas".

O impacto do que o viu foi forte o suficiente para que, durante as poucas horas em que ficou na tribo, gastasse cuidadosamente os quatro filmes que tinha na bolsa e, 20 anos depois, voltasse com bem mais tempo e negativos. "Costumo brincar dizendo que é o índio como Cabral encontrou quando chegou aqui, no seu habitat natural, com muito pouca influência do homem branco".

Entre os hábitos que mais impressionaram estão a relação com a natureza e a organização da sociedade. "Eles são nômades para preservar a terra, não saturá-la. Plantam, exploram e vão embora. Só voltam quando ela se recupera", diz, para completar: "As relações são bastante complexas, do nosso ponto de vista: mulheres têm vários maridos e vice-versa". Outra coisa que chamou bastante atenção do fotógrafo foi o fato de o coletivo estar sempre colocado como prioridade. "Ninguém se alimenta sozinho. O que se pesca não é para quem pescou, é para a comunidade. Mesmo aquele que andou três dias para caçar o porco leva o animal para a tribo, não come sozinho. As refeições são sempre feitas comunitariamente", detalha.

Na volta à região, 20 anos depois, Rogério Assis passou 25 dias no total e registrou o dia-a-dia dos índios com um esforço enorme para ser minimamente notado. "Me misturei com eles para esquecerem da minha presença, tentava me inserir. Fotografei sem interferência nenhuma no cotidiano deles, o material é documental mesmo, interferência zero", conta.

Em relação à visita anterior, ele notou diferenças positivas. "Melhoraram muito de saúde e continuam isolados. Tudo que foi inserido na cultura Zo'é pela Funai foi para facilitar, sem alterar as práticas", diz, se referindo a enxada, faca, linha de nylon para pesca, lanterna para segurança e rádio de comunicação para falar entre eles. Dentro da terra indígena, são 14 aldeias da etnia, hoje com 260 pessoas no total.

Desde 2010, com o projeto do livro aprovado pela Lei Rouanet, Assis tentou captar dinheiro para a publicação. "Nenhuma empresa quis colaborar. Diziam que não podiam associar as marcas a índios, diziam que o índio é mal visto pelos clientes", se impressiona. O fotógrafo se juntou então com a editora e, como se pode ver nas fotos que ilustram a matéria, tem mostrado que essas empresas estavam erradas. "Tem dado muito certo", finaliza.


Serviço
Exposição Zo'é
Capibaribe Centro da Imagem - Rua da Aurora, 533 - Boa Vista
Lançamento: 8 de maio, às 19h30
Em cartaz até 2 de junho
Mais informações: (81) 3032-2500



http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/05/exposicao-no-recife-revela-cotidiano-da-tribo-indigena-isolada-zoe.html
PIB:Amapá/Norte do Pará

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